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Dia Internacional das Florestas e Árvores
O Dia Internacional das Florestas e Árvores, comemorado em 21 de março, é dia de reflexão e conscientização sobre o papel e importância das árvores e florestas para o planeta.
Especialmente para este Dia, Luciana Vanni Gatti, servidora e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e Luiz Felipe Rezende, pesquisador em Ciência do Sistema Terrestre no INPE, mas também músico e escritor de crônicas, foram convidados pelo Serviço de Comunicação Social (SECOM/INPE) a falarem sobre o tema. Luciana olha a questão das árvores e florestas do ponto de vista ambiental, e Luiz Felipe escolheu a ecofisiologia vegetal para tratar do tema em sua crônica aqui publicada.
A relação de Luciana com a natureza sempre foi muito forte desde criança. Ela ficava horas no meio da copa das árvores que tinha na frente de sua casa e, nestes momentos, curtia a sensação de paz, que era maravilhosa. Em sua vida profissional, resolveu ser cientista e, nas palavras dela, estudar a Amazônia foi um verdadeiro presente. Assumindo a tarefa de calcular o balanço de carbono da Amazônia, vieram duas surpresas: uma foi que a Amazônia não absorvia a quantidade de CO2 que se esperava e a outra foi a enorme diferença entre as quatro regiões estudadas. A partir da tentativa de entender este comportamento tão diferente entre as regiões, cálculos foram feitos para saber quanto cada uma das quatro regiões já estavam desmatadas e quais mudanças tal desmatamento histórico trouxe à própria floresta. Foi então que a grandeza da floresta e seus inúmeros serviços ecossistêmicos se apresentou e, com muita tristeza, ela foi entendendo os impactos da redução da floresta para todos.
Estudando o efeito do desmatamento na Amazônia na chuva e na temperatura nos últimos 40 anos, entende-se a relação direta entre perda de floresta, levando à perda de chuva e aumento de temperatura. A partir desta constatação, começa-se a estudar como o desmatamento provoca todas estas alterações, e se abre um mundo novo e rico de entendimento sobre a complexidade da natureza e como tudo está interligado.
As árvores jogam uma quantidade enorme de vapor de água na atmosfera por dia, formando os rios voadores. A floresta Amazônica como um todo coloca na atmosfera uma quantidade comparável ao desague do Rio Amazonas no oceano. No processo de levar a água, que estava no solo em sua forma líquida, para a atmosfera na forma de vapor, muita energia na forma de calor é absorvida, resfriando assim a área onde estão estas árvores. A partir deste processo, entende-se porque nas cidades e nas áreas rurais está tão quente, pois na cultura de desmatar e desmatar se perde o controle climático que as árvores exercem, perdendo chuva e aumentando a temperatura. Além disso, as árvores ajudam a recarregar os lençóis freáticos mantendo o volume dos rios e nascentes.
É preciso entender o papel fundamental que as árvores têm em nossa vida, como verdadeiras fábricas de água e protetora contra as mudanças climáticas. Entendendo isto, vê-se o quanto REFLORESTAR é uma solução para este clima cada vez mais quente e mais seco. Reflorestar é restaurar nossa condição de vida, pois somos parte da Natureza e sem ela vamos perdendo nossa condição de sobrevivência. Reflorestar, além de ajudar a resfriar, recarrega rios e nascentes e ainda retira da atmosfera o CO2 que está causando as mudanças climáticas.
Assim, a mensagem para este Dia comemorativo é: Vamos REFLORESTAR corações e mentes.
A seguir, leiam a crônica de Luiz Felipe Rezende, intitulada “AS FLORESTAS E AS ÁRVORES, AS NOSSAS PARENTES”:
No Dia Internacional das Florestas e Árvores, vamos enaltecê-las e por que não as chamamos de nossas irmãs, assim como fez o poeta Fernando Pessoa com as plantas (In Poemas de Alberto Caieiro. Fernando Pessoa, de 1993, XVII - No meu prato que mistura de Natureza!):
“No meu prato que mistura de Natureza!
as minhas irmãs as plantas,
as companheiras das fontes, as santas
a quem ninguém reza...”
