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Semana do Meio Ambiente no Inpa: estudantes e visitantes conhecem sistema sustentável de criação de peixes
As atividades da Semana proveram a popularização do conhecimento científico - Fotos: Caio Hugo, Valéria Nakashima e Victor Mamede
Um sistema alternativo mais sustentável para a piscicultura, denominado Tecnologia de Bioflocos (BFT), é estudado pelo Laboratório de Fisiologia Aplicada à Piscicultura (Lafap) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) para intensificar a produção de peixes nativos da Amazônia, como tambaqui e matrinxã. A tecnologia foi um dos atrativos da Semana do Meio Ambiente do Inpa, que contou com mais de 20 atividades, de 5 a 9 de junho, exceto no feriado de corpus christi (dia 8).
Visitantes de todas as idades participaram das atividades e passeios no Bosque da Ciência, área verde de aproximadamente 13 hectares em plena região central de Manaus. Exposições, oficinas, palestras, visitas monitoradas na Casa da Ciência foram realizadas, trabalhando temas como mudanças climáticas , plantas das áreas úmidas, tecnologia para elaborar produtos alimentícios com o aproveitamento integral do tambaqui, reciclagem de resíduos florestais e doenças tropicais (malária e dengue).
Vários aspectos da diversidade biológica da Amazônia e da conservação da biodiversidade estiveram presentes na Semana. De senhos de colorir da herpetofauna da Amazônia (anfíbios e répteis), dos mamíferos aquáticos da Amazônia (como peixe-boi, boto e ariranha), das tartarugas da Amazônia, dos animais e plantas do Bosque e a manipulação de aranhas-caranguejeiras chamaram a atenção da garotada.
Bioflocos
No sistema convencional de criação de peixes, há a necessidade de troca de água diária para controle de compostos nitrogenados tóxicos presentes no ambiente, como amônia e nitrito. Além disso, para a produção de 1kg de peixe em sistemas convencionais, o consumo de água pode chegar a aproximadamente 19 mil litros. Em sistemas com BFT, o consumo é reduzido para aproximadamente 87 litros de água, explica Moacir Teodoro Neto, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, da Universidade Nilton Lins, curso em associação com o Inpa, e bolsista de Apoio Técnico CNPq no Lafap.
Os flocos são formados pela matéria orgânica oriunda do próprio meio de produção e por diversas espécies de microrganismos benéficos, com predominância das bactérias que realizam a transformação dos compostos nitrogenados tóxicos da água, além da ciclagem dos nutrientes. Isso permite a depuração da água para seu reuso em vários ciclos de produção aquícola, o que evita a troca diária de água, já que os microrganismos fazem esta tarefa.
Para a manutenção dos flocos em suspensão na água, é necessária uma aeração constante, o que gera demanda contínua de energia. Para isso, o uso da placa de energia solar é uma alternativa mais viável, tornando o sistema sustentável nos aspectos de baixo consumo de água e de energia.
Além dos benefícios ao meio ambiente, a tecnologia de bioflocos também oferece inúmeras vantagens para a produção. Dentre elas, o aumento da densidade de estocagem, a redução do nível de proteína na ração, devido à biomassa microbiana servir como suplemento alimentar para espécies de peixes que são capazes de filtrar e consumir os flocos. Também acontece o aumento da resistência imunológica dos organismos produzidos, decorrente dos imunoestimulantes presentes nos flocos.
“Por ser um sistema de produção fechado, a grande vantagem do sistema ao meio ambiente é a sua capacidade de controlar os compostos tóxicos aos animais, sem a necessidade de troca de água, reduzindo drasticamente o descarte dos efluentes (resíduos). Todos esses compostos que poderiam ser prejudiciais ao meio ambiente são controlados no próprio sistema”, destaca Teodoro Neto.
O bolsista técnico pesquisou no mestrado o sistema de bioflocos na larvicultura do matrinxã. “Um fato interessante é que as larvas de matrinxã são canibais nas fases iniciais de desenvolvimento. A turbidez da água, proporcionada pelos flocos em suspensão, mostraram um resultado favorável no controle do canibalismo devido à diminuição da visibilidade das larvas, evitando os encontros entre elas e diminuindo os comportamentos agressivos intraespecíficos da espécie”, ressalta.
Além da exibição de dois aquários (o tradicional e o bioflocos), com a presença de indivíduos das espécies de matrinxã e tambaqui, os visitantes tiveram oportunidades de aprender com jogos educativos sobre esse sistema e de ver pela lupa os microrganismos presentes nas diferentes águas, principalmente, nos bioflocos. “A intenção é mostrar como organismos tão pequenos podem contribuir muito para melhorar as condições da qualidade de água durante a criação dos peixes”, explica Elizabeth Gusmão, pesquisadora do Inpa e líder do Grupo de Pesquisa em Aquicultura.
Semana do Meio Ambiente no Inpa
A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 5 de junho como dedicado ao Meio Ambiente. A data foi escolhida durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo, em 1972, que alertou sobre a importância da conservação do meio ambiente.
Tradicionalmente o Inpa organiza a Semana do Meio Ambiente com diversas atividades como exposições, oficinas, jogos educativos e palestras. Nesta edição, foram mais de 20 atividades que aconteceram no espaço do Bosque da Ciência. Os visitantes puderam explorar os espaços do Bosque, conhecer a fauna, flora e projetos desenvolvidos pelo Inpa e parceiros.
A Semana de Meio Ambiente do Inpa é útil como atividade complementar para escolas públicas e privadas de Manaus. Adriana Tavares de Andrade é professora da disciplina Ciência e Educação Ambiental do 5º ao 9º, do Centro Integrado Milton Pongitory. Ela explica que seus alunos desenvolveram, durante a semana, atividades internas na escola voltados para conservação do meio ambiente. O objetivo do passeio no Bosque é ver o que se aprendeu na prática e sensibilizá-los sobre as questões ambientais.
“ Todos os anos eu levo, nessa data comemorativa, os meus alunos em algum lugar onde eles possam se sensibilizar e ver a natureza, para que eles possam preservar a floresta Amazônica, principalmente, por ser uma das florestas mais ricas em biodiversidade”, destaca Adriana Andrade.
A atividade é educativa e, ao mesmo tempo, um momento de recordar. O aposentado Pedro Gondim acompanhou sua neta, Ana Laís, 4, na visita escolar ao Bosque da Ciência e aproveitou para revisitar o espaço, que conheceu quando era estudante.
“ Essa atividade da Semana é uma boa iniciativa. As crianças aprendem como se deve tratar os animais, tratar a floresta e o meio ambiente de modo geral. E eu estou aproveitando também para rever. Eu tinha entrado aqui há muitos anos quando eu era estudante e agora eu retornei aqui de novo”, recorda Gondim.
SERVIÇO:
O Bosque da Ciência está localizad o na rua Bem-te-vi, s/nº, bairro Petrópolis. Funciona de terça a domingo, incluindo alguns feriados, das 9h às 12h e das 14h às 17h. A portaria fecha meia hora antes. A entrada é gratuita, basta agendar pelo site . Às segundas-feiras o espaço é fechado para manutenção.