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Dia Mundial da Água
Em 22 de março de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU), divulgou a “Declaração Universal dos Direitos da Água”. Desde então, este dia é dedicado a alertar o mundo que a água é condição da existência de vida no Planeta Terra e que está sendo consumida em níveis cada vez maiores.
O futuro do planeta depende da preservação do ciclo hidrológico que, por sua vez, depende da preservação dos ecossistemas marinhos, onde o ciclo se inicia com a evaporação. A preservação da água e de sua qualidade também depende da preservação dos ecossistemas terrestres que por meio dos processos biogeoquímicos permitem a autopurificação dos sistemas aquáticos continentais, manutenção da fertilidade dos solos e a biodiversidade do planeta, que mantém a fertilidade dos solos, a biodiversidade e um número imenso de serviços ecossistemas que mantêm a vida e o bem-estar humano.
Em 2016, há menos de uma década, a Revista FAPESP publicou o artigo1 Um Brasil mais vulnerável no Século 21, alertando para o fato de que as secas prolongadas, fenômeno circunscrito ao Nordeste, se espalhariam pelo país, incluindo a Amazônia, o Centro-Oeste, e o Sul do Brasil. Estes episódios de seca vieram não apenas com maior frequência, mas acompanhados de incêndios que se espalham pelas lavouras, atingindo todos os biomas, da Floresta Amazônica aos Pampas.
Mas a vulnerabilidade do Brasil, não se limita às secas. As mudanças climáticas trariam alterações meteorológicas mais complexas, fomentando a ocorrência de enchentes, relâmpagos, que não apenas provocariam a destruição de lavouras, infraestrutura urbana e rural, mas também inúmeras mortes irreparáveis. Essas chuvas intensas vieram acompanhadas de rajadas de ventos com grande potencial destrutivo. Causaram processos de deslizamento de encosta, corridas de lama com grande potencial de impacto no bem-estar das populações, porque ocorreram em regiões ocupadas por populações da base da pirâmide social, que habitam em construções precárias, que facilmente são soterradas.
A água doce do planeta Terra disponível para o consumo humano e para muitas espécies adaptadas a ela representa apenas 0,5 % do recurso armazenado nos oceanos e mares. Esse raro recurso do Planeta, em um quadro de intensificação de mudanças climáticas, crescimento populacional, desenvolvimento econômico baseado na exploração irracional dos recursos naturais, se não for seriamente monitorado pode se tornar mais escasso que a demanda, ameaçando a segurança hídrica, alimentar, a saúde, e a paz em diversas regiões do mundo, como já vem acontecendo.
Simulações feitas pelo World Resources Institute (WRI) indicam que dos 15 países com os maiores PIBs (Produto Interno Bruto) em 2050, apenas 6 (40 %) terão Índices de Estresse Hídrico (IEH) variando entre médio e baixo, dentre os quais o Brasil. Países como Egito, México e Índia possuem índices extremamente altos, ou seja, com a demanda e a disponibilidade quase empatadas, situação que limita o crescimento econômico, com todas as consequências sociais e políticas associadas. A China, a Alemanha, os Estados Unidos da América, e a Coréia do Sul têm IEH médio, mas com parte significativa das demandas (20% a 40%) não atendidas, pode limitar o crescimento econômico.
Talvez por isso, o tema escolhido pela ONU para a comemoração do Dia Mundial da Água, tenha sido "Água para a Paz". Os grandes conflitos geopolíticos e guerras nos últimos 70 anos surgiram pela conquista de combustíveis fósseis. Ao que parece, no próximo século, os conflitos e guerras serão pela posse de territórios que garantam a disponibilidade hídrica. Os donos do mundo tiveram a ilusão de que o crescimento econômico, o controle dos recursos naturais, e o domínio de tecnologias de destruição em massa eram a chave para manter a paz para poucos. Mas a intensificação das mudanças climáticas, os sinais de que o Planeta está com “febre muito alta”, nos leva a pensar que a principal missão das Agências Espaciais é realizar missões não para buscar exoplanetas habitáveis2 ou tecnologia para colonizar Marte3, mas para monitorar os vários componentes do ciclo hidrológico do Planeta Terra.
Nesse sentido, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrando sua percepção de futuro e buscando prover serviços cruciais para a sociedade, está desenvolvendo a Missão AQUAE. O primeiro satélite da missão é o Amazonas 1B, e tem como carga útil a câmera MUX e um receptor do tipo “Global Navigation Satellite System Reflectometry” (GNSS-R). O GNSS -R é uma tecnologia inovadora para o Brasil e proverá dados para diversas aplicações, entre as quais se pode citar, medidas da umidade do solo, da velocidade do vento oceânico, detecção de áreas alagadas, medidas de biomassa, medidas da extensão do gelo marinho e informações sobre o ciclo de congelamento e descongelamento.
A missão Aquae é a primeira missão espacial brasileira focada na observação da água como parte de diversos processos vitais do Planeta Terra, fornecendo informações sobre a água presente na atmosfera (vapor d'água e perfis de temperatura, precipitação, umidade do solo), sua transferência para os ecossistemas terrestres, costeiros e de águas interiores, para a biosfera, e seu consumo na atividade agrícola via irrigação.
Com o imageador óptico será possível monitorar a agricultura irrigada e o manejo de recursos hídricos a partir da análise de variáveis de qualidade de água como turbidez e profundidade do Disco de Secchi. O monitoramento da agricultura irrigada é um fator chave nas políticas de uso sustentável da água doce, pois, é responsável por cerca de 70% de seu consumo a nível mundial e, no contexto das alterações climáticas, esta procura deverá aumentar, com a demanda por energia verde.
Como estatística do uso da água, pode-se citar o estudo realizado em 2019 pela Agencia Nacional de Água e Saneamento (ANA), que identifica os principais usos consuntivos da água no Brasil, que são o abastecimento humano (urbano e rural), o abastecimento animal, a indústria de transformação, a mineração, a termoeletricidade, a irrigação e a evaporação líquida de reservatórios artificiais Somente a agricultura irrigada no Brasil era responsável por 52% de toda a água retirada no país. Em seguida, o uso para abastecimento urbano, com 23,8%, a indústria, com 9,1%, e o uso animal, em especial para dessedentação, com 8%.
Em decorrência da falta de chuva na fase de plantio e crescimento mostra que em se continuando a instabilidade climática e a incerteza de precipitações em momentos vitais para a produção agrícola será forçado a ampliação da área irrigada, o que mostra a relevância da realização de uma missão espacial com os objetivos da Missão características do AQUAE, para ampliar o conhecimento sobre a disponibilidade hídrica no tempo e no espaço e a efetiva utilização desse precioso bem para a humanidade.
Para se aprofundar no artigo1 da Revista FAPESP (citada no texto):
https://revistapesquisa.fapesp.br/um-brasil-mais-vulneravel-no-seculo-xxi/
Para se aprofundar sobre exoplanetas habitáveis2, acesse os links:
https://doi.org/10.1089/ast.2017.1729
https://doi.org/10.1038/s41550-023-02158-8
https://doi.org/10.1146/annurev-astro-082214-122238
https://doi.org/10.1089/ast.2015.1295
Para se aprofundar sobre tecnologia para colonizar Marte3, acesse os links:
https://doi.org/10.1089/ast.2017.1729
https://doi.org/10.1038/s41550-023-02158-8
https://doi.org/10.1146/annurev-astro-082214-122238
https://doi.org/10.1089/ast.2015.1295
Créditos: Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG), da Coordenação-Geral de Ciências da Terra (CGCT); Coordenação-Geral de Engenharia, Tecnologia e Ciência Espaciais.
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