Introdução: Uma breve perspectiva histórica
As origens históricas da Cosmologia estão diretamente ligadas aos conceitos míticos que povoaram as religiões dos povos antigos. Como o Universo era desconhecido, cada civilização adequava sua percepção cosmológica ao que percebia: o Sol, a Lua, alguns planetas e algumas estrelas. Essa associação tinha raízes no desejo de organizar o cosmos e, de alguma forma, explicar a origem do lugar onde o Homem vivia. A Cosmologia na Idade Antiga pode ser bem representada pela astronomia egípcia e mesopotâmica e seu apogeu ocorreu no florescer da Grécia Clássica. A civilização grega clássica deu enormes contribuições a diversas áreas do conhecimento humano, incluindo a Astronomia e a Matemática. Essa civilização foi bastante influenciada pelos egípcios e babilônicos, tanto na área mitológica quanto na científica. A cosmologia grega, por exemplo, foi uma fusão das idéias egípcias, fenícias, mesopotâmias, minoanas e micênicas.
A civilização árabe deu continuidade à busca do conhecimento científico e à evolução cultural proporcionados pelos antigos gregos. Foram os árabes que nomearam boa parte das estrelas e constelações conhecidas. Entretanto, à exceção da civilização árabe, durante a Idade Média a evolução do pensamento científico ficou estagnada. O modelo de Ptolomeu (universo geocêntrico) transformou-se em dogma adotado pela religião cristã e, em conseqüência, pela civilização cristã. Somente com o Renascimento Europeu, associado ao período das grandes navegações, a ciência ocidental retomou seu crescimento.
O início da revolução astronômica veio com a introdução do sistema heliocêntrico para o Universo, por Nicolau Copérnico, com a utilização do telescópio por Galileu e a descoberta das Leis de Kepler. A partir desses três marcos e das descobertas científicas de Isaac Newton, a Astronomia começou a evoluir de forma quantitativa, separando-se cada vez mais da astrologia e caracterizando-se como ciência de fato. Finalmente, a noção real de que o Universo se estendia para além do nosso Sistema Solar apareceu no século XIX. Apesar disso, a Cosmologia somente passou a ser considerada como ciência no século XX. Nas últimas décadas do Séc. XX houve um rápido aumento do conhecimento humano sobre o Universo, de modo que somos a primeira geração de seres humanos capaz de perceber os detalhes da história cósmica.
A Cosmologia é a ciência que estuda a origem, estrutura e evolução do Universo e tem um caráter multidisciplinar. Seu objetivo é entender como o Universo se formou, por que ele tem a forma que hoje percebemos e qual será o seu destino. Ela é também a mais exigente em termos de extrapolação de resultados e conceitos, já que as escalas de tempo e distância envolvidas nos problemas cosmológicos são da mesma ordem de grandeza da idade e tamanho do Universo que queremos observar. Além disso, ao contrário de um experimento em laboratório, não podemos criar vários universos para que possamos fazer uma análise estatística completa de suas propriedades.
As principais ferramentas utilizadas pela Cosmologia vêm da Física, da Matemática e da Astronomia. Da Física, vêm as leis que descrevem fenômenos físicos nos laboratórios da Terra e, ao verificarmos que elas descrevem fenômenos semelhantes em lugares distantes do Universo, podemos reafirmar seu caráter universal. A Matemática fornece a linguagem utilizada para registrar os processos observados, permitindo a descrição precisa dos fenômenos astronômicos. Da Astronomia, vêm as técnicas de observação do céu, de medição do tempo e de determinação das escalas de distância envolvidas. Podemos ainda incluir a Química e a Filosofia. A primeira é importante no estudo da matéria que compõe o Universo e a segunda fornece o arcabouço que insere a Cosmologia na hierarquia do pensamento humano.
Carlos Alexandre Wuensche - Criado em 2005-06-02