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Mortalidade acelerada de árvores diminui a capacidade da floresta amazônica de absorver carbono da atmosfera
Fotos: Victor Mamede
As árvores da Amazônia estão morrendo de forma mais rápida nas últimas décadas. As causas e evidências dessa mortalidade foram discutidas na segunda palestra dos Seminários da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) sobre eventos extremos climáticos. A pesquisadora da Universidade de Birmingham e integrante da Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor), a ecóloga Adriane Esquivel-Muelbert, trouxe dados que apontam para mudanças na dinâmica de crescimento e morte das árvores amazônicas durante a palestra “Efeito das secas sobre a mortalidade de árvores na Amazônia”.
“As florestas têm o papel fundamental de regular o clima e quando perdemos árvores perdemos esse papel”, destaca a pesquisadora ao explicar a importância de entender as causas da morte de árvores na região. Além dos serviços ecossistêmicos regulatórios, como os benefícios de regulação de seca, inundação e degradação do solo, a floresta amazônica é responsável por absorver aproximadamente 12% do carbono (CO2) emitido na atmosfera do planeta.
“São quase 15 a 20 anos de emissões que a floresta amazônica estoca. A grande pergunta é se a floresta ainda vai continuar fazendo esse papel de sumidouro de carbono mesmo com o clima mais árido e que não seja tão propício às formações vegetais que evoluíram na região”, questiona.
A distribuição de espécies de árvores na floresta está diretamente ligada à distribuição das chuvas. As regiões com mais chuvas ao longo do ano apresentam mais diversidade de espécies de árvores. Em áreas onde a estação seca é mais acentuada a diversidade é menor. “A seca parece controlar a composição de espécies na Amazônia e também a diversidade”, aponta a pesquisadora.
As características de morte e crescimento das árvores dependem da região na qual estão distribuídas na floresta amazônica. “No oeste da Amazônia, as taxas de mortalidade são mais altas. É uma região com mais fertilidade do solo e isso influencia no crescimento das árvores, elas crescem mais rápido e ficam mais suscetíveis ao vento”, explica Muelbert. O rápido crescimento aliado a baixa resistência a ventos leva a um ciclo de mortalidade de árvores mais acelerada. Já no sudoeste da Amazônia o estresse hídrico pela falta de água, é apontado como um fator que afeta a mortalidade dessas árvores.
Os estudos apresentados pela professora de Birmingham apontam que espécies de árvores que crescem mais rápido tendem a morrer mais rápido. Com o aumento da quantidade de CO2 na atmosfera, há uma tendência de aumentar a proporção de árvores de crescimento rápido. Esta mudança na composição de espécies da floresta afeta os serviços ecossistêmicos que ela realizará.
“Inicialmente houve um aumento na absorção de CO2 pelo crescimento rápido (efeito de sumidouro de carbono) até aproximadamente 2010, mas em poucas décadas este CO2 começa a voltar à atmosfera de forma mais rápida, pela morte destas árvores que cresceram rápido, mas morrem rápido, e é isso que parece estar acontecendo agora”.
Explica a pesquisadora do Inpa Flávia Costa, coordenadora do Sítio 1 do Projeto Ecológico de Longa Duração (PELD), na Reserva Florestal Adolpho Ducke, onde são coletados alguns dos dados usados nos estudos. Costa também é uma das organizadoras dos Seminários da Amazônia.
Até 2010, quando houve a seca mais drástica da região até então registrada, a capacidade da floresta amazônica de absorver carbono era maior que sua emissão. Após esse período, houve um declínio nessa capacidade e em 2015, durante o fenômeno ‘El Niño’, que causa seca na região, a maior floresta tropical contínua do mundo parou de absorver carbono. Ao longo dos anos, a floresta tem perdido sua propriedade de ser um sumidouro de carbono, ao mesmo tempo que a taxa de mortalidade de árvores tem aumentado.
Segundo Muelbert, isso são evidências do estresse hídrico mudando a floresta. A pesquisadora ressalta ainda que é difícil atribuir uma causa única e certa ao aumento do índice de perdas de árvores, devido à coleta de dados ser feita ao longo de muitos anos. “É super complicado atribuir com certeza que um fator está aumentando ou diminuindo a mortalidade. São dados que exigem muitas medidas [ao longo do tempo] e isso exige um esforço colaborativo enorme de milhares de pessoas.”
Os aspectos socioeconômicos também foram destacados por Muelbert, já que as mudanças climáticas aceleram a mortalidade de árvores e transformam as relações das populações locais com a floresta, na qual baseiam seus modos de vida, além de ter impacto em outras regiões do país. “A gente também está falando de produção de alimentos e toda a produção de commodities não na Amazônia, mas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste que são afetadas pelas mudanças de clima que a Amazônia faz”, ressalta.
Seminários da Amazônia
Realizado no Inpa desde a década de 1970, os Seminários da Amazônia se constituem num espaço de diálogo e debate sobre temas que envolvem a Amazônia e pesquisas científicas. Os Seminários acontecerão duas vezes por mês, às 16h, no Centro de Convivência, campus 1 do Inpa. A nova fase está organizada em ciclos temáticos, priorizando a apresentação de cientistas da instituição.
A próxima palestra dos Seminários da Amazônia acontecerá no dia 6 de junho com a pesquisadora Flávia Costa tratando sobre “Impactos ecológicos das secas na Amazônia”. O evento é gratuito e aberto ao público interessado em conhecer mais sobre a Amazônia e os impactos das mudanças climáticas nesse bioma por meio das pesquisas realizadas pelo Inpa e parceiros.