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Charles Clement recebe homenagem por contribuição na ciência e conhecimento da Amazônia
A homenagem foi realizada durante a participação do pesquisador nos Seminários da Amazônia. Foto: Pedro Felipe
O pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) Charles Clement foi homenageado pela comunidade do Inpa por sua contribuição na ampliação do conhecimento sobre a flora Amazônica e na formação de novos cientistas. A homenagem aconteceu durante sua participação na sétima edição dos Seminários da Amazônia, na última quinta-feira (18/07). O pesquisador abordou a relação entre consumo e a sustentabilidade da vida humana como conhecemos.
Clement é referência em ecologia histórica e domesticação de plantas, especialmente pupunha. Durante sua carreira de mais de 40 anos no Inpa, ele orientou mais de 70 estudantes, da graduação à pós-graduação, e apesar de estar aposentado desde 2023, continua orientando estudantes. Os egressos são, na opinião de Clement, seu legado para a Amazônia e o Brasil. “Foi uma honra ser homenageado pelos colegas do Inpa e ouvir as palavras gentis sobre minha influência nas suas vidas profissionais”, declarou Clement sobre a homenagem.
Doutor em Horticultura e mestre em Biologia, o biólogo é oriundo dos Estados Unidos e filho de um conservacionista e de uma enfermeira. Clement chegou a Manaus em 1975, na época, o diretor do Inpa, Warwick Kerr, ofereceu ao jovem a oportunidade de aprender português e conhecer a Amazônia. Sua carreira começou na Estação Experimental de Silvicultura Tropical (a 60 km da cidade de Manaus), onde ajudou a instalar parte da infraestrutura básica da estação. Contratado em 1º de abril de 1977, trabalhou na abertura e estruturação da Estação Experimental de Fruticultura Tropical.
Flávia Costa, uma das organizadoras dos Seminários da Amazônia, juntamente com Ana Carla Bruno e Vera da Silva, salientou que é deveras importante que o trabalho dos pesquisadores e a dedicação sejam reconhecidos por meio de homenagens no Inpa. “Precisamos ter mais homenagens para todas as pessoas que dedicaram a vida ao Inpa e que se aposentaram. É muito importante ter essas homenagens ainda em vida. O Charles é muito importante, e eu penso que todo mundo que dedicou a vida para o Inpa precisa ser homenageado”, declarou Costa.
O diretor do Inpa, Henrique Pereira, destacou a dedicação de Clement, que mesmo após aposentado ainda continua produzindo e orientando alunos. “Ele tem sido para muitos de nós um guia dos rumos que temos que perseguir. Todos somos admiradores de sua carreira”, pontuou Pereira.
Palestra
Antes da homenagem, Charles ministrou a palestra em que abordou a relação entre consumo da população do planeta e sustentabilidade da vida humana como conhecemos, intitulada “A insustentabilidade da Amazônia — Um dos dilemas do século 21”.
Segundo Clement, o sistema político-econômico e o estilo de vida atual estão levando a sociedade para o colapso iminente e para evitar esse futuro é preciso repensar os modos de vida coletivamente. A maior responsabilidade por essa mudança é do ser humano [nós] e somente a sociedade pode organizar-se para pressionar os governos que têm a possibilidade de tomar medidas mais efetivas para as mudanças necessárias.
O pesquisador defende, ainda, que para um desenvolvimento ser realmente sustentável precisa garantir um nível mínimo de bem-estar para todas as pessoas igualmente, respeitando os limites da natureza e sem ameaçar outras espécies. “O desenvolvimento atual é insustentável. Os humanos estão tomando o lugar das outras espécies e isso significa que a biodiversidade está sendo extinta”, frisa.
Clement diz que o desenvolvimento é sobre escolhas. Ele aponta que em 2011 a população mundial ultrapassou o limite de uso dos recursos naturais oferecidos pela natureza. “A biocapacidade do planeta é de 12,2 bilhões de hectares, a pegada ecológica dos humanos em 2011 foi 18, 3 bilhões de hectares. Já são mais de dez anos usando mais do que é disponibilizado pela natureza, isso é degradação. Os ecossistemas estão sendo degradados porque estamos consumindo demais.”
Segundo Clement, é preciso repensar o que se define como desenvolvimento e buscar a sustentabilidade por meio de um desenvolvimento que mantenha a floresta em pé. A conservação das florestas é essencial para enfrentar as mudanças climáticas em curso no planeta. A mudança de hábitos, também é apontada pelo pesquisador, como uma forma de buscar a sustentabilidade da vida humana como conhecemos. “Não sabemos como desenvolver com a floresta em pé. Desenvolvimento sustentável é sobre decisões e precisa de mudanças no comportamento das pessoas”, ressalta.