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A (in)segurança alimentar, hídrica e energética dos pescadores do Rio São Francisco é tema de capítulo de livro
- Foto: Guilherme Netter
A pesquisadora do Núcleo de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Nacional do Semiárido, Unidade de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Dra. Maristela Santana, com os parceiros Max César de Araújo, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), e Anna Érica Ferreira Lima, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), relatam parte de uma pesquisa sobre segurança alimentar, hídrica e energética com os pescadores do Rio São Francisco no capítulo intitulado “Segurança Alimentar dos pescadores da Subregião do baixo São Francisco: ensaio do nexo água-energia-alimentos” que compõe o livro “O Baixo Rio São Francisco: características Ambientais e Sociais” recém lançado pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (EDUFAL), mas editado em 2020.
A questão da segurança foi avaliada através da aplicação de questionário que abordava a percepção dos pescadores sobre os hábitos de consumo das famílias, cobrindo uma escala que vai desde a percepção de preocupação até a angústia diante da possibilidade de não dispor dos elementos, água, energia e, principalmente, alimentos. Por esse método, a insegurança alimentar é percebida em vários níveis, inclusive o da preocupação de que o alimento acabe antes que haja dinheiro para comprar mais.
O território do Baixo Rio São Francisco é definido como uma região Semiárida, com faixa litorânea, e é caracterizado pela construção de barragens e usinas hidrelétricas. Nela o multiuso da água, para agricultura, pecuária, pesca e aquicultura, abastecimento de cidades, descarte de esgoto, produção de energia e demais usos, promove uma discussão do equilíbrio entre demandas, provisão, aplicação e problematização da relação entre meio ambiente e população que abrange desde comunidades ribeirinhas até as grandes cidades.
Segundo Maristela, os pescadores relataram suas percepções quanto ao consumo e disponibilidade de uso da água, energia e alimentos e concluem que a insegurança relacionada a esses elementos tem ligação direta com a produção de energia e a gestão das hidrelétricas. A partir da pesquisa, os autores discutem o tema relacionando ao conceito do Nexus, em sua amplitude em relação ao espaço e escalas temporais, e a questão das governanças multidimensionais, permitindo o aumento do conhecimento, compartilhamento de habilidades e experiências.
Diante do contexto apresentado neste estudo, foi possível verificar que a população de pescadores possui considerável percepção de insegurança hídrica, energética e alimentar. Com o complexo contexto de multiusos da água, verifica-se que a possibilidade de conflitos na região é cada vez maior, aumentando a necessidade de se operar o sistema hídrico de forma a atender a sua crescente demanda e estabelecer as prioridades conforme preceitua a lei nº 9.433/2007 (MMA, 2015).
Assim, o trabalho discute a interação dos conceitos de nexo, SAN e percepção de insegurança hídrica, energética e alimentar como forma de contribuir com aspectos interpretativos aplicados ao contexto da sub-região do Baixo São Francisco. Considera-se, então, a necessidade do estabelecimento de referenciais que aproximem esse novo paradigma às situações e contingências concretas, e busca-se um necessário pragmatismo das perspectivas analíticas e de reflexividade quanto ao uso dos recursos naturais. Ao apresentar esse ensaio, os autores tentam motivar o debate com fins de estimular pesquisas e intervenções com visão multidimensional, interdisciplinares, transversal e multissetorial que apresentem soluções de aplicação às vulnerabilidades no Baixo Rio São Francisco sem, no entanto, esgotar a análise do Nexus para este contexto territorial.
A publicação está disponível aqui.
Pesquisadora responsável: Dra. Maristela Santana