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Certificação Ambiental
PORTO TROMBETAS (PA). Perto, não é. Nem fácil de se visitar. Quem vem do sul, tem de voar até Manaus, esperar cinco horas e embarcar num dos três vôos semanais da Varig, vôos que duram 45 minutos, até chegar a Porto Trombetas, no noroeste do Pará. É a única cidade do Ocidente a conseguir a certificação ISO 14001, de excelência em gestão ambiental. A certificação foi mais difícil de se conseguir porque Porto Trombetas é uma vila que pertence integralmente à Mineração Rio do Norte, MRN, empresa que explora uma grande jazida de bauxita, matéria-prima do alumínio. A exploração da bauxita é feita a céu aberto, o que implica o total desmatamento da área e a produção de grandes quantidades de uma lama argilosa que, depositada no curso dos igarapés, aterra os seus cursos e cria um terreno completamente estéril, como aconteceu com o Lago Batata, no início da exploração da mina, no começo dos anos 70. A jazida de bauxita de Trombetas foi descoberta através de fotografias de satélites pela Alcan, empresa canadense que é das maiores produtoras de alumínio do mundo. Só que os satélites indicam a possibilidade de uma ocorrência, não a sua localização exata nem o seu tamanho. Isso só pode ser feito pelos geólogos, que chegaram ao lugar da mina abrindo picadas na floresta, guiados por mateiros recrutados entre a população ribeirinha. Alguns desses pioneiros ainda trabalham na empresa. O mercado de bauxita tem alterações cíclicas de preço. Na década de 70 os preços estavam em baixa e a Alcan, que já investira na pesquisa geológica e no planejamento a longo prazo, desistiu do negócio. O governo militar, nacionalista, fez a Vale do Rio Doce, que não estava no negócio de alumínio, entrar no capital da empresa, associada ao grupo Votorantim e a seis empresas estrangeiras. O governo entrou com incentivos da Sudam e um pequeno empréstimo do Banco da Amazônia. Um pool de bancos estrangeiros emprestou 70% do capital necessário para o início da exploração da mina e a construção do porto que leva o minério para as usinas no Brasil e no resto do mundo. Os custos previstos mais que dobraram em virtude do que se chamou de fator amazônico, essencialmente dificuldades de logística. A exploração atrasou um ano, os sócios brigaram, alguns venderam suas participações, os primeiros lucros só apareceram nove anos depois do primeiro embarque de minério. A implementação da infra-estrutura projetada, retardada no período das vacas magras, foi retomada gradativamente. Em meados da década de 70 não existiam no Brasil maiores cuidados com o meio ambiente da Amazônia, embora já existisse pressão da opinião pública dos países desenvolvidos para que cuidados fossem tomados. Na Noruega, o lobby dos ambientalistas obrigou a estatal Aardal Sundal Werk a sair do negócio, através de uma resolução do Parlamento proibindo empresas do país de participarem de projetos ambientalmente agressivos na Amazônia. A cidade modelo Talvez tenha sido a crítica norueguesa que fez com que os sócios da MRN decidissem investir num programa de desenvolvimento sustentável a longo prazo. Talvez tenha sido o progresso da idéia no mundo empresarial e, em particular, na Vale do Rio Doce, que continua a ser a principal acionista da empresa. Ou, ainda, a crença, hoje consolidada, de que tratar respeitosamente o meio ambiente gera maiores lucros no presente e evita problemas no futuro. É José Carlos Soares, engenheiro de minas formado em Ouro Preto e hoje presidente da MRN, que chegou a Porto Trombetas há 22 anos e se considera mais paraense que mineiro, quem diz isso. Diz que não conhece uma só empresa que tenha investido na preservação do meio ambiente que não tenha gerado mais lucros para os seus acionistas. Os da MRN são hoje espetaculares: perto de 50% de seu faturamento de US$ 300 milhões por ano.O fato é que, contrariando a má reputação internacional dos brasileiros no manejo da Amazônia, a MRN conseguiu construir uma cidadezinha modelo no meio da selva, a 500 quilômetros de Manaus e a 900 de Belém, capital do estado onde fica o vasto município de Oriximiná, do qual Porto Trombetas faz parte, além de criar um padrão de qualidade para a exploração da mina. Porto Trombetas tem tudo o que as empresas de certificação exigem para atestar a gestão ambiental perfeita: coleta de lixo seletiva; fábrica de compostagem, onde o lixo orgânico é transformado em adubo; 100% de água tratada nas casas e nos alojamentos; saneamento básico total; reflorestamento cuidadoso de áreas devastadas pela exploração das minas de bauxita e, sobretudo, intenso trabalho de educação ecológica, que começa na escola com crianças de 5 anos e vai até o fim do ensino médio, abrangendo também os trabalhadores e a população das aldeias ribeirinhas. A certificação de Porto Trombetas foi contratada com uma empresa norueguesa, a DNV, que está no ramo há mais de 250 anos. Começou fazendo a certificação de navios veleiros, servindo seguradoras, e evoluiu para os certificados das famílias ISO. A DNV fez três auditorias, apresentando listas de itens que deveriam ser atendidos. Completado o trabalho, Porto Trombetas e as minas de bauxita receberam a aprovação, e a certificação foi feita pelo Inmetro, o instituto oficial de metrologia, que é um dos melhores do mundo. É a primeira cidade do Hemisfério Ocidental a receber essa certificação. No Japão há duas outras. Refazendo a floresta Quando a floresta é derrubada para permitir a extração da bauxita, um grupo de mateiros é chamado para recolher as sementes das árvores. Elas servirão para fazer as mudas a serem replantadas. Chamadas também são as biólogas e botânicas, encarregadas de recolher orquídeas e bromélias, que serão levadas de volta à floresta para restabelecer a diversidade biológica. O viveiro de Porto Trombetas produz 800 mil mudas de 400 espécies diferentes de árvores amazônicas e o orquidário reproduz mudas de 60 espécies de orquídeas. A escolha das espécies para plantio é feita de forma rigorosamente aleatória. Os mateiros passam por um viveiro, pegando uma muda aqui, outra ali, colocando-as no seu tabuleiro onde cabem 24 mudas, que depois é levado para a zona de plantio. Dessa forma, a floresta é reproduzida o mais semelhante possível com a floresta derrubada. Diz Evandro Soares da Silva, caboclo nascido em Manaus, responsável pelos viveiros: — Assim que a floresta começa a crescer, a fauna também se instala. Primeiro, chegam os mamíferos de pequeno porte, que se alimentam de frutas e nozes. Depois, chegam os seus predadores de diversos tamanhos. As onças ch