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Colheita nos assentamentos
Safra da uva anima assentados da Campanha Gaúcha
A recém-concluída colheita da uva movimentou dezenas de famílias assentadas na Campanha Gaúcha, região Sudoeste do Rio Grande do Sul. A atividade ganhou força ao longo das últimas duas décadas como mais uma opção produtiva em áreas da reforma agrária. Experiências que vão da venda do produto in natura à agroindustrialização concentram-se sobretudo em assentamentos dos municípios de Candiota, Santana do Livramento e Hulha Negra.
Neste último município, a Emater local registrou videiras em oito unidades familiares nos assentamentos estaduais Boa Amizade (uma) e Abrindo Fronteiras (sete). Em cada lote, há cerca de meio hectare para viticultura. Já no assentamento Missões do Alto Uruguai, uma família iniciou o parreiral em 2020 e espera produzir para a próxima colheita, chamados pelos produtores descendentes de imigrantes italianos de "vindima" (do italiano vendemmia ).
A colheita, realizada entre janeiro e março, agradou os agricultores. Para a família Girotto, do assentamento Boa Amizade, “esse ano foi um dos melhores”, com a produção de aproximadamente 1,1 mil quilos de quatro variedades: francesa, bordô, isabel e pinot.
Os pais Celso e Rosane e os filhos Andriessa e Miguel começaram o plantio em 2000, no intuito de diversificar as suas linhas produtivas. Hoje, em 0,8 hectare possuem 350 pés de uva. “O destino sempre foi o consumo próprio, mas de três anos pra cá começou a ser demais. Então passamos a comercializar na volta de casa”, conta Andriessa.
Por isso, adquiriram uma suqueira industrial para melhor aproveitamento da fruta. A expectativa, segundo Andriessa, é explorar comercialmente a fabricação de sucos, geleias e vinho – o que já vem sendo feito de forma artesanal e em parceria com amigos.
Valor agregado
Em Candiota, o casal Amarildo Zanovello e Leci Pereira, do assentamento estadual Estância Camboatá / Roça Nova, também aposta no potencial da vitivinicultura, propícia às características locais.
Ao observar que no município “existe apenas a produção de vinhos finos em larga escala”, eles buscaram outro nicho de mercado: a elaboração de vinho colonial e de suco, com o objetivo de oferecer “produtos diferenciados e de qualidade” oriundos da agricultura familiar.
“Vínhamos discutindo a produção de frutas, e a uva foi a mais viável devido às suas possibilidades e à adaptação ao clima da região. E porque o processamento poderia ser realizado na propriedade com valores de investimento acessíveis”, explica Zanovello - que iniciou a atividade com recursos próprios.
O plantio das primeiras mudas ocorreu em 2014, e cinco anos depois começaram a colheita e o beneficiamento. Hoje são em torno de 500 pés produzindo, mais 300 entrando em produção para 2022 e outras 250 mudas a serem plantadas, completando um hectare de área.
Meta atingida
A produção de 3 mil quilos de uva atingiu a meta esperada para este ano. E foi inteiramente destinada à fabricação de 1 mil litros de vinho e 1 mil litros de suco. O trabalho envolve a mão de obra familiar e, se necessário, a “troca de serviço” com produtores vizinhos. O processo é realizado na estrutura doméstica de Zanovello, que inclui máquinas para moagem e fermentação, pipas para armazenagem e suqueira. Os líquidos são envasados e rotulados com a logomarca da família.
“Ambos os produtos têm boa aceitação e procura em Candiota. A maior parte das pessoas vem adquirir na propriedade”, garante o assentado. Ele pretende incrementar as vendas ao formalizar uma agroindústria e ampliar o cultivo de vinhas para consumo in natura.
Concluir o empreendimento vitivinícola também é o plano de Lucas Cupsinski, do assentamento Cerro do Munhoz em Santana do Livramento. O prédio está pronto e os equipamentos comprados via financiamento bancário. “Para a próxima safra estará funcionando. Vimos que tem boa aprovação no mercado, então investimos no negócio”, afirma. Em 2021, o agricultor produziu 2 mil litros de vinho (dos tipos merlot e cabernet sauvignon) e 700 garrafas de suco.
“Esse ano deu muito bem”, comemora Cupsinski. Ele colheu 9 mil quilos de viníferas e 13 mil quilos de uva de mesa em 2,2 hectares (outro meio hectare está sendo renovado com a espécie tannat). A fruta natural é vendida ao Banco de Alimentos e nas feiras da cidade, junto com os derivados.
O assentado foi um dos pioneiros no assentamento a se dedicar às videiras há duas décadas. Com apoio de assistência técnica especializada, até hoje utiliza “o mínimo possível de agroquímicos”, visando a transição para a produção agroecológica. Além dos Cupsinski, pelo menos mais uma família do mesmo assentamento e outra do assentamento Bom Será mantém a viticultura como fonte de renda.
Histórico
O último levantamento do Incra por meio do programa de assistência técnica que desenvolvia até 2017 apontava a produção familiar de uvas em 13 assentamentos distribuídos em Candiota, Hulha Negra e Santana do Livramento (dados declaratórios de 2016, registrados no Sistema Integrado de Gestão Rural da Ates – Sigra).
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