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Novo gênero e espécie de borboleta é descoberto na bacia do Rio Doce, em Minas Gerais
Pesquisadores brasileiros descobriram um novo gênero e espécie de borboleta durante expedições realizadas nas montanhas do leste de Minas Gerais, como parte de um projeto que estuda ecossistemas rochosos da Mata Atlântica. A nova espécie, batizada como Agojie rupicola, encontra-se ameaçada de extinção. O artigo científico descrevendo a borboleta foi publicado na sexta (15) na revista científica “Zootaxa”, tendo como autores um grupo de estudiosos do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
Durante uma dessas expedições, uma pequena borboleta de asas castanho-avermelhadas chamou a atenção do entomólogo Danilo Cordeiro, do INMA, um dos autores do trabalho. Danilo coletou a borboleta e encaminhou para Thamara Zacca, professora do Departamento de Entomologia do Museu Nacional da UFRJ. “A identificação das espécies, à primeira vista, pode até parecer algo simples, mas requer muito estudo e pesquisas até a definição de um nome”, explica a professora.
Após estudos minuciosos, veio a confirmação de que era uma espécie ainda desconhecida com características peculiares que justificam a proposição de um novo gênero. Os pesquisadores batizaram a borboleta, então, como Agojie rupicola, homenagem que uniu ciência e cultura pop, já que o nome remete às guerreiras Agojie do reino de Daomé, na África Ocidental, cujo papel de liderança foi protagonizado por Viola Davis, no cinema, no filme “A Mulher Rei”. Já o nome específico, rupicola, faz referência ao habitat onde foi encontrada: os ambientes rochosos da Mata Atlântica.
A borboleta ainda ganhou um nome popular, "borboleta-guerreira-das-pedras", como forma de levar essa descoberta para além da comunidade científica, tornando-a mais facilmente conhecida pela população. "Temos que contar a todos sobre a nova borboleta, que acabou de ser descoberta mas já se encontra ameaçada de extinção pelo desmatamento, fogo e invasão dos seus habitats por gramíneas africanas", explica Danilo Cordeiro.
A pesquisa começou a ser desenvolvida a partir do estudo das 250 borboletas e mariposas (insetos da ordem Lepidoptera) que foram doadas pelo INMA ao Museu Nacional/UFRJ em 2022, para ajudar a reconstruir a coleção científica do Museu, destruída por um incêndio em setembro de 2018. Os insetos foram coletados em expedições na Serra do Padre Ângelo e Serra do Parado, em Conselheiro Pena/MG, e na APA Pedra de Santa Rita, em Santa Rita do Itueto/MG.
Segundo Thamara, "as coleções científicas são valiosas fontes de conhecimento sobre a biodiversidade. A coleção entomológica do Museu Nacional era uma das maiores e mais antigas do Brasil, sendo uma referência nacional e internacional. Reconstruir essa coleção é fundamental para ampliar o nosso conhecimento sobre as espécies brasileiras. Uma vez incorporados à coleção, os espécimes podem ser estudados e identificados por especialistas, como é o caso dessa borboleta, gerando subsídios para diversas descobertas e pesquisas em outras áreas, como a saúde e a agricultura", explica a pesquisadora.
Para Paulo Minatel Gonella, pesquisador da Universidade de São João del-Rei, é preciso pensar na preservação e conservação do local, e os pesquisadores têm feito articulações para que isso ocorra. "Temos conversado com a comunidade, os órgãos ambientais e o poder público local para pensar na melhor estratégia de proteção das montanhas da região. Uma proposta de Unidade de Conservação está sendo elaborada com o auxílio do Plano de Ação Territorial Capixaba-Gerais, uma importante ferramenta para pensar coletivamente ações para proteger espécies ameaçadas de extinção", finaliza Gonella.