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Dia Mundial da Água: O Pantanal e a Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos
Dia Mundial da Água/Card de divulgação
No Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, o Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP) destaca a importância da água para a manutenção da biodiversidade e o equilíbrio ecológico da maior planície alagável do Planeta. O Pantanal, reconhecido por seu sistema hídrico dinâmico, é um ecossistema essencial para a conservação dos recursos hídricos, sustentando uma rica biodiversidade e fornecendo serviços ambientais fundamentais, como a regulação do clima e a purificação da água.
O pulso de inundação, fenômeno natural que regula os ciclos de cheia e seca, influencia diretamente a fauna e a flora, criando habitats temporários e permanentes que sustentam a vida pantaneira. No entanto, as mudanças climáticas, o desmatamento e a degradação dos recursos hídricos estão alterando esse ciclo vital, trazendo desafios para a sobrevivência de inúmeras espécies e para as comunidades que dependem desse ecossistema.
Pesquisadores do INPP, integrantes do Programa de Capacitação Institucional (PCI), estudam organismos diretamente impactados pela dinâmica das águas no Pantanal. O MSc.. Gabriel Tavares, que investiga os padrões migratórios das aves, alerta para as consequências das mudanças no pulso de inundação, explicando que, no período das cheias, a disponibilidade de alimento e habitat aumenta, atraindo aves migratórias de outros biomas. A redução desse ciclo e as secas prolongadas impactam diretamente essa dinâmica, podendo levar à perda de habitat e à diminuição das populações de aves.
Pesquisador PCI MSc. Gabriel Tavares
As conchas de água doce do Pantanal desempenham um papel fundamental na manutenção da qualidade da água, atuando como biofiltradores naturais, por isso, o ciclo de vida desses organismos também depende diretamente das águas do bioma. Dr. Rogério dos Santos, estuda a relação entre essas conchas e os peixes que as transportam.
“Durante a cheia, as conchas entram em fase de reprodução e liberam suas larvas, que precisam se fixar nos peixes para serem transportadas. Quando as águas baixam, essas larvas se desprendem e se estabelecem nos sedimentos, dando continuidade ao ciclo. Ainda não sabemos exatamente quais espécies de peixes transportam quais conchas, e essa é uma lacuna que estamos preenchendo com nossa pesquisa no INPP”, afirma.
Além disso, as conchas filtram partículas da água, ajudando a remover impurezas e melhorando a qualidade da água para peixes e até para o consumo humano. Com a diminuição dos cursos d'água, a redução dessas populações pode comprometer esse serviço ecossistêmico essencial.
Pesquisador PCI Dr. Rogerio dos Santos
Os jacarés-do-pantanal, por sua vez, são diretamente afetados pelas oscilações no regime hidrológico. A Dra. Thais Figueiredo investiga como as oscilações nas águas afetam as populações desses répteis. Ela explica que nos períodos de cheias extremas, os ninhos de jacarés são inundados, reduzindo a taxa de eclosão dos ovos. Já nos períodos de seca intensa, esses animais precisam encontrar corpos d’água permanentes para sobreviver, enterrando-se na lama em um processo chamado estivação, no qual diminuem a atividade metabólica para conservar energia. Esse comportamento adaptativo demonstra a forte dependência dos jacarés em relação ao ciclo hidrológico, reforçando a necessidade de monitoramento e conservação desses ambientes.
Pesquisadora PCI Dra. Thaís Conceição
A fauna aquática também enfrenta riscos. Dra. Luiza Peluso, que estuda os riscos de extinção de peixes da Bacia do Alto Paraguai (BAP), alerta para os impactos da redução das áreas alagadas.
“Muitas espécies de peixes migradores sincronizam seu ciclo de vida com o regime das águas. Durante as cheias, sobem os rios em direção ao planalto para se reproduzir. Após a eclosão, os filhotes descem para a planície, onde crescem e completam seu desenvolvimento. Com as alterações climáticas e a diminuição da superfície de água, essa sincronia está sendo rompida, afetando diretamente a biodiversidade e a pesca na região.”
A pesca é uma das principais atividades econômicas e fonte de alimento para comunidades locais, e a redução da diversidade de peixes impacta diretamente a segurança alimentar e o modo de vida das populações tradicionais. Além disso, fatores como a poluição das águas e o desmatamento das matas ciliares na região do planalto agravam ainda mais a situação.
Pesquisadora PCI Dra. Luiza Peluso
As mudanças climáticas provocam secas prolongadas e eventos extremos de inundação no Pantanal. Além disso, construção de hidrelétricas, desmatamento, assoreamento dos rios e contaminação por agrotóxicos comprometem a qualidade e a disponibilidade da água. Os incêndios agravam ainda mais a situação, reduzindo a resiliência do bioma.
Diante disto, o INPP tem como um de seus objetivos gerar conhecimento científico para subsidiar a tomada de decisões, formulação de políticas públicas, e ações de educação ambiental para ampliar a conscientização sobre a importância do Pantanal e das áreas úmidas para o equilíbrio hídrico.