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Atividades produtivas
Produção agroecológica demonstra bons resultados no Espírito Santo
No assentamento Rodeio, dona Vitorina aproveita os produtos cultivados em família para fabricar geleias, biscoitos, bolos e conservas. Foto: Incra/ES.
A necessidade de repensar novos conceitos em relação ao meio ambiente e à forma de produzir alimentos. Essa é uma preocupação que tem pautado a realidade das famílias assentadas em áreas de reforma agrária no Espírito Santo. Nos municípios de Nova Venécia e de Aracruz, por exemplo, há experiências em diferentes estágios quanto ao modo de conduzir os processos produtivos nos lotes.
No assentamento Rodeio, em Nova Venécia, a família Colonna consolidou a produção com base no estilo de vida agroecológico. Pedro Paulo Colonna, 40 anos, iniciou a transição para o sistema produtivo depois de fazer cursos sobre o tema. As capacitações foram promovidas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 2008, e pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater/MG), entre 2010 e 2013.
Graças ao interesse de Pedro Paulo pela atividade, o lote propicia renda média anual de R$ 60 mil. Em 2020 foram colhidas mais de 20 toneladas de produtos. Entre os itens, frutíferas, hortaliças e culturas sazonais (melancia, maracujá e jabuticaba), perenes (café) e anuais (como feijão, milho), além da apicultura.
As abelhas têm papel fundamental na reconfiguração do espaço em que está disposta cada cultura, razão pela qual o agricultor acredita tanto no sistema agroecológico. “A minha leitura é de um projeto de vida não só da gente, da família, mas para o planeta”, afirma. Ele defende uma forma mais equilibrada e generativa do sistema de produção nos processos de desenvolvimento e de sustentabilidade. “É lento, mais trabalhoso e despende mais energia, mas é em prol de todos.”
Comercialização
Desde o início no assentamento, em 2002, seus pais, Pedro Colonna Neto e Vitorina Maria Ortelan Colonna, investiram na ideia. O casal se divide entre as tarefas da agroecologia e da agroindústria na utilização dos produtos gerados na parcela. Dona Vitorina inclusive possui alvará sanitário de funcionamento da agroindústria, com instalações específicas construídas na casa a esse fim. O documento foi emitido pelo município de Nova Venécia. Isso permite o manuseio de matéria-prima na produção de geleias, biscoitos, bolos e conservas.
A família faz parte da história da Associação Veneciana de Agroecologia - Universo Orgânico. Fundada em 2004, a entidade conta, desde 2011, com espaço cedido pelo município para comercialização de produtos no centro da cidade.
Este ano, sete das 26 famílias associadas participam do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Fazem entregas quinzenais de mercadorias e têm contrato de mais de R$ 40 mil.
Outra iniciativa da associação envolve o Instituto Federal do Espírito Santo (Campus Nova Venécia), a partir de fomento do Banco do Nordeste. A instituição de ensino é responsável pelo desenvolvimento de um software para gerir a comercialização e o rastreamento da produção dos integrantes da associação. A expectativa é replicar a experiência a entidades similares.
O programa representa um ganho na administração do negócio e controle do fluxo de caixa, rastreabilidade dos produtos e inserção de elementos em um banco de dados específico. O processo visa a facilitar a certificação da produção e o acesso dos consumidores a informações sobre as unidades produtivas. O aplicativo também vai alavancar as compras dos clientes e as entregas dos produtos em domicílio.
Para o superintendente do Incra/ES, Fabrício Fardin, diante da recente valorização pelo consumidor dos produtos agroecológicos, toda proposta de potencialização desse sistema produtivo é bem-vinda. “Só tem a trazer ganhos em termos de incremento de renda às famílias e de preservação do meio ambiente”, destaca.
Implantação gradual
No assentamento Nova Esperança, em Aracruz, o sistema agroecológico está sendo implantado aos poucos na parcela do casal Romildo Gonçalves Ferreira e Zélia Francisca de Oliveira Ferreira. O responsável é o filho Luciano Gonçalves Ferreira. Apostaram no plantio de café e pimenta-do-reino e no cultivo de horta orgânica. Ele e outros seis irmãos trabalham em parceria com os pais.
Como a família ainda está se adaptando à aplicação dos métodos da agroecologia, a atividade carece de adequações a ponto de conseguir certificação. Mas os cultivos implantados no sistema tradicional são feitos com práticas que causam menor impacto ao meio ambiente até a substituição pelo novo sistema produtivo.
Em 2019, Luciano realizou um curso sobre o tema, promovido pela empresa Suzano S.A. em Mucuri (BA). Há três anos, a área agricultável do lote da família é tratada apenas com biofertilizante. Outra medida adotada foi o uso de estacas vivas. Na técnica, plantas como a moringa (acácia-branca), o nim e a gliricídia servem de proteção ao crescimento das espécies principais (caso do café e da pimenta-do-reino). Elas foram escolhidas por se adaptarem a climas secos. Além disso, o plantio em sistema de consórcio (banana, café, pimenta e outras culturas) torna o lote mais eficaz em termos produtivos e ambientais. “No princípio, houve resistência dos meus pais em relação ao sistema agroecológico e hoje eles também implementam a área com essa filosofia”, analisa.
Nos dez mil pés de café, a renda familiar obtida em 2021 com a safra de 200 sacas do produto pilado chegou a R$ 86 mil. Já os dois mil pés de pimenta-do-reino produziram três toneladas e renderam mais R$ 54 mil ao casal e dois dos filhos.
Por meio de contrato com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) referente ao período 2020/2021, o agricultor, a mãe, Zélia, e a irmã Josiana entregaram mais de nove toneladas de aipim, cenoura, beterraba e abóbora. A renda foi de aproximadamente R$ 16 mil. Desde 2015 participam do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O contrato anual antes da pandemia aproximava-se de R$ 20 mil por produtor. Atualmente, o valor de entrega é de R$ 6 mil. O fornecimento de frutas e hortaliças (cenoura, beterraba, alface, banana-da-terra, aipim e laranja) possibilitou aos três um retorno de R$ 18 mil este ano.
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