Agricultores catarinenses comemoram produção orgânica
O início de 2021 trouxe uma fértil colheita de orgânicos nos assentamentos de Santa Catarina. As cores e os sabores são de encher os olhos e aguçar o paladar dos consumidores que adquirem as frutas, verduras e legumes produzidos em harmonia com o meio ambiente e sem agrotóxicos.
No lote da família de Neomar Pinto Ribeiro, em Curitibanos, no Planalto Catarinense, o destaque da temporada é a colheita da uva. Entre fevereiro e março, aos poucos, o tom de vinho vai deixando as parreiras para chegar às mesas. “Este ano a estimativa de produção da uva é, mais ou menos, de quatro toneladas numa área de seis hectares. A uva, além do consumo, é destinada para elaboração de vinho, suco, vinagre e geleia. A comercialização se dá por meio da feira local e venda direta na propriedade e também pelo Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA”, explica o agricultor, que é assentado da reforma agrária e técnico em agropecuária e agroecologia.
Os Ribeiro e outras duas famílias do assentamento Índio Galdino já possuem a certificação orgânica, enquanto outras duas estão em transição. Neomar explica que a produção requer cuidados, mas as vantagens compensam. “O manejo agrícola está voltado a garantir a qualidade biológica dos alimentos, além da integridade do meio ambiente. Os orgânicos, além de serem livres de veneno, são mais nutritivos por serem cultivados em solos balanceados, então as vantagens são tanto para o produtor quanto para o consumidor”, garante.
A uma hora dali, em direção à serra catarinense, o galpão de Antenor Ehrenbrink está tomado pelo marrom avermelhado das cebolas orgânicas. São cerca de 20 toneladas colhidas pela família no assentamento Pátria Livre, em Correia Pinto, e que viajam longe. “Fizemos vendas para as empresas de São Paulo e Curitiba. Ainda tem uns compradores de Florianópolis que vem pegar para revender para as feiras”, explica.
Na comercialização, o orgânico leva vantagem pelo preço, que chega a ser 30% maior, mas as vezes encontrar mercado é um desafio que cada agricultor tem uma forma de vencer. Em Caçador, no Meio Oeste de Santa Catarina, Jacemir Buffon está colhendo tomates e morangos e conta que foi o filho Rodrigo quem trouxe a renovação na comercialização de seus orgânicos através da venda direta por aplicativo de mensagens.
“Ele tem em torno de 250 famílias que se inscreveram no grupo. Ele prepara as sacolas e entrega - agora na pandemia, com todos os cuidados. Essa forma de entrega está sendo a maior venda, porque o produto a gente colhe, prepara e já sai daqui vendido”, explica.
Essa consciência de que somos parte de um todo vivendo em simbiose com a natureza é inerente não só à agroecologia, mas está ligada à essência da reforma agrária. Como explica a engenheira agrônoma do Incra de Santa Catarina, Rosa da Silveira. “A reivindicação por reforma agrária remete a uma discussão que vai além da questão da terra, envolve reestruturação fundiária, distribuição de renda e adentra a uma questão que é a da mudança do modelo tecnológico aplicado na agricultura”, afirma.
Rosa destaca ainda que é necessário que a agricultura familiar se liberte de práticas insustentáveis assimiladas pela modernização conservadora da agricultura. “A gente quer enxergar uma nova perspectiva, aquela que visa também garantir a permanência do homem no campo”, destaca.
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