Ex-alunos do INES se destacam no ENEM apesar da pandemia e ingressam em universidades

Lucas Guilherme Gomes, de 19 anos, é um dos ex-alunos do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) que têm motivos de sobra para sorrir este ano: em sua primeira tentativa, ele foi o primeiro colocado entre candidatos com deficiência no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vai ingressar na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). O estudante, que estudou no Colégio de Aplicação do INES a vida inteira, se matriculou no curso de História, sua paixão desde a escola. Segundo ele, foi uma grande alegria ter passado: "Eu me preparei para o Enem, depois tentei e passei. Estou muito feliz de estar cursando História, porque eu amo muito", disse Lucas, em Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Lucas no INES, quando se formou no Ensino Fundamental

O futuro historiador entrou no INES já na fase de estimulação precoce, com apenas 1 ano e 9 meses, como relembra a mãe, Jardete. Ao todo, foram 17 anos no instituto. Para ele, o diferencial de ter passado toda sua vida dentro de uma escola para surdos foi o domínio da Libras, que o ajudou a entender o mundo a seu redor. "As aulas, o ensinamento dos professores, as disciplinas ensinadas, tudo isso foi muito importante porque me ensinou a ser fluente na língua de sinais. Assim, aprendi a perceber o mundo, a língua portuguesa, a contextualizar e me tornar bilíngue. Também essas disciplinas me desafiaram a tentar o Enem e esse desafio melhorou meu aprendizado", completou.

A conquista veio num momento difícil para muitos estudantes - principalmente os surdos, que foram afastados do convívio presencial com sua comunidade linguística devido à pandemia de covid-19. Mesmo mantendo o foco em casa, Lucas afirma que nada se compara ao ensino presencial: "Com os estudos a distância, fomos forçados a ficar em casa, desmotivados. As aulas remotas não tinham a troca de olhares. Nas de matemática, por exemplo, como aprender se o professor não está lá para escrever no quadro enquanto explica? A tela muitas vezes é pequena, confusa para visualizar", argumentou.

Outra ex-aluna que se destacou no último Enem foi Ludmilla Silva, de 21 anos. Depois de estudar por nove anos no INES, ela agora está matriculada no curso de Serviço Social da Universidade Norte do Paraná (Unopar). Muito feliz com o resultado de seu empenho, ela também aponta que a pandemia dificultou seus estudos e ressalta a importância de se estar num ambiente em que os surdos podem socializar entre si e usar a Libras para se comunicar. "Em muitos momentos não tinha um suporte", ressaltou Silvania, mãe de Ludmilla.

Ludmilla Silva em sua formatura no INES

Também empolgada com a vida de universitária, Ludmilla está estudando de forma semipresencial na faculdade. A escolha pelo curso veio de sua insatisfação quanto à desigualdade que os surdos enfrentam na sociedade. "Ela gosta dessa vivência, dessas bandeiras que são levantadas, e com isso ela pretende futuramente fazer parte de uma assistência social à população brasileira que precisa tanto", disse Silvania.

Pré-vestibular

Joselane Siqueira, coordenadora do curso preparatório pré-vestibular do INES, destaca que a maioria dos alunos da casa prefere fazer o processo seletivo de ingresso para o curso de Pedagogia do próprio instituto, porque sonham em trabalhar no local, mas tem percebido, nas turmas que estão se preparando este ano, maior interesse em prestar o ENEM: "Isto é maravilhoso, pois temos duas turmas de pré-vestibular relativamente grandes e entusiasmadas, o que motiva a nós, os professores e demais educadores envolvidos no processo, desenvolver estratégias eficientes e procedimentos adequados, estimulando-os à obtenção do êxito", comemorou.

Também houve um aumento na procura pelo preparatório, voltado aos estudantes surdos da comunidade. "A proposta é que haja 15 alunos por turma, mas este ano a demanda é grande e conseguimos alocar 16 alunos à tarde e 18 à noite. Estamos com cadastro de reserva de vaga", explicou Joselane. As aulas do pré-vestibular acontecem todos os dias, de 13h15 às 16h40, na turma da tarde, e de 17h50 às 22h10, na turma noturna.

Com colaboração de Mikel Vidal