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Sumário para Tomadores de Decisão
Pesquisadores do Inpa participam de publicação que mostra meios de integrar conservação ambiental e produção rural
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) participaram da produção de um relatório que reúne o conhecimento científico, a experiência de agricultores e saberes tradicionais, visando conciliar as agendas de agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos em prol da sustentabilidade do Brasil. O relatório foi resumido em uma versão compacta, o ‘Sumário para Tomadores de Decisão’ (STD).
A publicação da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) mostra que o modelo de uso da terra predominante no Brasil, o agronegócio (agricultura, pecuária e silvicultura), se beneficia e depende da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Aborda ainda as soluções para tornar a pecuária uma prática mais sustentável e inclusiva. O resumo foi produzido por 35 pesquisadores que adaptaram o relatório para uma versão didática e mais acessível.
O relatório é um diagnóstico minucioso e importante com informações relacionadas às interações entre os usos do solo e biodiversidade brasileira, sob a ótica do bem-estar humano. O texto traz propostas para um melhor manejo do capital natural no meio rural em um cenário extremamente importante e desafiador que é o da agricultura no Brasil.
A agricultura é um dos setores de maior importância ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas) nacional, o que traz grande pressão sobre a sua demanda e importância nacional. Conforme o Relatório, no Brasil, as áreas cultivadas, pecuária e silvicultura contribuem para 21,4% do PIB e com 19,5% da força de trabalho nacional. Além de potência agrícola, o Brasil também é campeão em biodiversidade, abrigando 20% de todas as espécies do planeta, com a Amazônia no topo de ranking dos biomas mais biodiversos.
A finalidade do resumo é influenciar gestores e lideranças - governantes, comitês de bacias, conselhos de meio ambiente e agricultura, empresas, organizações não governamentais, associações e cooperativas de produtores rurais e parlamentares - na tomada de decisões com foco na sustentabilidade e no equilíbrio da tríade agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos.
O Sumário é dividido em seis capítulos e possui 200 páginas, o relatório completo tem lançamento previsto para setembro de 2024. Mais de 100 profissionais de várias áreas estiveram envolvidos na produção do relatório, ao longo de três anos. Entre eles, 75 pesquisadores de 41 instituições diferentes de todos os biomas brasileiros, 15 revisores externos e 10 participantes do scoping.
Participaram da produção do documento, pelo menos cinco profissionais ligados ao Inpa: o diretor, o professor Henrique Pereira, que é docente da Universidade Federal do Amazonas (Ufam); a docente dos Programas de Pós-Graduação em Ecologia e Botânica do Inpa, Juliana Hipólito; a secretária Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais (SBio) do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a pesquisadora Rita Mesquita; a coordenadora-geral de Pesquisa, Capacitação e Extensão, a pesquisadora Sônia Alfaia; e o pesquisador Charles Clement, aposentado recentemente.
De acordo com o diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira, pesquisadores do Inpa e de outras organizações sediadas na Amazônia foram fundamentais para que o relatório e o sumário contivessem informações precisas sobre as especificidades do bioma.
“Também colaboramos com informações sobre os diversos sistemas agrícolas de produção como modelos e repertórios de conhecimentos agroecológicos estratégicos para o desenho de sistemas sustentáveis de produção agrícola adaptados à região, como é o caso dos sistemas agroflorestais”, disse Pereira. “Assim está destacado nos documentos a importância dos sistemas indígenas e tradicionais de cultivo agrícola e manejo agroflorestal, bem como a importância da Amazônia como centro independente de origem da agricultura”, completou Pereira.
Para a bióloga Juliana Hipólito, docente dos Programas de Pós-Graduação em Ecologia e Botânica do Inpa, ao mesmo tempo em que se sabe da necessidade e dependência em relação à agricultura, é preciso demonstrar aos tomadores de decisão que sem a conservação da biodiversidade, não é possível manter a produção.
“Portanto, medidas de conservação e restauração são essenciais para que possamos sobreviver. Neste relatório, trazemos dados tanto relacionados aos fatores econômicos da biodiversidade, quanto da sua importância múltipla e como isso se reflete nos fatores agrícolas”, destacou Hipólito, que também é revisora da Acta Amazonica, revista científica e multidisciplinar do Inpa.
Hipólito participou de uma seleção antes do início do relatório para atuar como Jovem pesquisadora na plataforma, no relatório temático agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos. "Ao final foram 15 pesquisadores selecionados para esse relatório e foi uma experiência bastante gratificante de aprendizado, troca e experiência", contou.
Sobre a BPBES
O relatório foi produzido pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) – A BPBES (sigla, em inglês), uma iniciativa lançada em 2017 que congrega um grupo independente de cerca de 120 especialistas, dentre professores universitários, pesquisadores, gestores ambientais, detentores de conhecimentos tradicionais e tomadores de decisão.
A Plataforma tem como objetivo elaborar sínteses do melhor conhecimento disponível pela ciência acadêmica e pelos saberes tradicionais sobre as temáticas da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos e suas relações com o bem-estar humano, com foco nos biomas continentais do Brasil (Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Campos Sulinos) e na área Marinha-Costeira.
Para debater, ouvir críticas, sugestões e compartilhar os principais resultados, promove reuniões setoriais de trabalho com grupos de interesses variados, como representantes do governo federal, organizações não governamentais, empresas, etnias indígenas e jornalistas.
A iniciativa é inspirada na Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) da ONU, lançada em 2012, e que funciona como o “IPCC da Biodiversidade”. Em sua criação, a BPBES teve suporte do CNPq, do Programa Biota/Fapesp, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Atualmente conta com apoio financeiro do Instituto Serrapilheira e com recursos advindos de emendas parlamentares.
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