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Assentamento
Produção de café propicia formação acadêmica a assentadas capixabas
Oliveira e Maria de Lourdes sempre pensaram no futuro das filhas. Foto: Incra/ES
Para o casal Oliveira Teodoro da Silva e Maria de Lourdes Martins da Silva, moradores do assentamento Ouro Verde, sediado no município de Muniz Freire, na região Sudoeste do Espírito Santo, a ideia de potencializar a produção no lote sempre esteve associada à melhoria da qualidade de vida da família e ao sonho de formar as filhas Rafaela e Rakyeli.
Nessa perspectiva, desde a chegada na área de reforma agrária, em dezembro de 2001, passaram a implementar suas atividades produtivas, com foco no cultivo do café, sem perder de vista os estudos das jovens e o desejo de torná-las cidadãs. Após mais de duas décadas, os resultados começaram a se consolidar conforme os planos deles: comemoram uma boa produção do grão e, em breve, mais um título acadêmico das filhas com a conclusão dos cursos de doutorado.
Rafaela Martins da Silva, 27 anos, engenheira florestal, cursa doutorado na Universidade Federal de Viçosa (UFV/MG), enquanto a irmã caçula Rakyeli Martins da Silva, 25 anos, engenheira agrônoma, cursa doutorado na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), localizada em Campos dos Goytacazes (RJ).
A qualidade de vida da família vem do trabalho árduo. Criam 80 galinhas e alguns porcos e cultivam horta e pomar com itens como laranja e mexerica ponkan, entre outros. A produção serve para subsistência e comercialização do excedente. No caso da mexerica (cerca de 100 pés), as 50 caixas colhidas em 2021 acrescentaram R$ 500 ao orçamento do casal, que hoje conta também com suas aposentadorias.
Os bens materiais dos quais usufruem fazem toda a diferença na transformação de suas vidas. Caso do carro de passeio e da casa confortável em que residem – construída e reformada a partir de recursos do governo federal e, posteriormente, ampliada com recursos próprios conforme suas necessidades pessoais.
Produção de destaque
A principal atividade produtiva desenvolvida pela família, o café, iniciou-se em 2003 com o acesso ao Pronaf A, no valor de R$ 12 mil, quitado em 2013. Atualmente, com 4 mil covas do grão na propriedade, em 2021 foram colhidas 42 sacas de café pilado, gerando uma renda de quase R$ 60 mil. Desse total, 26 sacas estão acondicionadas em um depósito da região para serem comercializadas na hora do aperto ou para adquirir algum bem: é a poupança da família Silva.
Mais recentemente, para otimizar a qualidade do café, foram estabelecidas algumas melhorias no processo de secagem dos grãos a partir da construção de uma estufa, no ano passado, e do novo terreiro em alvenaria, em 2022.
As orientações das filhas nos processos produtivos e no manejo correto do cultivo de café já começam a dar resultados. Ao participar do 13º Concurso de Cafés de Qualidade de Muniz Freire (ES), realizado em 2021, Oliveira foi premiado na categoria “Sustentável”. Segundo ele, por pouco o café produzido não alcançou a pontuação necessária à classificação de “Especial”. “Essa premiação simbólica e o reconhecimento na cidade são conquistas importantes para um assentado da reforma agrária”, considera.
Participação das filhas
Pensando no futuro, Rafaela e Rakieli começaram a investir no lote. Recentemente, em razão do aquecimento das vendas do abacate – daí a denominação do assentamento (Ouro Verde), uma vez que na fazenda de mesmo nome, que deu origem à área da reforma agrária, no passado havia cerca de 70 mil exemplares plantados – e da boa aceitação do produto no mercado consumidor, elas plantaram 60 covas desse cultivo. Em termos comparativos, com apenas 15 abacateiros residuais da antiga propriedade, o pai delas colheu em 2021 cerca de três toneladas e obteve uma renda de, aproximadamente, R$ 3 mil.
A mesma coisa em relação ao café. Em 2020, as irmãs plantaram 3 mil mudas de café arábica e, na primeira colheita, em junho deste ano, já terão algum retorno – embora a estimativa é que a produção aumente consideravelmente somente na safra de 2024 e atinja a marca de 40 a 50 sacas do produto maduro.
Tão logo concluam os respectivos cursos de doutoramento, as filhas do casal deverão se estabelecer no lote da família. Segundo os pais, elas pretendem seguir carreira na profissão sem perder de vista as ações e os processos produtivos da parcela como um todo, pois têm participação essencial nos resultados alcançados atualmente. “Sem dúvida, o conhecimento e as orientações de nossas filhas têm agregado valor à produção. E mesmo que no futuro trabalhem fora, o foco sempre será o assentamento”, revela Oliveira, orgulhoso.
Para o superintendente regional do Incra/ES, Fabrício Fardin, “o retorno e a permanência de filhos de assentados em áreas da reforma agrária, com formação acadêmica e conhecimento específico, fortalecem a produção dos lotes e potencializam as condições para o sucesso de seus pais e da família toda”.
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