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Semana do Meio Ambiente
Reservas legais em assentamentos cearenses contribuem para preservação ambiental
Reserva legal no assentamento Fazenda Serrote, no município de Canindé, que ocupa terras com altitude acima de 600 metros e concentra vegetação de Mata Atlântica e Caatinga. Foto: Odilo Coelho
Comemorado em 5 de junho, o Dia Mundial do Meio Ambiente desperta reflexões em variados segmentos. No âmbito da reforma agrária, a conservação dos recursos naturais em uma propriedade rural é um dos critérios avaliados para considerar em caso de possível desapropriação do imóvel.
Quando o referido ato acontece, e no local é criado um assentamento, por lei também é exigido o cumprimento de legislação ambiental. Inicia aí a responsabilidade de alinhar o desenvolvimento da área de reforma agrária com a redução dos impactos no meio ambiente, sem comprometer a obtenção de renda e o bem-estar das famílias beneficiárias.
Uma das formas de garantir a conservação dos recursos naturais é a criação da reserva legal do assentamento. Segundo o Código Florestal (Lei n° 12.651/2012), um percentual do imóvel deve ser destinado à constituição de uma área, dentro da propriedade, onde não se pode desmatar.
No Ceará, as 415 áreas de reforma agrária implantadas pelo Incra somam cerca de 884 mil hectares. Como a maior parte do estado pertence ao bioma caatinga, o percentual mínimo destinado a reserva legal é de 20% do imóvel. Isto implica em, aproximadamente, 180 mil hectares de vegetação preservada nos assentamentos cearenses.
De acordo com o engenheiro agrônomo do Incra/CE, Odilo Neto Luna Coelho, o estabelecimento da reserva legal no Ceará é feito com a participação dos assentados, tendo em vista serem os responsáveis por sua conservação.
“Quando fazemos a delimitação, sempre priorizamos proteger as áreas com maior valor ambiental dentro dos imóveis. Buscamos preservar locais próximos aos leitos dos rios e suas nascentes, açudes e bacias hidrográficas, porque assim a própria vegetação faz o papel de salvaguardar os reservatórios naturais de água, evitando até o assoreamento”, explica.
Outro aspecto importante considerado é a preservação das belezas naturais (como grutas e cachoeiras) e até construções de beleza cênica. “Assim, esses elementos também ficam protegidos da ação humana e, futuramente, podem ser explorados de forma sustentável, pelos assentados, para o ecoturismo, oferecendo trilhas, caminhadas e voos de asa delta, entre outros”, destaca o agrônomo.
Junto com outros servidores, o técnico compõe a equipe gestora de meio ambiente, subordinada à Divisão de Desenvolvimento e Consolidação de Assentamentos do Incra/CE. Segundo ele, desde a criação dos primeiros assentamentos no estado, na década de 80, existe o cuidado da autarquia com a criação das reservas legais, além da realização de um trabalho de conscientização dos assentados, por meio de cursos e palestras sobre educação ambiental.
“Aqui no Ceará, a vegetação dessas áreas está em bom estado de conservação, fortalecendo a segurança ambiental dos assentamentos e protegendo locais de valor natural elevado”, conclui Coelho.
CAR
Todo o cuidado e preocupação com essas questões facilitou bastante a inscrição dos assentamentos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), a partir de 2015. Trata-se de um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Para Coelho, “a inclusão de todos os 415 assentamentos no CAR, com pouquíssimos danos a recuperar, e de mínimas dimensões, atesta o bom estado de conservação ambiental dos imóveis, fruto do trabalho conjunto do Incra/CE e dos assentados”.
José Alves da Silva, beneficiário da área de reforma agrária Croatá/Jandaíra, no município de Russas (CE), assegura que, no local onde vive com outras 30 famílias, a conscientização dos moradores nas questões ambientais é satisfatória.
“Nosso assentamento está prestes a completar 20 anos. Não mexemos de forma nenhuma na área de reserva legal e também buscamos preservar as matas ciliares. Todos lá sabem da importância dessa atitude para que as próximas gerações possam desfrutar de um meio ambiente saudável”, citou.
As famílias do Croatá/Jandaíra também desenvolvem uma exploração florestal comunitária, legalizada e sustentável em virtude da implantação de um Plano Florestal de Manejo no assentamento.
Outro resultado colhido desse processo de conscientização é a redução de investimentos em recuperação natural e do número de obrigações a serem assumidas pela autarquia e pelos beneficiários junto aos órgãos ambientais.
O Incra/CE participa como membro fundador dos seguintes grupos criados pelo governo do estado: Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental (CIEA); Comitê Estadual de Controle de Queimadas e Prevenção a Incêndios Florestais (Previna) e Comitê da Reserva da Biosfera da Caatinga (CRBC).
Para o agrônomo, a presença do Incra/CE nessas instâncias de discussão estadual é fundamental para divulgação da reforma agrária no Ceará, tendo em vista ser uma ação de relativo impacto ambiental.
“Durante as reuniões, conseguimos mostrar para as outras instituições o trabalho de preservação desenvolvido nos assentamentos, de uso sustentável dos recursos naturais e, aos poucos, desmistificar a ideia de que essa política é agressiva ao meio ambiente”, lembrou.
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