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Estratégia de defesa
Lagarto endêmico da Mata Atlântica finge-se de morto para escapar de predadores
O pequeno lagarto da espécie Leposoma scincoides, endêmico da Mata Atlântica, apresenta uma estratégia defensiva curiosa: finge-se de morto. Estratégias defensivas são comuns a diversas espécies de lagartos, incluindo os da família Gymnophthalmidae, à qual pertence Leposoma scincoides, mas não havia registros para esse lagartinho. A descoberta foi publicada na revista britânica The Herpetological Bulletin no dia 1 de março. O pequeno réptil tem cerca de 5 centímetros e ocorre exclusivamente em áreas de floresta da Mata Atlântica, desde Teresópolis (RJ) até Salvador (BA). Tem hábitos diurnos, vive no chão das florestas, entre folhas, troncos e raízes.
Pesquisadores do Projeto Bromélias e do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) estavam em trabalho de campo no município de Santa Teresa, região serrana do Espírito Santo, quando capturaram dois indivíduos da espécie Leposoma scincoides na serrapilheira e observaram a estratégia defensiva. “Ao serem manuseados para avaliar suas estratégias defensivas, imediatamente viraram-se de barriga para cima, colocando-se em uma postura na qual fingiram-se de mortos, retornando a posição normal cerca de quatro minutos depois, relata Cássio Zocca, pesquisador do INMA e um dos autores do estudo.
Intrigados, os pesquisadores realizaram registros fotográficos. Após buscas na literatura científica, a equipe constatou que se tratava de uma nova estratégia defensiva nunca registrada para a espécie, que pertence à família Gymnophthalmidae. Zocca destaca que compreender as estratégias defensivas das espécies de lagartos é importante pois muitas ainda permanecem com seus aspectos ecológicos desconhecidos.
“Os lagartos adotam uma variedade de estratégias defensivas para evitar ataques de predadores na natureza, incluindo colorações e exibições posturais. Assim, espécies diferentes podem exibir estratégias diferentes diante do risco da predação. Há espécies que podem desferir mordidas, inflar o corpo, usar a descarga cloacal e a autotomia da cauda, que é a habilidade de liberar total ou parcialmente a cauda, como uma automutilação”, explica Zocca. A simulação de morte é uma exibição postural frequentemente usada após contato físico com um predador.
“Leposoma scincoides pode usar essa estratégia quando a camuflagem ou as tentativas de fuga falham. Além disso, predadores podem ser incapazes de identificar a presa devido à falta de movimento, ou ainda quando a ingestão é dificultada pela posição física da presa.”
No estudo, os autores sugerem que essa estratégia defensiva foi desenvolvida para evitar predadores visualmente orientados, como aves que geralmente se alimentam de presas em movimento, incluindo espécies de lagartos.