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COINES 2023: INES realiza 22ª edição de congresso internacional na semana do aniversário de sua fundação
O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) promoveu, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a 22ª edição de seu Congresso Internacional e Seminário Nacional – COINES 2023, nos dias 27, 28 e 29 de setembro. Com o tema "Material Didático Bilíngue na Educação de Surdos", o evento voltou a ser realizado na semana do aniversário do INES (26) e no mês de celebração da comunidade surda. Cerca de 800 pessoas, entre congressistas inscritos, palestrantes, comissão organizadora e suporte, participaram do congresso, sediado na Cidade Universitária.
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Nos três dias de evento, a programação incluiu mesas de debate com pesquisadores e especialistas nacionais e internacionais na área da educação de surdos, 40 minicursos, mais de 170 sessões de comunicação e a exibição de cerca de 100 pôsteres, além de apresentações artísticas e exposição de trabalhos de alunos do Colégio de Aplicação (CAp/INES). A mesa de abertura contou com a presença de Marisa Lima, coordenadora-geral de Atendimento Especializado da Diretoria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos (Dipebs), do Ministério da Educação (MEC); Diana Felgueiras, rerpresentando o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida; Sonia Reis, diretora da Faculdade de Letras da UFRJ; Solange Rocha, diretora-geral do INES, e André Cordeiro, diretor do Departamento de Desenvolvimento Humano, Científico e Tecnológico (DDHCT) do INES.
Marisa Lima aproveitou a ocasião para parabenizar o instituto pelo seu aniversário de 166 anos e agradecer a parceria em prol da educação de surdos no Brasil: "Este é um evento de destaque que não marca apenas o momento atual, mas tem em vista a melhoria da educação de crianças surdas no país. Se hoje temos surdos, como eu, que avançaram profissionalmente na vida, é graças ao INES", afirmou a representante da Dipebs, que lembrou a criação, neste ano, da Comissão Nacional de Educação Bilíngue de Surdos (CNEBS), instituída em portaria pelo MEC. "A parceria da Dipebs e do MEC com o INES tem se firmado para garantir à sociedade a formação de professores e profissionais que desenvovlam um trabalho de qualidade para as pessoas surdas, com a educação bilíngue como diretriz", completou.
Diana Felgueiras mencionou a recente aprovação, no Senado Federal, do projeto de regulamentação profissional das atividades dos tradutores-intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras), e anunciou o novo plano Viver Sem Limite II, que o Governo Federal deverá lançar ainda este ano. "Reafirmamos a importância do diálogo intersetorial, pra que os diretos humanos das pessoas surdas e com surdocegueira sejam garantidos, contemplando o seu protagonismo na sociedade. É fundamental o ensino da Libras, com a metodologia de profissionais qualificados, e da Língua Portuguesa como segunda língua. A luta é coletiva, então esperamos sempre somar esforços nesta retomada da agenda de direitos humanos, com a ampliação do direito linguístico e da acessibilidade", disse a representante do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Sonia Reis ressaltou o orgulho e a relevância de receber um evento acadêmico do INES na UFRJ, especialmente por fomentar a discussão ampla e necessária sobre projetos, propostas de pesquisa na área e as políticas públicas para a pessoa surda. Solange Rocha recordou a trajetória de atuação do instituto e destacou a pertinência da pesquisa histórica para ajudar a entender o perfil das alunas e alunos surdos do país, em toda a sua diversidade: "O ensino bilíngue no Brasil sempre foi uma demanda de responsabilidade do INES como única instituição referência na educação de surdos. Mas para além da discussão teórica-acadêmica, a quem se destina nossas intenções e nossas políticas?", questionou a diretora-geral do instituto, que ainda anunciou a retomada da TV INES durante a cerimônia de encerramento do congresso.
Na mesa de encerramento do COINES 2023, ao lado da professora do INES Wilma Favorito, estavam dois pesquisadores estrangeiros: Christi Batamula, professora da Universidade Gallaudet, em Washington, nos Estados Unidos; e Paulo Vaz, professor do Instituto Jacob Rodrigues Pereira (IJRP), em Lisboa, Portugal. Christi, que trabalha há 18 anos na primeira universidade bilíngue do mundo estruturada
para o público surdo, fez uma palestra em língua de sinais americana (ASL) sobre a influência da interação familiar no desenvolvimento global do indivíduo nos primeiros anos de vida: "A família é o primeiro ambiente linguístico da criança, onde há a primeira aquisição da língua. Ela precisa estar inserida num contexto familiar de comunicação, num ambiente linguístico rico. Infelizmente a sociedade acaba permitindo que situações de privação da língua se perpetuem entre as pessoas surdas", frisou.
Paulo Vaz salientou que, mesmo após 166 anos, o INES mostra que mantém seu vigor e magnitude: "Estou há quase 30 anos na área da educação de surdos, e 55 em contato com surdos, por isso participei e participo da luta desta comunidade em Portugal. Conheço quase todos os institutos deste campo, principalmente os da Europa, e posso dizer que a vitalidade do INES torna-o uma referência mundial, não só para o Brasil", observou. Em seguida, para encerrar o evento, houve uma batalha de slam em Libras, com premiação dos três primeiros lugares. A tradutora-intérprete do INES Sheila Martins foi uma das vencedoras. Junto a outros profissionais do instituto, ela é uma das incentivadoras da cultura do slam em Libras, mais comum em São Paulo.
André Cordeiro, chefe do DDHCT, departamento que organiza o congresso anualmente, agradeceu toda a equipe de colaboradores que ajudou a organizar o COINES 2023, enfatizando a quantidade de atividades planejadas para a programação desta edição e a importância de debater a criação de materiais didáticos bilíngues. "O COINES é uma vitrine, a culminância de nosso trabalho, mas esse trabalho começa muito antes, já no segundo bimestre do ano, contando com o apoio de muita gente para cada vez mais difundirmos o conhecimento produzido dentro do instituto. E a realização desta edição na UFRJ, maior universidade pública do país e única no Rio de Janeiro que conta com a graduação em Letras/Libras, nos dá muito orgulho. É um marco na história levar o COINES para dentro de um espaço de ensino, pesquisa e extensão que é tão significativo", concluiu o diretor, em entrevista.