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Experiências com Hortaliças Não Convencionais são compartilhadas em Live do Inpa
O Caruru ou Major João-Gomes ( Talinum paniculatum), a Onze-horas ( Portulaca grandiflora ) e a Beldroega ( Portulaca oleracea ) estão entre as Hortaliças Não Convencionais (HNC’s) utilizadas no preparo de receitas por comunidades na Amazônia. As experiências de pesquisa e extensão em comunidades brasileiras e mexicanas, com esta diversidade alimentar e biocultural, serão apresentadas em live do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) nesta quinta-feira (28). O evento é gratuito, com transmissão, às 10h (horário de Manaus), pelo canal do Inpa no Youtube/INPAdaAmazonia .
Hortaliças não convencionais (HNC´s) são todas as verduras e os legumes locais ou regionais que não são comumente encontrados nas gôndolas de supermercados de outras regiões, porém fazem parte da alimentação e culinária regional e estão mais presentes em feiras de pequenos agricultores e nas hortas das comunidades rurais. São consideradas um subgrupo das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs).
Para falar da importância das HNC’s e de sua utilização na culinária regional, a doutoranda em Ecologia Tropical na Universidad Veracruzana (México) e egressa em Ecologia do Inpa, a agrônoma Thelma Pontes, participará da Live “Hortaliças Não Convencionais: experiências na Amazônia brasileira e no México” . Os interessados podem se inscrever no endereço https://www.even3.com.br/hortalicasnaoconvencionaisamazoniabremex/ ou acessar diretamente o evento clicando aqui . Os inscritos receberão declaração de participação de 3 horas.
“A Thelma apresentará a experiência de cultivo das HNC’s, já expressa em publicações científicas, a partir de estudos no Brasil e no México. Será uma oportunidade para conhecer sobre as técnicas de preparo das HNC’s e os aspectos culturais presentes no resgate dos saberes originais”, destacou a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa e mediadora da Live, Denise Gutierrez.
Parcerias
Pontes participa de um estudo em colaboração com mulheres da Organização Não Governamental chamada Vinculacíon y Desarollo Agroecológico en Café (VIDA AC) nas altas montanhas do Estado de Veracruz, no México, e desenvolve um projeto no Centro de Investigaciones Tropicales (CITRO) da Universidad Veracruzana (UV), financiada pelo CONACYT (Governo Mexicano). Ela explica que no México as hortaliças não convencionais são chamadas de quelites , palavra oriunda do Nahuatl, uma das línguas dos povos originários do México.
A culinária tradicional mexicana utiliza diferentes partes dos quelites , incluindo a planta completa (sem a raiz), sementes, galhos ou brotos jovens, folhas e flores, o que é complementado com diversos cogumelos e insetos coletados. “O propósito do meu projeto é estudar e aprender um pouco mais sobre etnobotânica, sobre os territórios bioculturais e sobre os saberes das mulheres cafeicultoras (produtoras de café no México), com enfoque na soberania alimentar e no feminismo campesino e popular”, comenta Pontes.
O trabalho colaborativo realizado pela pesquisadora já resultou em um ensaio em coautoria com sete mulheres cafeicultoras (disponível em: http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/cadernos/article/download/6594/4824 ), no qual apontam seis princípios para a soberania alimentar e relatam a importância do sistema de troca, da coleta de alimentos silvestres e do cuidado com a saúde integral (física, mental, emocional e espiritual) para alcançar e fortalecer a soberania alimentar em seu território. “Levo sempre todos os ensinamentos das minhas vivencias na Amazônia, porque foi onde me reencontrei, revalorando e ressignificando as verduras que minhas avós e minha mãe plantavam e cozinhavam na minha infância”, pondera.
Pontes também menciona outro projeto em que uma cientista brasileira esteve colaborando, o Cozinha CoLaboratório , uma parceria entre várias instituições internacionais que desenvolve projetos relacionados às HNC´s e contou com a colaboração da Doutora Irene Cardoso, da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.
Atuação na Amazônia
Durante dez anos em que esteve na Amazônia, Thelma Pontes concluiu o Mestrado em Ecologia no Inpa e atuou em projeto de extensão sobre as Hortaliças Não Convencionais por dois anos, o que resultou em duas cartilhas disponíveis no repositório da Instituição: Hortaliças não convencionais: como cultivar e Hortaliças não convencionais: sugestões de preparo e composição nutricional .
Além das cartilhas, Pontes participou de intervenções para a divulgação das HNC’s em Manaus, como a instalação de uma horta orgânica em estação do Inpa localizada no Km 14 da BR 174, para a reprodução de sementes e mudas; e oficinas de técnicas agroecológicas e de cultivo das HNC’s no Assentamento do Brasileirinho, em comunidades ribeirinhas de Manacapuru e no Assentamento Tarumã-Mirim. Também apoiou produtores da Rede Maniva de Agroecologia (Rema) no processo de certificação participativa e consolidação da feira de produtos orgânicos, que atualmente acontece às quintas-feiras, a partir das 14h, na Assinpa (Clube do Inpa), localizada na rua da Lua, Morada do Sol, bairro Aleixo.
Onde encontrar as HNC’s
O público pode ter acesso às HNC’s em feiras locais de pequenos agricultores e nos mercados de produtos regionais, a exemplo da feira da Rema. A doutoranda sugere, ainda, o livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil”, dos autores Valdely Kinupp (egresso do Inpa e professor do Ifam) e Harri Lorenzi (Instituto Plantarum), e páginas nas redes sociais que divulgam e ensinam sobre as hortaliças, como @sfmanaus, @matosdecomer, @brunacrioula, @neiderigo, @irany.arteche e @belagil e o blog come-se .
Minibio
Thelma Mendes Pontes nasceu na Mata Atlântica, nas montanhas de Minas Gerais. É neta de Edith e Mariquinha, agricultoras, erveiras e costureiras. Em Minas, graduou-se em Agronomia (UFV) e se reencontrou com a Agroecologia. Viveu dez anos na Amazônia, onde fez mestrado em Ecologia no Inpa e trabalhou no projeto de extensão com as Hortaliças Não Convencionais, outro reencontro em sua vida. Viveu na fronteira com Peru e Colômbia, em Benjamin Constant, onde lecionou no Instituto de Natureza e Cultura (INC-Ufam), e continuou desenvolvendo projetos de extensão com agrofloresta e PANC, onde gestou Eduardo e Flora. Em 2016, mudou-se para o Cerrado, para Gurupi. Lecionou por quatro anos na UFT, onde conheceu as hortaliças, as frutas e as medicinas do Cerrado. Em 2020, deixou de ser servidora pública e foi para o México fazer Doutorado em Ecologia Tropical, na Universidad Veracruzana , para aprender sobre transdisciplinaridade e metodologias participativas, os territórios bioculturais, a soberania alimentar e, principalmente, sobre os saberes das mulheres cafeicultoras sobre as plantas silvestres comestíveis e a trajetória de vida com o feminismo campesino e popular.
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Texto: Mateus Bento / Cotes Inpa
Edição: Cimone Barros/ Comunicação Inpa
Fotos: Rosalle Coelho e Thelma Mendes