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Nota de Pesar - Thomas Lovejoy - incansável estudioso e defensor da Amazônia
Thomas Lovejoy, defensor da conservação ambiental na Amazônia. Banner: Tito Fernandes - Editora Inpa
Parceiro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e “diplomata” da ciência brasileira em prol da Amazônia, o biólogo e conservacionista Thomas Lovejoy, de 80 anos, morreu no último sábado (25), em Washington, vítima de câncer no pâncreas. Tom, como era conhecido pelos mais próximos, dedicou sua vida à conservação do planeta, com especial atenção às florestas tropicais amazônicas.
O pesquisador e ambientalista norte-americano inspirou pessoas, ajudou a formar centenas de novos estudiosos e defensores do desenvolvimento sustentável, influenciou tomadores de decisão, nos bastidores ou em importantes reuniões, além do público em geral, mudando o curso da história em vários momentos. Na carreira, foi conselheiro sênior da Fundação das Nações Unidas sobre biodiversidade e ciência ambiental; atuou em conselhos científicos e ambientais sob as administrações de Reagan, Bush e Clinton; consultor chefe de biodiversidade do Banco Mundial e especialista principal em meio ambiente para a América Latina e o Caribe; além de enviado científico especial nas gestões de Barack Obama e Joe Biden.
Formado na Universidade Yale, Lovejoy veio pela primeira vez para a Amazônia em 1965, durante o doutorado. No fim anos de 1970 voltou, e junto com Richard Bierregaard e em parceria com pesquisadores do Inpa criou o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), inicialmente chamado de “Tamanho Mínimo Crítico de Ecossistemas”, um dos seus maiores legados na Amazônia. Fruto de cooperação internacional, o experimento de grande escala investiga o funcionamento de fragmentos florestais e os efeitos do desmatamento sobre a “diversidade biológica”, expressão cunhada por Lovejoy e conhecida como “biodiversidade”.
A ousada e complexa iniciativa já formou mais de 300 mestres e doutores, mais de 1500 assistentes de pesquisas, centenas de alunos treinados em cursos de campo e dezenas de mateiros que aprenderam muito e ensinaram muito mais, segundo o secretário executivo do PDBFF (Inpa/ Smithsonian Tropical Research Institution-SRTI), o pesquisador José Luis Camargo. O PDBFF catalogou milhares de espécies e registrou inúmeros achados científicos que ajudam a entender as consequências da fragmentação florestal ou mesmo a dinâmica de florestas tropicais, com achados que influenciam pesquisadores de várias partes do mundo.
Lovejoy tem uma trajetória reconhecida por diversos prêmios e títulos. No Brasil foi agraciado com a Ordem do Rio Branco (1988) e a Ordem do Mérito Científico (1998). No Inpa, recebeu a Menção Honrosa Rio Negro (2019), a mais alta honraria do Instituto, e recentemente ele foi eleito para a Academia Brasileira de Ciências (ABC) como membro correspondente pela imensa contribuição à ciência ambiental brasileira. Tom soube da honraria há poucas semanas, disse estar muito feliz e agradeceu profundamente pela distinção.
Por tudo que o Thomas Lovejoy representa, lamentamos profundamente a sua partida. E mais uma vez agradecemos por todo o seu esforço científico e sua paixão pela Amazônia para tornar o mundo um lugar melhor para todas as espécies e para as futuras gerações. Aproveitamos para prestar nossas condolências aos familiares, amigos e a todos que com o mestre e amigo conviveram. Descanse em paz, Tom!
Veja mensagens de reconhecimento e despedida ao Thomas Lovejoy
“Todos que participaram e que participam dessa grande escola ou dessa grande aventura científica no coração da Amazônia devem muito ao Tom e em nome de todos eles [equipe PDBFF], tomo a liberdade de dizer que neste momento dedicamos grandes pensamentos ao Tom. Ele nos deixará eternas saudades e nós teremos eternas gratidões. Reconhecemos sua voz contida e educada, seu olhar calmo, tranquilo, especial e visionário do mundo. Viva Tom Lovejoy!”.
Pesquisador José Luis Camargo, Secretário Executivo do PDBFF (Inpa/SRTI), em nota do Projeto.
“Thomas Lovejoy, carinhosamente chamado por Tom, foi um dos mais espetaculares defensores da conservação ambiental na Amazônia. Visitava nosso instituto com frequência para saber dos nossos estudos. Deixa um legado, que inclui o PDBFF (Programa Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais), que o fará vivo sempre. Toda vez que escrevermos ou falarmos “biodiversidade” falaremos de Tom Lovejoy.
Adalberto Luis Val, pesquisador do Inpa e vice-presidente da ABC para a região Norte
Conheci o Tom aos 22 anos, quando vim de Minas trabalhar como estagiária na floresta e ele já era o coordenador do PDBFF. Olhando para trás, naquela época, o que o Tom fazia era criar as condições para que jovens como eu, pesquisadores e estudantes, pudessem de fato ter acesso à Amazônia, porque a Amazônia é um pouco impenetrável para quem é de fora, ela é difícil para você trabalhar. Tom criou um portal, uma ponte. E suas ações foram nessa direção. Ele sempre teve muita sensibilidade sobre as interações entre as instituições, muito respeito pela forma de se organizar a ciência no Brasil, e buscou formar as alianças, articulações, sempre com muito cuidado e delicadeza. Acho que a melhor palavra para descrevê-lo é diplomata, ele é um diplomata da ciência em prol da Amazônia, com uma capacidade de reunir pessoas importantes que podem influenciar o curso da história. Em múltiplas oportunidades ele fez isso, muitas vezes por um trabalho de bastidor, de articular, de promover encontros nos quais fazia as pessoas de verdade olharem e vivenciarem a floresta, a beleza e o extraordinário da Amazônia. Ele fez isso de uma maneira discreta, sempre dando espaço para todo mundo que o acompanhava ter o seu momento de protagonista.
Rita Mesquita, pesquisadora do Inpa e coordenadora de Extensão.
O Tom sempre foi uma inspiração pra gente, tanto como profissional pela sua sabedoria, alcance, equilíbrio, quanto como pessoa, com sua gentileza, capacidade de ouvir e não julgar. Ele nos ensinou que a ciência fala por si mesmo, que não precisa de sensacionalismo sobre a floresta, é mostrar a floresta. A beleza da ciência é que a verdade convence. E o Tom, como todo herói, inspira a gente a ser melhor e vai continuar inspirando.
Mario Cohn-Haft, pesquisador do Inpa e curador da Coleção de Aves.