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Pesquisadores discutem sobre Amazônia e o aquecimento global durante I CNPA
Reuniu especialistas e acadêmicos para discutir as implicações do aquecimento global na maior floresta tropical do mundo - Fotos; Victor Mamede
Em um cenário de crescente preocupação ambiental, um dos debates do I Congresso Nacional de Pesquisas sobre a Amazônia, realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) por meio da Coordenação de Capacitação (Cocap), reuniu especialistas e acadêmicos para discutir as implicações do aquecimento global na maior floresta tropical do mundo.
O painel temático “A Amazônia em um planeta em aquecimento” contou com a participação dos pesquisadores do Inpa, Carlos Alberto Quesada e Flávia Costa, além do professor de Bacharelado em Meteorologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), José Augusto Paixão.
Durante o Painel, foi apresentado um panorama sobre a situação da floresta amazônica frente às mudanças climáticas nas últimas décadas e suas possíveis consequências futuras. O debate também explorou como diferentes processos climáticos e o funcionamento dos ecossistemas podem influenciar esses cenários.
Flávia Costa fez uma apresentação sobre “O outro lado da seca", discutindo se as secas podem ter efeitos positivos ou negativos, dependendo do tipo de floresta. De acordo com a pesquisadora, florestas com lençóis freáticos superficiais (água mais próxima da superfície do solo) podem ser mais resistentes à seca do que florestas com lençóis mais profundos, onde as árvores tendem a sofrer mais com a falta de chuva e acabam perdendo carbono. No entanto, em áreas com lençol superficial, as florestas podem absorver mais carbono durante os períodos secos, o que ajudaria a mitigar os impactos negativos das secas. Segundo Flávia, o principal questionamento é se essas florestas resistem bem a secas extremas.“Florestas com lençol superficial, em uma parte considerável da Amazônia, são efetivamente menos vulneráveis à seca. À medida que as secas aumentam, as florestas com lençol mais profundo perdem carbono, mas as com lençóis mais rasos absorvem carbono, ajudando a diminuir o problema. Contudo, o impacto depende de quão vulneráveis essas florestas com lençol superficial são às secas muito intensas e qual a variabilidade dos níveis do lençol freático. Portanto, ainda não sabemos se os resultados que encontramos até agora se aplicam a todas as florestas da Amazônia, o que implica em expandir estes estudos para regiões mais amplas da Amazônia”. .
Carlos Alberto Quesada, coordenador do Programa AmazonFace, trouxe uma explicação sobre “A Amazônia e as mudanças globais”, alertando sobre a necessidade de entender como a floresta está mudando e de que maneira é possível mitigar os impactos das mudanças climáticas.De acordo com o pesquisador, os modelos atuais do sistema global geralmente predizem que a Amazônia responderá de forma significativa ao aumento de CO₂, mas dados de campo mostram o contrário. A Amazônia tem apresentado um forte declínio no sumidouro de carbono nas últimas décadas.
“Por exemplo, ao analisarmos cenários em que o planeta se torna significativamente mais quente e seco, é possível que a floresta amazônica ceda espaço a uma vegetação mais xerófila. É crucial entender quais processos estão impactando essas trajetórias”, destacou.
Quesada também ressaltou que congressos como esse são essenciais para aumentar a interação entre pesquisadores. "Os estudantes conversando entre si, às vezes aquela interação social durante o coffee break, tudo isso é fundamental. Não se faz ciência sem a troca entre pesquisadores e estudantes, assim como entre os próprios estudantes. Portanto, acho que isso é essencial; precisamos disso no instituto e no nosso estado", afirmou.
Para colaborar com assunto, o congresso recebeu ainda a conferência "Florestas e a Crise Climática: Construindo Resiliência", com a ecóloga Mercedes Bustamante, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) com o objetivo de aprofundar as discussões sobre o clima na região amazônica e as possíveis estratégias viáveis.