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Linklado: Teclado de línguas indígenas é finalista do Prêmio Jabuti
Banner: Débora Vale/ Inpa
O aplicativo Linklado é finalista do 66º Prêmio Jabuti na categoria ‘Fomento à Leitura’. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou na terça-feira (5) os finalistas das 22 categorias. Com o projeto “Linklado: fomento à literatura em línguas indígenas”, o aplicativo de escrita para línguas indígenas pode trazer para Manaus o prêmio mais tradicional da literatura brasileira no eixo inovação.
A iniciativa surgiu como uma resposta às dificuldades enfrentadas na escrita das línguas indígenas em plataformas digitais. O Linklado reúne caracteres especiais e diacríticos de diversas línguas indígenas do Brasil, facilitando a escrita e comunicação entre indígenas com uso da língua nativa. O nome do software é uma combinação das sílabas ‘lin’ = línguas indígenas e ‘klado’, que faz um trocadilho com a palavra ‘teclado’. Forma ainda a palavra ‘link’, que significa conexão.
A dificuldade de escrever materiais nas línguas indígenas foi vivenciada pelas pesquisadoras Noemia Ishikawa e Ana Carla Bruno do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), em 2009, durante um trabalho com os povos Tikuna (Maguta) no Alto Rio Solimões. A solução tecnológica foi desenvolvida conjuntamente com Samuel Minev Benzecry e Juliano Portela, na época, estudantes do ensino médio e atualmente universitários. A bolsista do Inpa de fixação de recursos humanos pelo CNPq) Ruby Vargas Isla também integra a equipe do projeto.
No ano passado, o Linklado foi semifinalista na mesma categoria. “Neste ano, o projeto está mais consolidado e conhecido. Ontem ficamos sabendo que o Linklado foi tema de questão da prova do Enem. Isso é muito significativo. Estamos confiantes e contamos com a torcida do Amazonas”, conta a micóloga Noemia Ishikawa.
O teclado virtual está disponível para download gratuito em computadores e dispositivos móveis com sistema Android e IOS, e já conta com cerca de 40 línguas indígenas. O projeto reconhece a diversidade linguística e busca preservar as línguas indígenas, além de fomentar a leitura para uma população de 1,7 milhão de indígenas no Brasil em seus idiomas maternos. De quebra, o Linkado estimulou o desenvolvimento de uma rede de tradutoras para materiais, publicação e distribuição de livros em comunidades indígenas.
A antropóloga Ana Carla Bruno comenta que os falantes de línguas indígenas são muitas vezes estigmatizados e excluídos das discussões culturais, sociais e educacionais no Brasil. “O importante de tudo isso, além da possibilidade dos indígenas escreverem nas suas línguas sem tanta dificuldade ou sofrimento, é a possibilidade da sociedade brasileira conhecer mais um pouquinho sobre as línguas indígenas do nosso país”, declara Bruno.
Segundo a pesquisadora, atualmente apenas 12 línguas indígenas ibero-americanas estão presentes no mundo digital de acordo com a Organização de Estados Iberos-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) 2024. “Fico imaginando as línguas indígenas brasileiras ocupando o universo digital, a mídia, as escolas não indígenas, as universidades”, projeta a antropóloga linguística que comemora o reconhecimento do teclado.
Prêmio Jabuti
Os vencedores do 66º Prêmio Jabuti serão anunciados no dia 19 de novembro, em cerimônia no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. O Prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio de literatura do Brasil e referência no mercado editorial brasileiro. Realizado pela Câmara Brasileira do Livro, a premiação busca valorizar e ampliar o acesso à leitura no país.
Questão do Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal vestibular do Brasil para acesso ao ensino superior, incluiu uma questão sobre o Linklado em seu primeiro dia de provas. A questão formulada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) destaca a contribuição do aplicativo para a facilitação da produção de materiais gráficos em línguas indígenas e a preservação desses idiomas de forma acessível.