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Agroindustrialização
Intercâmbio discutiu nova normativa do programa Terra Sol
Grupo trocou experiências e compartilhou informações para atualizar a operacionalização do programa de agroindustrialização do Incra. Foto: Incra/PR
Conhecer a iniciativa de empreendimentos promissores da reforma agrária e, assim, aprender com as experiências para construir uma nova normativa, ainda mais democrática e eficiente, para o programa Terra Sol. Esta foi a proposta do encontro, com foco participativo, ocorrido nos dias 13 e 14 de novembro, em Londrina, no Paraná.
O objetivo é contemplar diversas realidades com a nova operacionalização do programa de agroindustrialização do Incra. A programação foi dividida em visitas técnicas a campo e discussões de trabalho com metodologia inclusiva, com a presença de servidores da autarquia, representantes de cooperativas e de instituições de ensino e assentados da reforma agrária de vários estados do Brasil.
No primeiro dia, a equipe multidisciplinar visitou a Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon), de beneficiamento do milho, situada no assentamento Eli Vive, em Londrina (PR); e a Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran), de laticínios, na área de reforma agrária Dorcelina Folador, em Arapongas (PR).Já no segundo dia, representantes de cooperativas de assentados apresentaram suas vivências, modos de organização e desafios. O grupo ofereceu sugestões para o desenvolvimento da normativa e de como o Terra Sol poderia contribuir para edificar os empreendimentos rurais.
“Foi fundamental esta troca de experiência. Acredito que a vinda ao Paraná para conhecer as nossas iniciativas vai colaborar com o fortalecimento do Terra Sol e somar com as colaborações aqui da base”, considerou o superintendente regional do Incra/PR, Nilton Bezerra Guedes.
Após o retorno do encontro, já com as informações tabuladas, a equipe da Diretoria de Desenvolvimento e Consolidação de Projetos de Assentamento do Incra deverá reunir os dados que servirão de subsídio para aprimorar o manual de operações do programa.
“Essa ideia de vir e ouvir todos os envolvidos neste encontro, visitando projetos concretos de agroindustrialização funcionando tão bem, vai oportunizar ao público da reforma agrária beneficiar seus produtos de forma ainda mais eficiente, a partir da nossa instrução normativa que será publicada em breve”, avaliou a diretora de Desenvolvimento e Consolidação de Projetos de Assentamento do Incra, Rosilene Rodrigues.
Empreendimentos
As iniciativas escolhidas para as visitas técnicas refletem as boas práticas no cultivo sustentável de alimentos e a força de trabalho de homens e mulheres, jovens e adultos, do campo. Junto ao cooperativismo das famílias e investimentos do governo federal, viabilizam e fomentam empreendimentos de sucesso, que levam comida saudável para a mesa dos brasileiros.
Situada no assentamento Eli Vive, em Londrina (PR), na região norte do estado, a Copacon foi implantada no local em 2017. São 409 famílias cooperadas, sendo todas assentadas da reforma agrária. A produção de milho não-transgênico chega a oito toneladas por dia e mais cinco toneladas de hortaliças por semana.
O carro-forte são os derivados do milho: fubá, farinha, quirerinha (xerém), canjica amarela e flocão. A produção vai quase toda para venda institucional, como os Programas de Aquisição de Alimento (PAA) e Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), e uma parte para o mercado convencional. A gestão da cooperativa é dividida por setores e feita de forma participativa. Todos os integrantes da direção da Copacon são formados pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), executado pelo Incra.
“Contribuímos na educação, esporte, lazer e geração de trabalho para a juventude assentada”, conta o diretor do empreendimento, Fábio Herdt, que considera a força conjunta o caminho mais eficiente de obter bons resultados. “A melhor forma de dar vazão e comercializar a nossa produção é por meio das cooperativas, sem a necessidade de passar pelos atravessadores”, ressalta.
Variedade e distribuição
No assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas (PR), a visita foi na Copran. A agroindústria de laticínio é uma das maiores do estado: são 836 famílias cooperadas de 32 municípios, sendo 85% de beneficiários de 16 áreas de reforma agrária. Ao todo, 325 famílias produzem leite.
São 40 mil litros por dia, atendendo mais de 2 mil estabelecimentos em 80 municípios paranaenses, além de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Aproximadamente 70% vai para a comercialização convencional e 30% para o mercado institucional, com merenda escolar em escolas de todo o Paraná.
A Copran tem uma vasta variedade de produtos: são 34 itens, entre queijos, fermentados e pastosos. O faturamento chega a R$ 40,5 milhões ao ano. Muitos equipamentos para o beneficiamento do leite foram adquiridos pelo Terra Sol.
“Nossa expectativa é pela volta do programa, pois os investimentos são importantes para a cadeia produtiva. Uma agroindústria nunca está pronta, não tem como estacionar, precisamos potencializar tudo que chega e fazer um aproveitamento máximo da nossa produção”, pontuou a diretora-secretária da cooperativa, Dirlete Dellazeri.
Participação
A jovem artesã Willianne Santos Andrade, do assentamento Caritá, no município de Jeremoabo, na Bahia, esteve presente no encontro com a mãe, Jovelina Andrade Santos. Elas fazem parte da Associação das Mulheres Empreendedoras da Comunidade Caritá (Amecaritá), de artesanato em tecelagem.
“Esse encontro foi de grande importância, desde o intercâmbio para conhecer as agroindústrias e a organização através do movimento social, até a gestão feita pelas cooperativas e associações, como possibilidade a ser fortalecida em nossa região, respeitando nossas culturas e particularidades do Nordeste”, considerou.
Segundo ela, a construção coletiva da normativa proporcionou uma sensação de pertencimento . “É um projeto pensado por nós e para nós assentados da reforma agrária e quilombolas. Saímos com a expectativa da implementação do programa com uma abrangência maior fortalecendo as comunidades”, avalia.
Também participou do evento o agricultor Natalino da Silva Santos, do assentamento Caraíbas, no município de Japaratuba, em Sergipe. “Estou contemplado em muita coisa, feliz de ter participado. Pela primeira vez na história do Terra Sol, ele foi construído com a participação dos beneficiários, não foi de cima para baixo”, pontua.
Para Natalino, o diálogo foi relevante para levar as necessidades reais do campo. “A gente teve a oportunidade de dizer o que a gente precisa e quer que coloque, a gente faz parte dessa construção. Pra mim, enquanto assentado, isso conta muito”, disse.