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Pronera forma professores de História no Rio Grande do Sul
Esta é a segunda turma na área formada pelo programa no estado. Foto: IEJC
Em 6 de abril (sábado), 14 educandos do Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera) colaram grau no Rio Grande do Sul. Os novos graduados concluíram o curso de Licenciatura em História – uma parceria entre Incra, Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (ITERRA) e Universidade Federal da Fronteira da Sul (UFFs). A cerimônia aconteceu na sede do Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão (RS).
“A formatura é uma vitória para esta turma, que passou por um período de grandes desafios: pandemia e restrições orçamentárias”, comemorou o assegurador do Pronera no estado, Walter Aragão, que representou o Incra na cerimônia. Das 50 vagas disponibilizadas em edital de 2019, a turma terá 18 graduados. Além dos 14 que se formaram no sábado, outros quatro ainda devem defender seus trabalhos de conclusão de curso.
“A gente teve uma limitação muito grande por conta da pandemia. Como somos de territórios rurais, tivemos dificuldade por falta de acesso a computador e internet. Isto dificultou colegas a darem continuidade”, avalia uma das graduadas, Vanessa Ribeiro de Jesus.Filha de assentada do projeto 14 de Agosto, no município de Campo Verde, em Mato Grosso, ela conta que o Pronera e sua pedagogia da alternância (com tempo escola e tempo comunidade) possibilitaram a sua formação. “Sempre tive muita vontade de fazer uma graduação, e um curso de licenciatura, na área da educação, sempre esteve no meu horizonte. Quando veio a oportunidade de participar da turma de História, foi um momento de muita alegria e de possibilidades”, lembra.
Vanessa é da Direção Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Mato Grosso. Para ela, a formação vai contribuir de diversas maneiras. “A minha expectativa com o curso, quando retornar a meu estado, é seguir a carreira de professora e educadora popular, mas continuar nas trincheiras da luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação social”, projeta.
A turma iniciou os estudos em fevereiro de 2019 e escolheu como nome o da historiadora Lélia Gonzáles, uma referência nos estudos de gênero, raça e classe no Brasil. “Foi um processo muito bonito. Carregamos o nome de uma historiadora, militante, uma mulher negra que lutou no combate do racismo estrutural e do machismo”, conta Vanessa. Segundo ressalta, a escolha também é de representatividade, uma vez que a turma tinha muitas alunas negras.
Ela considera fundamental a atuação do Pronera. “Vale a pena ressaltar a necessidade de continuidade de recursos para o programa, pois inseriu muitos jovens e adultos na universidade. É uma porta de entrada, principalmente para nós que somos do campo”, pontua.
Democratização
Esta é a segunda turma especial de Licenciatura em História formada por meio do Pronera. O coordenador adjunto da turma e professor da UFFS, Gérson Fraga, avalia a experiência como muito meritória. “O programa se encaixa muito bem na nossa proposta de possibilitar a pessoas que moram longe dos grandes centros urbanos acessar a universidade”, diz.
A UFFS possui cinco campi, abrangendo mais de 400 municípios da Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul – Sudoeste do Paraná, Oeste de Santa Catarina e Noroeste do Rio Grande do Sul. O Pronera traz à universidade alunos de todas as regiões do país. “É uma radicalização deste objetivo de democratizar o acesso à universidade”, afirma Fraga.
Esta formação impacta o meio rural. Os formandos “voltam a suas comunidades para atuar. Isto reflete na educação das escolas dentro dos assentamentos, pois vão replicar esta qualificação na didática”, explica o professor. O impacto vai além: muitos seguem estudando, em cursos de pós-graduação – Fraga calcula que cerca de 40% dos formados na primeira turma seguiram este caminho.