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Facilitadores capixabas compartilham experiências nos 25 anos do Pronera
Atividade realizada durante especialização em Economia e Desenvolvimento Agrário promovida pela Ufes em parceria com o Incra. Foto: Acervo Ufes
As atividades no âmbito do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), ao longo de seus 25 anos de história, realizadas no Espírito Santo, são resultado do esforço dos colaboradores ligados às instituições de ensino e organizações parceiras.
Asseguradores, professores, coordenadores, acadêmicos (estagiários) e monitores de turmas são parte da trajetória do programa e responsáveis pela oferta de oportunidades no acesso ao ensino de qualidade no meio rural brasileiro.
Com a experiência de quem acompanhou a realidade do Pronera de perto, o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), João Carlos Saldanha, fez um resgate histórico do final da década de 1990 a meados dos anos 2000, quando coordenou ações em cursos da modalidade EJA, realizados por meio de convênio celebrado entre a instituição de ensino, o Incra e o Centro Integrado de Desenvolvimento dos Assentados e Pequenos Agricultores do Espírito Santo (Cidap/ES).
“Nesse período foram instaladas salas de aula em acampamentos e assentamentos rurais, com a finalidade de promover a redução do analfabetismo e a elevação da escolaridade entre os agricultores. As propostas pedagógicas foram elaboradas a partir do diálogo entre movimentos sociais e o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da universidade. Os eixos norteadores eram temas relacionados à cultura e ao trabalho”, lembra.
Segundo o professor, o Pronera contribuiu com a formação de educadores que prosseguiram atuando em áreas de reforma agrária. “Além de propiciar uma maior aproximação entre a universidade e os temas emergentes no meio rural capixaba, como a educação do campo e a agroecologia, a ação contribuiu para reparar direitos historicamente negados aos sujeitos sociais do campo”, avaliou.
A servidora do Incra/ES, Janete Carvalho de Azevedo, foi asseguradora do programa durante muitos anos no estado. Dentre suas atribuições estava o acompanhamento dos contratos no cumprimento das tarefas pelas instituições parceiras. Hoje, aposentada, ela recorda especialmente da alfabetização de jovens e adultos.
“Pessoas que talvez não tivessem condições de aprender a ler, passaram a ter a oportunidade até de fazer um curso técnico, superior ou mesmo em nível de pós-graduação. O Pronera abriu um leque de oportunidades para as famílias de agricultores e seus filhos”, considera.
Ela conta ainda sobre o entusiasmo dos professores e dos estagiários da universidade responsável pela condução dos projetos. “Havia um entrosamento e uma convivência de amizade muito boa deles com os assentados”, disse. Outro detalhe que chamou sua atenção foi o fato de ver filhos alfabetizando os pais, seguindo os princípios pedagógicos do programa. “E, apesar de todas as dificuldades e entraves superados no decorrer dessas ações, foi um verdadeiro aprendizado para todos os envolvidos”, pontua.
Formação
Licenciada em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Dalva Mendes de França participou como estagiária no processo de formação e acompanhamento das turmas de EJA no estado. Moradora do assentamento Olinda II, no município de Pinheiros (ES), na região Norte do Espírito Santo, em 2000 ela apoiou um projeto de alfabetização em benefício de 800 educandos. A iniciativa possibilitou a formação de monitores para implementar metodologia específica no campo.
“Após concluir o curso em 2001, segui contribuindo na formação de educadores nas turmas de EJA nos municípios. Essa caminhada a partir do Pronera potencializou múltiplos espaços e tempos de resistência e luta. A articulação dos movimentos sociais do campo com o Estado na busca pela implementação e fortalecimento de políticas públicas para educação do campo foram fundamentais nesse processo”, conta Dalva, hoje doutora em Educação pela Ufes, com título obtido em 2022 e, atualmente, professora de educação infantil em Pinheiros (ES).
Uma das responsáveis pela coordenação pedagógica da especialização em Economia e Desenvolvimento Agrário, promovida pela Ufes entre 2019 e 2021, a professora Renata Couto Moreira destaca que as etapas presenciais do curso foram possíveis graças ao aporte financeiro do programa para cobrir despesas com hospedagem, alimentação e passagens dos alunos, além de aquisição de livros e materiais didáticos.
“Outro elemento positivo na condução do curso foi sua forma itinerante. As aulas presenciais ocorreram em São Mateus (ES), Guararema (SP), Vitória (ES) e também, por conta da pandemia, em ensino a distância. Isso permitiu aos discentes conhecerem outras realidades, com aulas de campo e visitas a centros culturais e históricos, ampliando sua formação. Além disso, o compromisso individual e coletivo com seus respectivos territórios de vivência e atuação induziu muitos estudantes a pesquisarem temas para seus trabalhos finais baseados em alguma especificidade de suas regiões”, complementou a professora.