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Nanobiotecnologia estimula o crescimento de castanheiras cultivadas em áreas degradadas na Amazônia Legal
Visita ao plot do projeto no Ifam Zona Leste. Foto Débora Vale - Ascom Inpa
Estudos com plantios florestais de castanheira-da-Amazônia (Bertholletia excelsa) mostraram que a espécie é a alternativa mais viável para investimento em plantios de alto desempenho estabelecidos em áreas degradadas na Amazônia brasileira. Os resultados do monitoramento da castanheira em três diferentes sistemas de cultivo (plantios puros, mistos e sistemas agroflorestais) são animadores já no primeiro ano do projeto no campo, indicando que a aplicação de nova tecnologia (nanomolécula arbolina) sinaliza para um aumento no crescimento da espécie da ordem de 30% quando comparado com os indivíduos sem uso da nanomolécula.
Os dados são do projeto Nanorad’s, experiência coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), pela Krilltech Nanotecnologia Agro e desenvolvida com mais 15 instituições de ensino superior e pesquisa. O investimento é de aproximadamente R$ 6 milhões da Shell Brasil, e com suporte técnico na mensuração florestal da Treevia.
A rede de pesquisa é formada por cerca de 100 pesquisadores e bolsistas vinculados às instituições dos nove estados da Amazônia Legal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), única instituição fora da Amazônia, responsável por estudos da castanheira em ambiente controlado. Iniciado em 2022, o projeto tem duração de três anos, e já conta com expectativa de renovação e ampliação do projeto.
A arbolina é um biofertilizante que potencializa a fotossíntese e protege a planta dos estresses da natureza, como baixa disponibilidade de nutrientes, alta irradiância solar e temperatura em áreas desflorestadas. Nos experimentos do projeto, a nanomolécula é pulverizada nas folhas da castanheira em sistemas de plantio puro (somente castanheiras), misto (castanheiras com ingá, que é uma espécie fixadora de nitrogênio) e sistema agroflorestal (castanheira combinada com a bananeira, cacau e ingá).
O diretor do Inpa, Henrique Pereira, destaca que o projeto trata de questões cruciais, como a recuperação de áreas degradadas e o desenvolvimento do conhecimento da silvicultura de espécies florestais nativas da Amazônia.
“Este projeto é inovador sob vários aspectos. Diria por trazer para uma prática milenar, que é o cultivo de árvores utilizando nanotecnologia, biotecnologia. É também inovador no arranjo institucional, pois se trata de um projeto de parceria público-privada. Inovador também por ser uma rede de parceiros que tem uma cobertura em toda a Amazônia Legal”, ressaltou o diretor.
Outra importante estratégia adotada pelo Nanorad’s é envolver estudantes do Ensino Médio, além dos bolsistas de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) e de pós-doutorado. “Estou gostando muito de participar do projeto, porque estou tendo a visão de uma tecnologia que pode ajudar até com as questões do desmatamento da Amazônia. Temos sentido a necessidade de ter mais árvores, e ajudar a construir isso é muito importante”, contou Ana Vitória Oliveira, estudante de agroecologia do Ifam Zona Leste e bolsista do projeto.
Monitoramento
No total, o Nanorad’s é composto por dez plots (áreas experimentais), um em cada estado da Amazônia Legal, exceto o Amazonas que conta com dois. Uma área no Instituto Federal de Educação em Manaus (Ifam, zona Leste) e outra no Ifam Humaitá. Cada plot possui um hectare (100m x 100m), onde as castanheiras dos três sistemas de cultivos são monitoradas em tempo real por 600 sensores digitais. Com os dendrômetros instalados, a equipe do projeto monitora dados de diâmetro, altura, ganho de biomassa, estoque e assimilação de carbono das mudas de castanheiras.
De acordo com o coordenador do Nanorda’s, o pesquisador do Inpa José Francisco Gonçalves, com base no aumento da biomassa (maior incorporação de CO2) nos diferentes sistemas de plantio, a castanheira consegue desenvolver ritmo de crescimento maior no início no sistema onde não há competição devido à própria plasticidade da espécie, que é capacidade de tolerar os estresses do ambiente. No entanto, logo que os plantios se estabelecem, os benefícios e a maior sinergia entre as espécies começam a se destacar, seja pelo fornecimento de nitrogênio ou pela melhor adequação térmica e hídrica proporcionadas pelos plantios misto e agroflorestal, respectivamente.
“A castanheira tem demonstrado que é a alternativa mais viável para investimento na silvicultura de alto desempenho para a Amazônia, seja em plantios puros ou consorciados”, afirmou Gonçalves, coordenador do Nanorad’s e do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Vegetal (LFBV) do Inpa.
Carvalho destaca que o projeto propõe soluções para os diversos segmentos relacionados à produção e à sustentabilidade. “Atende demandas do pequeno, médio e o grande produtor, devido às características dos tratamentos estudados e por apresentar aderência às agendas globais do clima e da ONU para a década da restauração ambiental, tão debatida no Brasil e no mundo para os grandes desafios da Amazônia”.
Financiamento
A Shell Brasil financia o projeto com recursos oriundos da cláusula PD&I da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que estabelece que as concessionárias destinem 1% da receita bruta em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil.
As instituições de ensino e pesquisa vinculadas ao projeto são: UFV, Universidade Federal do Acre (Ufac), Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), universidade Federal do Tocantins (UFT), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Embrapa Cocais, Ifam, Ifap, IFRO, UERR, Emater-RO, IFPA, IFMA, Emater-MT e Secretaria de Agricultura-TO.