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Agricultura
Produção diversificada faz a diferença em assentamentos de Muqui (ES)
Além do plantio do café, José Domingos e a esposa Jurema cultivam plantas ornamentais. Foto: Incra/ES
Ao longo da trajetória como beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), muitos agricultores familiares aprenderam, por experiência própria, a aproveitarem ao máximo as oportunidades surgidas para terem sucesso em seus empreendimentos. No Espírito Santo, o plantio do café é a mais importante ocupação agrícola e econômica, mas esse aprendizado é observado também nos processos de diversificação de culturas e de atividades exploradas.
Nos lotes dos assentamentos criados pelo Incra, 17 de Abril e Monte Alegre, localizados no município de Muqui, distante cerca de 175 quilômetros da capital capixaba, Vitória, as famílias se esforçam em manter suas propriedades em condições de produção suficientes para garantir boa qualidade de vida a todos.
Criado em 2002, com área de 887,3 hectares, o 17 de Abril abriga 78 unidades familiares. Uma delas é a de Deusdethe e Clemência Rodrigues. Como assentados originais, desde o início cultivam uma roça de milho e de feijão para cobrir as despesas da família.
Porém, a principal atividade produtiva explorada por eles é a do gado de leite. Hoje, o plantel é formado por 18 vacas, das quais oito em lactação. A história de aquisição da primeira fêmea tem origem a partir de valores recebidos por Deusdethe em uma rescisão trabalhista à época do assentamento.
Em 2002, o acesso ao Crédito Instalação, aplicado pelo Incra, na modalidade Apoio Inicial, no valor de R$ 1,5 mil, propiciou a compra de mais uma vaca. E o financiamento posterior junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) resultou na aquisição de mais três animais e de material para construção de cerca e curral, além de algumas mudas de café para agregar valor na renda familiar.
No passado, se o leite era levado de carroça para a cidade, em 2010 passou a ser acondicionado em um resfriador coletivo e, em 2018, a família adquiriu um resfriador próprio com outros quatro assentados. Em outubro de 2022 foram entregues no laticínio parceiro 1,7 mil litros de leite, gerando uma renda bruta de mais de R$ 4,1 mil, somando-se às aposentadorias rurais conquistadas pelos titulares do lote. No mesmo ano, nasceram cerca de dez bezerros na propriedade: outra fonte de renda à família no futuro.
A mudança da condição de vida pode ser observada nas moradias. Além da casa do casal, construída com recursos federais em 2004, os filhos ergueram suas próprias casas. O filho Luciano é o responsável por gerenciar toda a atividade leiteira e as relações com o laticínio parceiro, desde a entrega do produto até os acertos de contas.
Café
Já Milton Vieira e a esposa Helena estão desde 2002 no assentamento. Eles chegaram a ter 18 mil pés de café plantados na parcela. Com a ideia de potencializar a produção, racionalizaram o trabalho e passaram a dedicar maior cuidado à cultura com a instalação de equipamentos de irrigação. Hoje são cerca de 6 mil pés plantados e, no ano passado, apenas da roça mais antiga e que já está produzindo, foram colhidas 70 sacas do produto pilado (beneficiado), agregando, aproximadamente, R$ 35 mil à renda familiar.
Ao abandonar a atividade de pecuária de leite, os animais remanescentes (novilhos) passaram a fazer parte do cenário do lote para compor a renda familiar advinda de sua comercialização. Por esse motivo, plantam milho com o objetivo de dispor forragem suficiente à complementação do alimento para engorda do gado. Sobre o local, Milton é enfático ao afirmar: “o lugar é bom demais para se viver, pois moramos em um dos melhores lugares para assentamento no Espírito Santo”.
Monte Alegre
Criado em 1999, a área de reforma agrária possui território de 606,1 hectares, no qual estão instaladas 60 famílias. O casal José e Jurema Ribeiro chegou no lote em 2008, mas a regularização como beneficiários ocorreu em 2015. Eles se dedicam, principalmente, à exploração comercial do cultivo de café, enquanto o pomar com frutas diversas (laranja, limão, manga e banana, entre outras) e uma pequena roça de palmito servem à subsistência da família e a uma eventual comercialização de excedentes. Também cultivam plantas ornamentais.
O acesso a financiamento de custeio do Pronaf, no valor de R$ 20 mil, entre 2015 e 2016, proporcionou a aquisição das primeiras 8 mil mudas de café e a construção do terreiro de alvenaria para secagem do grão. Hoje, são mais de 12 mil exemplares e, embora cerca de 7 mil estejam efetivamente produzindo, a variação reflete a renovação da plantação, o atingimento da plenitude das plantas ou mesmo a oscilação do montante anualmente produzido.
Em 2019, o café propiciou uma safra de 160 sacas do grão pilado (beneficiado), alcançando renda de R$ 46,4 mil; em 2020, foram 50 sacas e uma renda de R$ 23,5 mil; já no ano passado foram 70 sacas, comercializadas a R$ 49 mil.
A moradia confortável é motivo de orgulho à família Ribeiro. Em 2020 construíram um terraço com recursos próprios. Outro detalhe destacado por eles, ao comentar sobre o lote, é a possibilidade de convivência com as filhas e netos, cujas habitações foram erguidas nas proximidades da edificação principal.
Para os próximos anos, a criação de tilápia é um plano a ser concretizado pelo casal, tendo em vista que Jurema realizou o curso de filetagem de peixes. A meta depende de ações possibilitadoras da exploração da atividade, como limpar o açude existente, obter licenças e adquirir equipamentos de oxigenação para os quatro tanques a serem construídos.
Eles pretendem, ainda, se lançar no cultivo de horta hidropônica, semelhante a outros assentados do local dedicados a essa atividade.