O que o mundo está pensando sobre o desperdício: insights junto à indústria de transformação plástica
Paulo A. S. Chacon
Chefe em exercício da Divisão de Inovação Tecnológica do INT. Engenheiro químico com doutorado em Economia da Inovação pela UFRJ, mestrado em Química pela UFBA e pós-graduações em Petroquímica & Catálise e em Relações Internacionais. Nas empresas Polialden e Politeno, fundidas na atual Braskem, chefiou o setor de pesquisa em catálise na primeira, e foi um dos autores do Plano Diretor de P&D na segunda. No INT, atuou na área de plásticos, coordenando o Projeto PRUMO, unidade móvel de apoio tecnológico a indústrias do setor e nas áreas de Inovação e Propriedade Industrial.
Raphael de Souza Rodrigues
Estagiário da Divisão de Inovação Tecnológica do INT. Graduando em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com período sanduíche na University of Manchester, na Inglaterra. Realizou curso de extensão universitária em Propriedade Intelectual, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A sociedade contemporânea, muito mais que as que lhe antecederam, tem protagonizado mudanças em hábitos, rotinas e estilos de vida. Com efeito, alguns signos dessa mudança podem ser vistos tanto na transição da posse para uso, quanto no padrão de consumo; de menos para mais consciente. Nesse ritmo, produtos ambientalmente corretos – forma e conteúdo – tendem a pontuar em destaque.
Na leitura dos autores, a fidelização aos signos do desenvolvimento sustentável, ainda que hoje não se imponha como regra universal que a todos afete, o será muito em breve, e por uma única razão: não há escolhas. Entrementes, como se ajustarão alguns tipos de segmentos da indústria de transformação?
O artigo traz como debate essa questão. Diante de sua complexidade, o estudo se concentra na indústria de transformação plástica, ao mirar tipo, forma e demais condicionantes de envase e embalagem de produtos sob seus cuidados e ação.
CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
À medida que a população mundial aumenta, cresce a demanda por bens e produtos. A busca desenfreada por recursos naturais e as rotas de produção, em boa parte desalinhadas com práticas ditadas pelo instituto consagrado do desenvolvimento sustentável, estabelecem um sistema com mais incógnitas do que equações.
Um outro ponto, associado ao uso, está ligado à forma como esses produtos se apresentam ao consumidor. Composição adequada? Etiquetagem adequada? Embalagem adequada? Se, por um lado, estes aspectos remetem a preceitos da Green Chemistry, ou regras do Chemical Leasing, por outro, deixam à sociedade, cada vez mais urgente, a preocupação e ação que devem ser tomadas sobre a necessidade do consumo consciente e o modo como lhe dar origem, direção e sentido.
O documento Biobased Chemicals and Bioplastics: Finding the Right Policy Balance exemplifica iniciativas para o avanço do modelo de sustentabilidade (OECD,2014). A Holanda – passando em 2008 a taxar materiais de embalagens para reduzir sua utilização –, bem como os EUA e a União Europeia – criando rótulos especiais para materiais de base biológica para aumentar a conscientização ambiental – são importantes benchmarkings.
De acordo com relatório da ABIPLAST (2017), 31% dos transformados plásticos foram consumidos em 2015 sob a forma de embalagem em aplicações de menos de um ano de vida útil.
J. Desjardins, em Visualizing What the World Thinks About Waste (2018), aponta que 72% das embalagens plásticas não vêm sendo recuperadas após o uso. A esse respeito M. Biddle, empresário do setor de recicláveis (plásticos), é categórico ao afirmar que a porcentagem de resíduos plásticos que é reciclada não excede 10% (exceção Europa ocidental). Tais dados constituem um absurdo na lógica da economia circular.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao colher os primeiros resultados ilustrativos à pesquisa, utilizaram-se as ferramentas disponibilizadas pelo Orbit Intelligence. Foram adotadas estratégias de busca e horizontes temporais adequados. A estratégia “Plastic+ AND Recycl+” apontou para os resultados a seguir:
Figura 1: Inventário de patentes – depósitos + concessões –, relacionando termos plastic+ e recycl+,
no período de 2001 a 2018 (Fonte: Plataforma Orbit. 2018)
Os registros provam que desde o início deste século é perceptível um engajamento crescente no depósito de patentes relacionadas ao assunto pesquisado.
Quando desagregados os dados da Figura 1, considerando os players tecnológicos mais atuantes, pode-se observar presença majoritária de universidades e centros tecnológicos orientais.
Outra interessante visão proporcionada pela ferramenta sinaliza as tendências de avanço, que identificam os subcampos do conhecimento associados ao tema pesquisado.
Figura 2 Categorização de patentes por assunto e evolução da densidade de publicações no tempo (Fonte: Orbit.com)
Observa-se um expressivo aumento na produção de patentes que contêm em si conceitos de lixo, desperdício, plástico, desperdício de plástico, reciclagem, embalagens, inovações de processo de produção e reciclagem, além de outros conceitos que remetem à economia circular.
Uma busca na base Espacenet também dá ideia da quantidade de patentes brasileiras comparativamente a outros países. No campo resumo e/ou título, pesquisou-se “Plastic AND Packaging AND recycling”. Como resposta, mais de duas centenas de registros, com depósitos a partir de 2000. Nessa pesquisa, a China aparece com 150 patentes, Japão 16, Alemanha 9, Estados Unidos 8 e o Brasil com 5.
Alguns insights sobre os resultados
Ações destacadas, considerando iniciativas e pesquisas sobre o tema:
- Pepsico, em 2018, se junta a Danone e Nestlé com a missão de criar garrafas plásticas 100% biodegradáveis feitas de matéria-prima de origem vegetal e de forma sustentável.
- Interessante tecnologia que tem crescido se baseia na produção de plásticos a partir de gases de efeito estufa.
- LATEM, da UFRGS, desenvolveu embalagem à base de amido e mirtilo capaz de mudar a coloração conforme estado de conservação do produto e liberar compostos antioxidantes que prolongam o tempo de vida do item embalado.
Considerações Finais
Compreender motivos para a aceitação e o comprometimento do brasileiro com o setor de embalagens sustentáveis é essencial. De acordo com a Tetra Pak em seu Environment Research (2017), 95% dos brasileiros entrevistados acreditam que nos próximos anos as questões ambientais devem ganhar mais relevância. Para 56% o estímulo a comprar produtos sustentáveis é preservar o meio ambiente para as próximas gerações.
Pesquisas de cunho mercadológico já mostram a difusão de temas que emergem em outros países, e que em breve estarão inscritos por aqui, mais contundentemente. Constituem exemplos: as embalagens inteligentes e ativas; embalagens mais adaptáveis a processos de reuso/reaproveitamento, dentre outras. Esses projetos inovadores tendem a utilizar matérias-primas oriundas de fonte renovável.
É interessante notar a ascensão, ainda que incipiente, dos bioplásticos. No entanto, mesmo para países desenvolvidos, escalar a produção destes promissores compostos ainda é um desafio.
A participação do Brasil na produção do conhecimento patenteado é marginal, o que pode se configurar em oportunidade. Pesquisa feita nas bases de grupos de pesquisa do CNPq revela 136 grupos, que lidam ou podem explorar temas afins. Inexorável a substituição de materiais mais tradicionais por novos, que tragam respostas às inquietações sociais e ambientais.
São desafios que sempre estiveram no caminho da ciência e do desenvolvimento tecnológico, que o artigo pretendeu, aqui, salientar.