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Mutum-do-sudeste
Ave criticamente ameaçada de extinção é reproduzida em cativeiro no INMA
Filhote de mutum em 27/1/2022
O mutum-do-sudeste ( Crax blumenbachii ) é uma ave criticamente ameaçada de extinção. Estima-se que, na natureza, sua população esteja restrita a 500 indivíduos adultos, distribuídos, de forma altamente fragmentada, por Espírito Santo , Minas Gerais, Rio de Janeiro e sul da Bahia.
Pela primeira vez, o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) conseguiu a reprodução, em cativeiro, do mutum-do-sudeste. Em novembro de 2021, com a assistência da equipe do INMA, dois indivíduos nasceram na incubadora, na sede da instituição, em Santa Teresa, região central-serrana do Espírito Santo.
Devido à fragilidade dos filhotes, a equipe cuidou inicialmente de garantir que estivessem em boas condições de saúde e passassem pelas necessárias adaptações, de ambiente e de alimentação, tendo em vista que nasceram na incubadora. Além disso, o INMA também obteve, junto aos órgãos competentes, a autorização para a permanência dos animais na instituição. Agora, com quase três meses, as duas fêmeas já estão em viveiros que podem ser vistos pelo público.
A reprodução em cativeiro não é um processo simples. Outras tentativas já haviam ocorrido anteriormente. “Os mutuns constroem seus ninhos no alto de árvores, selecionando o local que consideram mais seguro. Em cativeiro a construção natural do ninho nem sempre é possível, mas, mesmo assim, os pares reprodutores estavam realizando postura dos ovos. Compreender as particularidades d o comportamento sexual dessa ave e aprender as técnicas de manejo foram os maiores desafios”, explica a ornitóloga Flavia Chaves, pesquisadora do INMA.
O mutum alimenta-se de invertebrados, sementes e frutos. “Ao se alimentar de frutos, atua como dispersor de sementes, que podem gerar uma nova árvore. Além de sua importância intrínseca, o mutum contribui dessa maneira para a manutenção das florestas”, destaca a pesquisadora.
O mutum-do-sudeste ocorria em florestas de baixada e de tabuleiros na região entre a atual cidade do Rio de Janeiro e o sul da Bahia até as proximidades do Recôncavo, e também no leste de Minas Gerais. Nos últimos 100 anos, com o desmatamento, essas florestas de baixas altitudes foram muito reduzidas.
Além disso, o mutum-do-sudeste é muito cobiçado por caçadores. É uma ave grande – um adulto tem entre 80 e 93 centímetros –, diurna e que não faz voos longos e em grandes altitudes, sendo vulnerável até mesmo em áreas protegidas, onde estão as maiores populações conhecidas de Crax blumenbachii . Os mutuns passam boa parte do tempo no solo procurando alimento, empoleirando-se para dormir, apanhar alguns frutos e para tentar se proteger de perigos.
No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, a espécie chegou a desaparecer e foi reintroduzida, o que permite que haja agora alguns exemplares nas matas desses estados. Sua caça e a destruição de seu habitat são ilegais no Brasil e a espécie encontra-se oficialmente listada como ameaçada de extinção.
“Conseguir a reprodução de indivíduos em cativeiro contribui na formação de uma população de segurança para essa ave. A população de segurança tem a função de preservar a variabilidade genética, além de servir de fonte de indivíduos para projetos de reintrodução da espécie em áreas onde o número de indivíduos é baixo”, explica Flávia.
No Plano de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-do-sudeste, documento elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), consta o registro de populações originais em nove localidades (parques estaduais do Rio Doce e Serra do Conduru, parques nacionais do Monte Pascoal, Descobrimento e Pau-Brasil, reservas biológicas de Sooretama e Una, Reserva Natural da Vale do Rio Doce, e Serra das Lontras), enquanto há populações reintroduzidas em outras quatro localidades, sendo três no estado de Minas Gerais e uma no estado do Rio de Janeiro.
O INMA tem quatro mutuns adultos em cativeiro, sendo três fêmeas e um macho, provindos de um criador conservacionista em Pancas/ES. O nascimento dos dois filhotes foi comunicado ao Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), órgão estadual responsável pela gestão da fauna silvestre em cativeiro no estado do Espírito Santo, e ao ICMBio/CEMAVE, órgão federal que acompanha as ações promovidas em prol da conservação das aves ameaçadas de extinção.
O INMA
O INMA é uma instituição federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Criado em 2014, o INMA originou-se do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, fundado pelo cientista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia no Brasil. Tem como missão produzir, apoiar a produção, sintetizar e difundir conhecimento científico, com o propósito de contribuir para a conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica. Atua de forma a ser referência na geração e divulgação de conhecimentos relacionados ao passado, presente e futuro desse bioma. O INMA guarda importantes coleções científicas – zoológica, botânica e documental. Este valioso acervo está disponível para a comunidade científica e é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa nessas áreas.
Sua sede ocupa uma área de 77 mil metros quadrados no centro da cidade, tendo importante papel na divulgação científica e educação ambiental dos munícipes e da população flutuante que visita o INMA. Anualmente, o INMA recebe cerca de 80 mil visitantes.
Além do parque zoobotânico, o INMA dispõe de duas estações biológicas – Estação Biológica de Santa Lúcia e Estação Biológica de São Lourenço – com o objetivo de apoiar as pesquisas de campo de sua equipe e de instituições parceiras. A Estação Biológica de Santa Lúcia, localizada a 8 km da sede do INMA, possui infraestrutura de alojamento e laboratório de campo para a recepção de pesquisadores e estudantes.