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Presidente da Alemanha visita sítio de pesquisa da torre ATTO
O projeto de pesquisa do Inpa (MCTI-Brasil) em cooperação internacional com o Instituto Max Planck (Alemanha) é uma das cinco maiores infraestruturas de pesquisa do Brasil
O sítio de pesquisa da maior torre de monitoramento climático do mundo, o Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto - Amazon Tall Tower Observatory, na sigla em inglês ), recebeu na última segunda-feira (02) a visita do presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, acompanhado pela Ministra de Meio Ambiente da Alemanha, Steffi Lemke. O projeto Atto monitora a física e química da atmosfera na floresta amazônica e a interação biosfera-atmosfera, com instrumentações que fazem a captação de características e fenômenos locais, regionais e globais. É resultado de um convênio bilateral do Brasil, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), com a Alemanha (Sociedade Max Planck, atualmente representada pelo Instituto Max Planck de Biogeoquímica).
De acordo com Steinmeier, a Alemanha retomará os investimentos na região, através do Fundo Amazônia, com aplicação imediata de 35 milhões de euros (equivalente a 199 milhões de reais), para ações de proteção ao meio ambiente e combate ao desmatamento. No domingo, o presidente alemão comentou que discutiu em Brasília como Brasil, Colômbia e outros países da América do Sul poderão garantir a proteção da Amazônia com a colaboração internacional. “A Alemanha terá papel fundamental nessa discussão”, afirmou.
Steinmeier veio ao Brasil para prestigiar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e aproveitou para conhecer projetos apoiados pelo governo Alemão no Amazonas. No sítio da torre Atto, o presidente e sua delegação foram recebidos pela diretora do Inpa, Antonia Franco, e por pesquisadores do projeto. O sítio está localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDS-Uatumã), a 150 quilômetros em linha reta de Manaus.Para Franco, a presença do presidente é um reconhecimento da ciência feita pelo Inpa para conhecer a Amazônia e a relação da floresta com os impactos em consequência das mudanças climáticas, em colaboração com a Alemanha, um parceiro de longa data. Há mais de 50 anos que o Inpa e a Sociedade Max-Planck desenvolvem estudos sobre áreas alagáveis, na mais longeva cooperação científica entre Brasil e Alemanha. “Estamos orgulhosos de receber o presidente Steinmeier e sua comitiva. Isso fortalece as nossas relações e intercâmbios, e a nossa expectativa é de ampliar o apoio após essa visita”, destacou Franco, que na ocasião também representou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A diretora citou também que nos últimos três anos foram feitos investimentos de mais de R$ 26 milhões pelo MCTI/Finep e CNPq em bolsas e apoio financeiro ao projeto. Em dezembro de 2022, foi assinado um Termo Aditivo com a Finep no valor de R$ 17 milhões para o complexo da torre Atto.
Torre Atto
A torre de 325 metros de altura instalada na Floresta Amazônica é um experimento de ponta no estado da arte da ciência atmosférica, estando entre as cinco maiores infraestruturas de pesquisas do Brasil. Foi inaugurada em 2015, possuindo 15 níveis de medições de processos que envolvem as dinâmicas entre biosfera e atmosfera. Além da “torre alta”, o projeto contempla mais duas torres micrometeorológicas de 80 metros cada uma, gerando dados contínuos e um valioso conhecimento sobre o papel da maior floresta tropical do mundo no clima.
O projeto produz informações sobre tópicos relacionados ao clima amazônico como formação de nuvens, precipitação (chuvas) na Amazônia e no Brasil e sobre medições de partículas e gases para entendimento em perguntas como o papel da floresta amazônica em ser uma fonte ou sumidouro de gases de efeito estufa, para amplo entendimento do papel amazônico frente aos cenários de mudanças climáticas.
“É uma honra receber o presidente, a ministra do meio ambiente e toda a comitiva da Alemanha. É um prestígio muito grande, uma vez que a visita do presidente alemão ao Brasil trata de assuntos ligados à democracia e ao clima, que no último caso é o carro-chefe do projeto Atto”, disse o gerente do projeto Atto, Bruno Takeshi.
“O tema floresta amazônica é famoso no mundo, e o nosso projeto estar chegando ao presidente do país é um sinal muito bom para o Atto. Espero que a Alemanha possa continuar dando recursos para continuarmos nosso projeto a longo prazo, além do que já contamos com os nossos financiadores alemães e brasileiros”, contou Susan Trumbore, diretora do Instituto Max Planck de Biogeoquímica (Jena/ Alemanha) e coordenadora do Atto pelo lado Alemão.
Blog - Fala Pesquisador
Para o pesquisador do Inpa, o alemão Jochen Schöngart, a visita traz uma grande oportunidade para discutir a situação da Amazônia, como a de outros projetos que são feitos em cooperação com a Atto. Schöngart é ligado ao Grupo de Pesquisa de Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (MAUA) e da cooperação bilateral Inpa/Max-Planck ‘Áreas Alagáveis’ e desenvolve vários projetos de pesquisa e extensão na RDS do Uatumã e no sítio do Atto.
Eu foquei bastante na conversa com o presidente Steinmeier e a Ministra do Meio Ambiente Lembke sobre as mudanças climáticas que afetam a Amazônia. Destaquei o cenário internacional da Amazônia. Por exemplo, está em discussão criar uma Zona Franca entre a União Europeia e o Mercosul para trazer benefícios econômicos para ambos, mas também falei que seria muito importante ter esses esforços relacionados com a proteção da Amazônia. A Amazônia está sofrendo por mecanismos globais, causados pela humanidade no planeta inteiro, por mercados globais que demandam produtos da agroindústria aqui do Brasil, e isso tem impacto direto para a Amazônia. Por isso, a proteção da Amazônia não pode ser só responsabilidade do Brasil e dos outros países que compartilham a Bacia Amazônica, que fizeram grandes esforços de proteger quase a metade do bioma por unidades de conservação de diversas categorias e terras indígenas. É muito importante que a comunidade internacional reconheça e apoie esse esforço e contribua para o Fundo da Amazônia para desenvolver projetos de conservação e que garantam a proteção dos ecossistemas, mas também das populações indígenas e tradicionais que vivem e dependem desse bioma. Ele [Presidente] compartilhou dessa visão, e espero que as discussões que ele teve com pesquisadores da Alemanha e do Brasil ajudem a resultar em novas políticas públicas ambientais internacionais. Acho que o cenário agora é favorável para isso. Os desafios são enormes. Também destaquei a importância de reflorestar áreas degradadas, e lá temos que ver a situação de diferentes formas de degradação de solos e clima, pensando que as novas florestas precisam ser resilientes a um futuro clima que poderemos prever pelos modelos climáticos. Então, tem que ter muito cuidado na seleção das espécies arbóreas que são resilientes a um futuro clima, adaptadas às condições ambientais e que sejam de uso múltiplo para as populações tradicionais da região.
Veja vídeo no canal do YtouTube InpadaAmazonia/ 2022
Torre Atto e Sistema Amazônico de Laboratórios Satélites
Fotos:
Cimone Barros, Victor Mamede e Shirley Cavalcante