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Freziera atlantica
Ação humana ameaça árvore recentemente descoberta
Freziera atlantica é uma árvore de médio a grande porte ainda pouco conhecida. Encontrada em apenas duas localidades – Serra do Valentim, entre os municípios de Iúna e Muniz Freire, no Espírito Santo, e na Área de Proteção Ambiental do Pratigi, na Serra da Papuã, Bahia –, foi descrita em 2016, já ameaçada de extinção. Com uma população pequena, distribuição muito agregada e sofrendo com impactos antrópicos, ela despertou a atenção de um grupo de pesquisadores ao conhecer sua diversidade genética.
“Levando em consideração essas características, pensamos inicialmente que a sua diversidade genética poderia ser baixa”, explica o pesquisador do INMA João Paulo Zorzanelli, primeiro autor do recente estudo, que participou também da descrição da espécie em 2016.
O artigo publicado recentemente na revista Trees: Structure and Function mostra que a diversidade genética encontrada para a espécie na Serra do Valentim é alta, o que seria um bom indicativo de sua conservação genética na área. Entretanto, diversas intervenções antrópicas, principalmente os incêndios florestais recorrentes na serra, em áreas ainda não protegidas legalmente, podem aumentar as chances de extinção local dessa árvore no futuro.
“A partir de agora, precisamos conhecer o papel da Freziera atlantica dentro da vegetação e na interação com outras espécies de plantas e animais na floresta. Esse trabalho foi parte da minha tese de doutorado e contou com colaborações de pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular e do Departamento de Ciência Florestais e da Madeira da UFES. Esse trabalho e diversos outros realizados no âmbito da Serra do Valentim também são conhecidos e têm apoio das comunidades locais”, relata Zorzanelli.
Para estudar a diversidade genética dessa árvore que tem aproximadamente 15 metros de altura, os pesquisadores extraíram o DNA das folhas, verificaram a pureza do DNA e depois fizeram a eletroforese, uma técnica que usa carga elétrica para separar moléculas de acordo com seu tamanho, feita em um gel de agarose (substância extraída de algas com consistência semelhante a uma gelatina). Esse gel é levado para o fotodocumentador, onde é possível ver e escanear as bandas – elas são contadas e, por meio de cálculos e estimativas, os pesquisadores conseguem obter as informações de diversidade genética.
A afirmação de que a diversidade genética é elevada é possível pela comparação de resultados de outros trabalhos, principalmente com espécies de plantas de famílias mais próximas de Pentaphylacaceae – a mesma família de Freziera atlantica .
Assim, se dependesse somente da genética, a conservação da espécie estaria garantida. Entretanto, as ações humanas representam grave ameaça a essa espécie, recém descoberta, que ainda tem muito a revelar.
"Por isso, destacamos no artigo algumas ações que podem ser tomadas visando à conservação tanto de Freziera atlantica como de seu habitat. Entre essas ações, sugerimos atividades de conscientização e capacitação para a adoção de medidas conservacionistas principalmente de uso do solo, voltadas aos moradores das localidades, promovidas pelo poder público em conjunto com pesquisadores, e também a busca de maior envolvimento das comunidades do entorno na proteção dessas vegetações", destaca o pesquisador.
Freziera atlantica chega a 15 metros