Sabemos dos grandes serviços que as árvores e florestas prestam ao planeta, como a transformação do carbono inorgânico em orgânico, através da fotossíntese, que é um processo fundamental/essencial para a vida no planeta. Fazendo esta tarefa, elas promovem a remoção do CO2 da atmosfera, um gás que contribui significativamente para o aquecimento global. E elas nos dão os frutos maravilhosos e ainda as sombras e contribuem para o microclima, amenizando as ondas de calor. E ainda servem de abrigo e proteção para os pássaros, os insetos como as abelhas, e a flora.
Há pessoas que veêm as árvores como coisas, objetos, e se esquecem que são seres vivos que tem células como nós, e tem seiva que é semelhante ao nosso sangue, por onde se distribui os nutrientes através dos xilemas e floemas, semelhante às nossas veias.
E mais, a inteligência das árvores e das plantas (existem muitas evidências) tem sido motivo de estudos. Darwin já havia proposto isto em 1898. O professor Marcus Buckeridge, do Laboratório de Fisiologia Ecológica de Plantas (LAFIECO), da Universidade de São Paulo (USP), tem uma linha de pesquisa neste sentido. Buckeridge considera que nos processos fisiológicos e de adaptação, há evidências nas árvores e plantas de que algumas características essenciais da inteligência estão presentes, como: 1) capacidade de armazenar informação (ou memória); 2) capacidade de processar informação; 3) capacidade de “se perceber” como um indivíduo e 4) capacidade de decidir.
O pesquisador alemão Peter Wohlleben (em seu livro: A Vida Secreta das Árvores, cuja tradução foi publicada pela editora Sextante em 2017), argumenta que as árvores vivem em comunidades e tem noção de vida social pois se comunicam através das raízes, fungos e micorrizas (associação simbiótica entre fungos e raízes), e colaboram entre si, e se protegem, trocam nutrientes e organizam estratégias de sobrevivência.
No entanto, as árvores e as florestas têm sofrido pelo momento crítico no planeta com as mudanças climáticas e os desmatamentos em que a integridade da biosfera sofre alto risco, pois com a extinção de espécies em taxas nunca vistas, estão ocorrendo perdas de banco genético. Outro fator é a produtividade da vegetação (a sua assimilação de carbono), que não tem sido suficiente para abastecer os setores socioeconômicos e os ecossistemas, contribuindo para colocar em risco a resiliência do planeta.
Mas vamos falar e homenagear algumas árvores de nosso país. Começando pela Amazônia, pelas Samaúmas (ou Sumaúmas) (Ceiba Pentranda) que são consideradas sagradas pelos maias e pelos indígenas brasileiros e são gigantescas, podendo chegar até 70 m de altura e vivem até 120 anos. E vamos falar de outras árvores gigantes, recentemente descobertas no Amapá, como o angelim-vermelho (Dinizia Excelsa) que também pode atingir 70 m de altura (revista FAPESP, fevereiro de 2024).
E vamos lembrar da Caatinga, falar do umbuzeiro (Spondias tuberosa L) cujo fruto (umbu) serve para sucos, bolos, sorvetes, etc. E da jurema preta (Mimosa tenuiflora), que ajuda a restaurar o solo degradado. E da catingueira da folha miúda (Poincianella microphyllis), que ao anoitecer as folhas delicadamente se fecham e dormem o sono dos anjos.
E por que não homenagearmos as árvores de nossas vidas como as de nossas infâncias: a goiabeira do meu quintal, a mangueira onde amarrava o balanço e as jabuticabeiras dos vizinhos.
E falar das árvores de minha rua, como as murtas (Murraya paniculata) que exalam o perfume que chega a minha varanda. E homenagear a imensa sibipiruna (Caesalpinia pluviosa) do meu trabalho, a qual dou bom dia e passo a mão em sua textura vegetal que massageia os poros de minha mão. As árvores são todas nossas irmãs. São nossas parentes. Vamos protegê-las e amá-las. Vamos nos lembrar delas sempre, não apenas nos dias de datas comemorativas.
Para ilustrar, algumas árvores do INPE:
Créditos: Divisão de Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades (DIIAV), da Coordenação-Geral de ciências da terra (CGCT).
Serviço de Comunicação Social - SECOM