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Piscicultura vira agroindústria em assentamento de Capão do Leão (RS)
A vontade de ter peixe fresco para as refeições acabou virando negócio para o casal Cerli Teresa Oliveira e Argeu de Lacerda e Silva. É deles a primeira agroindústria familiar de pescado criada no município de Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. A Piscicultura Silva está localizada no assentamento 24 de Novembro, e foi inaugurada no final de março de 2024.
“Na realidade, queríamos o peixe para consumo. Mas com o tempo vimos que poderíamos ir mais longe. E gostamos da criação”, afirma Cerli. A formalização e a certificação do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) permitiu que a família processe e comercialize a produção dos quatro tanques escavados no lote, onde são criados tilápias, traíras, carpas-capim, jundiás e carpas húngaras. Os peixes são vendidos congelados, filetados, em postas ou inteiros.
Os novos produtos fizeram a diferença na Feira Municipal do Peixe, promovida pela prefeitura e pela Emater durante a Semana Santa. “Inauguramos a agroindústria e já participamos em alto estilo, tudo embalado, com etiqueta”, comemora Cerli. Levaram 200 kg de peixes congelados, com preços que variaram de R$ 15 (o jundiá inteiro) a R$ 52 (tilápia filetada) o quilo. A mais procurada foi a carpa-capim, vendida em média a R$ 25 o quilo.
Histórico
Para realizar a vontade de trabalhar com piscicultura, a família contou, desde o início, com a parceria da Emater. Segundo o chefe do escritório municipal de Capão do Leão, Edenilson Batista de Oliveira, foi durante uma visita em 2017 que o casal encaminhou a demanda. O técnico buscou informações e elaborou os projetos para os dois primeiros tanques – abertos com recursos economizados pela família.
Em 2019, surgiu a possibilidade de escavar mais dois tanques subsidiados pela prefeitura – os Silva pagaram o combustível para as máquinas. O aumento da produção levou à comercialização. “Eles participaram das feiras, vendendo peixe vivo por dois anos, mas é difícil: tem que manter o oxigênio, levar cilindro e tem o produto que sobra no dia. Vender o peixe vivo tem menos burocracia, mas é muito trabalhoso”, explica Edenilson. “Então pensamos em vender congelado e fomos atrás de licença, fiscalização e rótulo”, lembra.
Para viabilizar a Piscicultura Silva, Cerli e Argeu adequaram uma peça anexa à residência, com acesso próprio. “Tudo com azulejos, cubas de inox nas estações para a chegada do peixe, a retirada das escamas e a lavagem; e um local adequado para embalar, etiquetar e congelar. Além de bota, avental, touca, luva, papel toalha e álcool gel”, enumera a agricultora. Também teve de ser adequada a destinação das carcaças em tonéis – são recolhidas por uma empresa de Pelotas (RS) que fabrica ração.
Produção
A criação e o processamento dos peixes contam também com o trabalho de dois dos seis filhos do casal. O filho Juliano mora no lote com os pais e dá suporte na produção, faz o transporte e fica na banca da feira. A filha Cristiane cuida de toda a parte administrativa e ajuda no processamento quando possível.
O ciclo de produção é pensado para a Semana Santa – abrangendo secagem e preparo dos tanques, soltura de alevinos, fase da engorda e despesca. Cada etapa demanda força de trabalho variada, mas em boa parte do período, os cuidados com os tanques, três vezes ao dia, ficam com Cerli.
Já o processamento da produção exigiu, neste ano, a contratação de mão-de-obra: um casal de uma colônia de pescadores da região veio ajudar na filetagem. De acordo com Cerli, os principais custos do empreendimento incluem ração e veterinário. Ainda assim, ela avalia que a atividade vale a pena. “Estamos tendo lucro, não é muito, mas sobra”, diz.
Acompanhando os números dos últimos cinco anos de atividade – dois deles de criação mais intensiva, Edenilson também enxerga a viabilidade econômica. “Para produzir em outras épocas do ano vai depender de escala, a produção tem que aumentar, construir mais tanques”, considera.
Além da geração de renda, a experiência da família também contribui para a difusão da linha produtiva. “A piscicultura aqui na região engatinha, é bastante restrita ao autoconsumo e feita de maneira extensiva. Todo mundo adora ter seu açude. Hoje, temos uma unidade de referência para levar a outros agricultores interessados”, avalia o técnico da Emater, lembrando que o município também ganha com o aumento de arrecadação. “É bom para todo mundo”, avalia.
Projetos
A ampliação da produção está no horizonte da família, que já solicitou à Emater a elaboração de projeto para mais dois tanques e está buscando parceria para viabilizar a obra. Paralelamente, a Piscicultura Silva já entrou com processo para receber o Selo Sabor Gaúcho, uma marca de certificação dos produtos originários da agricultura familiar concedida pelo governo estadual.
“Também queremos abrir um Pesque e Pague”, projeta Cerli, mostrando o leque de possibilidades que a piscicultura abriu para a família, para além dos cultivos tradicionais que mantêm nos 29 anos de assentamento.
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