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Nota de Falecimento - Enéas Salati, ex-diretor do Inpa
Comunicamos com muito pesar o falecimento do ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Dr. Enéas Salati, de 88 anos, no último sábado (05), em Piracicaba (SP). Salati fez Engenharia Agronômica (1955) e doutorado em Agronomia (1958). Atuou em importantes pesquisas e instituições, além da formação de diversos alunos na área de biogeoquímica isotópica e reconhecido por seus estudos que já consideravam a Floresta Amazônica um componente essencial em todos os ciclos biogeoquímicos regionais. Dr Salati foi diretor do Inpa em duas ocasiões: de 1979 a 1981 e 1990 a 1991. Em 2020, em plena pandemia da Covid-19, participou de forma virtual da nossa campanha de aniversário do Instituto #minhahistórianoInpa enviando um vídeo de homenagem ao Inpa. (veja aqui).
Dr. Salati tinha currículo abrangente e premiado. Entre as atuações, destacam-se a coordenação de pesquisas para estudar a origem da salinização das águas subterrâneas do nordeste brasileiro; de trabalhos destinados a verificar as possíveis mudanças de clima na Amazônia em decorrência do desmatamento; de projetos de zoneamento ecológico- econômico para a Amazônia. Foi ainda assessor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, em Washington- DC), consultor do Banco Mundial e consultor do International Financial Corporation (IFC); diretor-técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e membro do Fórum de Mudanças Climáticas.
O reconhecimento do profissionalismo e competência veio também em forma de Prêmios e Títulos, como Prêmio CNPq 45 anos (Ciências ambientais, 1996) e Grã- Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (Presidente da República do Brasil, 1996), Prêmio Ecologia (Banco do Brasil, 1983), Prêmio Roberto Simonsen (1962), Prêmio Epitácio Pessoa (1955) e Prêmio Mauá (1955).
Ao Dr. Salati, nossos sinceros agradecimentos pelas suas contribuições ao avanço da ciência e pela gestão do Inpa; à família, parentes e amigos, nossa solidariedade e condolências pela irreparável perda!
Veja alguns depoimentos.
“Além de ser uma pessoa de fácil convívio e de bom coração, desenvolveu e coordenou vários programas, e ocupou diversos cargos de direção, incluindo o Inpa. Enfrentou muitos desafios e ficará em nossa memória! Lamentamos profundamente a perda de mais um grande cientista e gestor”. Antonia Franco, diretora e pesquisadora do Inpa.
“Ele era um pesquisador com grande visão e impacto; um pioneiro em estudos de isótopos estáveis para entender melhor o ciclo hidrológico na Amazônia que estamos atualmente aplicando em vários projetos científicos, como por exemplo no Projeto ATTO [Amazon Tall Tower Observatory]. É uma grande perda para a ciência brasileira”. Jochen Schöngart, pesquisador do Inpa.
“Tive a honra de conhecer e trabalhar com Enéas quando primeiro cheguei ao Inpa. Ele era diretor do Instituto na época e colaborou conosco no CAMREX [Pré-LBA, Carbon in the Amazon River Experiment], um projeto ambicioso que investigava a biogeoquímica do sistema fluvial da Amazônia em escala continental. Num trabalho pioneiro anterior, usando isótopos estáveis de oxigênio e hidrogênio, Enéas demonstrou que a floresta Amazônica era uma fonte importante de água para a chuva e um componente essencial no ciclo regional de água. Ele sabia, desde o início, que o entendimento deste e os demais ciclos biogeoquímicos dependia de pesquisas que abraçavam a bacia Amazônica inteira. Quando chegamos, ele já tinha construído o Amanaí, um barco perfeito para pesquisas nesta escala, com o espaço e infraestrutura necessários para montar um laboratório sofisticado e realizar coletas e medidas dos fluxos biogeoquímicos em tempo real. Nas 13 excursões que realizamos com o Amanaí, conseguimos caracterizar estes fluxos e calcular os primeiros balanços de água, sedimentos, carbono e nutrientes para o sistema fluvial inteiro. Enéas não podia acompanhar estas excursões, mas ele enviou vários alunos e pesquisadores brasileiros conosco, contribuindo assim para a formação dos primeiros pesquisadores brasileiros especializados em ciclos biogeoquímicos. O mais assíduo dos alunos, Luiz Martinelli, é hoje um dos mais renomados biogeoquímicos do Brasil e já contribuiu para a formação de dezenas de outros alunos, criando um dos maiores grupos de pesquisas biogeoquímicas do país. Ao longo da sua ilustre vida, Dr. Salati também formou inúmeros alunos na área de biogeoquímica isotópica e foi o maior defensor da Floresta Amazônica, que ele a considerou um componente essencial em todos os ciclos biogeoquímicos regionais. Os grandes estudos do papel da floresta nos ciclos biogeoquímicos que seguiram, incluindo o Projetos ABLE 1, ABLE 2, LBA , REE e BARCO, são somente parte da herança que o saudoso Enéas nos deixou. Descanse em paz, velho guerreiro”. Bruce Forsberg, pesquisador aposentado do Inpa.