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51 anos da recepção da primeira imagem de satélite para o sensoriamento remoto de recursos naturais no Brasil
O dia 23 de abril é uma data comemorativa para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para celebrar a primeira recepção de imagem de satélite por sensoriamento remoto de recursos naturais pela Estação de Recepção e Gravação de Imagens (ERG) de Cuiabá/MT.
Falar sobre esta data é contar a história do Projeto ERTS - Earth Resources Technology Satellite, desenvolvido no INPE, composto por quatro componentes: ERG, os Laboratórios de Processamento Eletrônico e Fotográfico e o Banco de Dados, instalados na Unidade do INPE em Cachoeira Paulista-SP.
A história do Projeto ERTS foi contada pelo servidor Avelino Carlos Miranda de Oliveira, responsável pela área técnica da ERG, que ocupou este cargo de setembro de 1985 a dezembro de 2013, em seu discurso feito na Cerimônia de Aniversário dos 40 anos da Estação. Neste, destacou o esforço de toda a equipe envolvida para se chegar ao patamar de realizações atuais, em que já recebeu imagens de vários outros satélites de observação da Terra, como toda a série LANDSAT a partir de 1973, o SPOT1-1988, SPOT4-2003, ERS1-1991, ERS2-1995, RADARSAT1-2001, ENVISAT-2009, ResourceSat1-2010, entre outros. Nesta nota, alguns trechos do discurso do servidor Miranda foram usados para narrar essa história, conforme descrito a seguir.
O Programa Espacial Americano, com o lançamento do primeiro satélite de sensoriamento remoto ERTS-1(denominado Landsat-1) em 1972, proporcionou ao mundo a capacidade de pesquisar e monitorar os recursos naturais e, como um todo, o meio ambiente da Terra, contribuindo para o melhor gerenciamento e utilização dos recursos do nosso planeta.
Enquanto os EUA se preparavam para lançar o ERTS-1, o INPE, dirigido pelo Dr. Fernando de Mendonça, acompanhava de perto a evolução do Programa Espacial Americano junto ao governo federal, e se preparava para ter a primeira estação de recepção e gravação de imagens de satélite, instalada na América do Sul e a terceira no mundo, depois dos EUA e Canadá a rastrear o satélite ERTS-1.
Em julho de 1972 o satélite ERTS foi lançado ao espaço, enquanto o INPE adquiria das empresas Bendix Aerospace e Scientific-Atlanta, por US$ 5 milhões, a ERG e o Laboratório de Processamento de Imagens a ser instalado em Cachoeira Paulista/SP. Assim, em menos de um ano, em abril de 1973, a Estação de Cuiabá já estava recebendo e gravando os primeiros dados do satélite ERTS-1. O INPE, então, começou a dar os primeiros passos nas pesquisas e domínio no processamento de imagens de satélite.
Foi criado o Grupo de Trabalho pioneiro em São José dos Campos/SP para desenvolver o Projeto ERTS. Para tal, o Diretor do INPE, Dr. Fernando de Mendonça, designou os Engenheiros Roberto Vicente Calheiros (Coordenador) e Sérgio de Paula Pereira (Coordenador Assistente). Juntaram-se a este grupo uma equipe de aproximadamente 20 profissionais, entre engenheiros e técnicos, que passaram por um período de estágios junto aos fabricantes dos equipamentos nos Estados Unidos da América. Todos eram jovens, a maioria recém-formada, encarando a missão como um grande desafio profissional.
Em 19 de março de 1973 chega a Cuiabá a primeira equipe técnica para instalar e operar a ERG. Foram designados para a tarefa, os Engenheiros Herbert J. Cosenza Júnior (Chefe da ERG) e Ronaldo Vilela Guimarães, o Técnico Sênior Geraldo Garcia, e os Técnicos Júnior Avelino Carlos Miranda de Oliveira, Jorge Luiz Martins Nogueira e Antônio Cláudio Rocha de Oliveira.
Neste momento, a Unidade do INPE em Cuiabá ainda não estava pronta. Todos da equipe pioneira tiveram que colaborar para o término das obras de infraestrutura, como: contratação do pessoal de apoio, transporte, mobiliários, segurança, implantação dos procedimentos, enfim, tudo que fosse necessário para operação da Estação. Uma semana depois, pousava no aeroporto de Cuiabá/Várzea Grande uma aeronave cargo trazendo todo sistema de Recepção e Gravação. Com o auxilio do Batalhão de Engenharia do Exército foi possível descarregar e transportar todo material para a Estação. Em seguida, chegou a equipe técnica de Engenheiros das empresas americanas: Vitor Delguercio, Thomas Hanks, Earl Bacon, John Reeves, responsáveis pelos trabalhos de instalação, passagem dos testes de aceitação e treinamentos dos sistemas para a equipe de operação do INPE. Foram trabalhos intensos e uma integração bem executada entre as equipes americana e brasileira.
Em 23 de abril de 1973, o subsistema de recepção apontou a antena e rastreou o satélite ERTS-1, pela primeira vez, inaugurando dessa forma a Unidade do INPE em Cuiabá. Em maio daquele ano essa estação já operava normalmente, rastreando e gravando o sinal de imagens do sensor Multiespectral Scanner (MSS) a bordo daquele satélite.
A grande utilização dos dados recebidos em Cuiabá colocava o Brasil como um dos principais usuários de sensoriamento remoto orbital do mundo! A área de Sensoriamento Remoto passou a ser a grande vedete do INPE e cresceu em qualidade e quantidade.
As fotografias obtidas por missões tripuladas durante o Programa Apolo da NASA já demonstravam o potencial das informações tiradas a partir da órbita terrestre para o estudo e monitoramento dos recursos naturais no Brasil. A importância da área de Sensoriamento Remoto era clara e inquestionável graças à visão do Dr. Fernando de Mendonça, que já havia dado início a conversas com a NASA em 1966, visando à cooperação entre os países na área espacial, cujo foco era a utilização de satélites para o levantamento de recursos naturais devido às dimensões do Brasil. Essas conversas evoluíram e em 1968 foi estabelecido um Programa de Cooperação entre o INPE e a NASA por meio de um Memorando de Entendimentos aprovado por uma troca de notas entre os governos brasileiro e americano, em que nenhuma troca de fundos era prevista (maiores detalhes sobre o Programa do INPE que englobava essa cooperação com a NASA, está disponível em: http://mtc-m12.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/iris@1912/2005/07.15.22.59.24/doc/INPE%20263.pdf).
O INPE foi o percursor da recepção de imagem de satélite por sensoriamento remoto de recursos naturais no Continente Sul-Americano, e tem dado continuidade em seus projetos com satélites de modo a garantir a continuidade da geração de dados e sua utilização por usuários e a sociedade em geral. A garantia dessa continuidade foi o primeiro satélite da série CBERS (sigla de Satélite Sino Brasiliero de Recursos Terrestres), lançado em 1999, série de sucesso que já está no 6º satélite, e tem como proposta de desenvolvimento mais dois satélites desta família (isto é, CBERS-5 e CBERS-6). Outro fato de real importância foi quando o INPE lançou o Satélite Amazonia 1 em 2021, 100% brasileiro e sucesso por fornecer imagens de qualidade. Atualmente está em desenvolvimento o Satélite Amazonia 1B.
Créditos: Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG), da Coordenação-Geral de Ciências da Terra (CGCT); Coordenação Espacial do Centro Oeste (COECO).
Serviço de Comunicação Social - SECOM