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Borboletas e mariposas
INMA doa acervo para coleção de insetos do Museu Nacional
Um total de 250 insetos da ordem Lepidoptera foi doado pelo Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) ao Museu Nacional. São borboletas e mariposas coletadas pelo biólogo Danilo Cordeiro, pesquisador do INMA que vem realizando estudos na Serra do Padre Ângelo, em Conselheiro Pena (MG), no âmbito do projeto “Biodiversidade, conservação e perspectivas ao estudo dos ecossistemas rupícolas da Mata Atlântica”.
Pesquisador Danilo Pacheco em trabalho de campo na Serra do Padre Ângelo, em Minas Gerais
A doação do material coletado contribui para recompor a coleção do Museu Nacional, quase totalmente destruída por um incêndio em setembro de 2018. “Coleções biológicas são extremamente valiosas pois guardam informações sobre as espécies e o ambiente em que vivemos e podem nos ajudar a identificar áreas prioritárias para a conservação, por exemplo”, ressalta Danilo.
O material está sendo incorporado à coleção do MN pela equipe da pesquisadora Thamara Zacca, do Laboratório de Pesquisas em Lepidoptera do Museu Nacional - UFRJ. Para isso, os espécimes precisam ser preparados, etiquetados e identificados, e os resultados desta pesquisa serão publicados em revistas científicas, trabalho realizado em parceria entre Museu Nacional e INMA. A interação com o Museu Nacional contribuirá também para identificação de material na coleção zoológica do INMA, reforçando a colaboração entre as duas instituições.
“Essa doação veio a somar aos esforços que estamos realizando para recompor o acervo perdido no incêndio. Essa soma não é apenas em números, mas também contribui qualitativamente para o novo acervo, uma vez que ainda não tínhamos exemplares de lepidópteros de Minas Gerais. Essa representatividade geográfica é essencial em uma coleção científica, pois viabiliza a realização de pesquisas nas mais diversas áreas, tais como Taxonomia, Sistemática e Biogeografia”, explica Thamara Zacca.
Pesquisadora Thamara Zacca, do Laboratório de Pesquisas em Lepidoptera do Museu Nacional,
trabalha na recomposição do acervo de insetos da instituição
Conforme Thamara, a grande maioria das coleções entomológicas do Museu Nacional ficava alocada no Palácio Imperial, onde ocorreu o incêndio. “Como são exemplares muito frágeis, é de se esperar que nada tenha escapado ao trágico incêndio que atingiu a edificação em 2018. Os únicos exemplares que não foram afetados pelo incêndio foram aqueles que ficavam depositados em outro prédio, como, por exemplo, a coleção de Diptera – ordem de insetos que abrange as moscas e mosquitos – e os que estavam sob empréstimo a outras instituições de pesquisa”, relata a pesquisadora. Antes do incêndio, havia aproximadamente 12 milhões de exemplares de insetos depositados na coleção, dos quais 186 mil exemplares eram de borboletas e mariposas.
Atualmente, a coleção entomológica do Museu Nacional já está com cerca de 75 mil exemplares, com um aumento significativo a cada dia. “A coleção de Lepidoptera, por exemplo, já possui aproximadamente 10 mil exemplares de borboletas e mariposas provenientes de coletas realizadas pelo Laboratório de Pesquisas em Lepidoptera (LaPeL) do Departamento de Entomologia do Museu Nacional e doações, como essa realizada pelo INMA”, explica Thamara.
Além de contribuir com a reestruturação da coleção do Museu Nacional, a doação contribui com pesquisas sobre a biodiversidade dessa região da Mata Atlântica, com estudos ainda incipientes, especialmente da entomofauna. ”Quando começamos esse projeto, percebemos que não conhecemos quase nada sobre os insetos da região, e essa parceria com a pesquisadora Thamara Zacca vai permitir que saibamos quais espécies de borboletas e mariposas ocorrem nessa área da Mata Atlântica.”
Danilo e Thamara fizeram parte também do estudo, recentemente publicado, no qual constataram que, no Brasil, cerca de 700 espécies de insetos são descritas a cada ano. “A diversidade de insetos no Brasil é enorme, e muito ainda está por ser descoberto. É possível que dentre esses espécimes haja espécies ainda desconhecidas. Cada espécime de uma coleção tem um valor inestimável,” destaca Danilo. “O próximo passo será formalizar a descrição destas espécies por meio de publicações científicas. Além disso, como a região amostrada pelo Danilo ainda é muito pouco conhecida, pretendemos publicar uma lista de espécies de lepidópteros como forma de apresentar um diagnóstico preliminar da biodiversidade da área. Essa é uma etapa fundamental para futuras ações relacionadas à conservação e monitoramento”, explica Thamara.
Danilo destaca a importância do investimento em pesquisas sobre biodiversidade. “É urgente conhecer a biodiversidade, visto que o risco de extinção de espécies e destruição dos habitats naturais tem atingido taxas alarmantes.”
A coleção de lepidópteros do Museu Nacional, incluindo o conjunto de insetos doados pelo INMA, está disponivel para a comunidade científica. “Os exemplares do novo acervo já têm sido utilizados em pesquisas científicas. Há exemplares utilizados na descrição de borboletas e mariposas que, até então, eram desconhecidas para a ciência. Dada a sua importância, esses exemplares são chamados coletivamente como ‘tipos’. É o caso, por exemplo, da subespécie de borboleta Mechanitis lysimnia tapajona descrita este ano por pesquisadores da Unicamp, e de outras espécies de mariposas que estão sendo descritas por pesquisadores da UFPR e do Instituto Uiraçu, cujo parte do material tipo está depositado na nossa nova coleção.”