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Encontro promove troca de experiências e produtos no Rio Grande do Sul
Tradicional evento de troca de sementes crioulas no assentamento Rondinha. - Foto: Escola Joceli Corrêa.
Incentivar a preservação de espécies por meio do intercâmbio de sementes, plantas e até de ovos de galinha é prática comum entre agricultores. Em Jóia (RS), famílias dos assentamentos Ceres e Rondinha retomam, aos poucos, eventos presenciais com a finalidade de trocar conhecimento e produtos da reforma agrária.
Suspenso em 2020 em virtude da pandemia, o tradicional Encontro de Troca das Sementes Crioulas voltou a ser realizado. Promovido pela comunidade local e entidades apoiadoras, ocorreu na terça-feira (14), no assentamento Rondinha.
Nesta quinta edição, a iniciativa reuniu 70 pessoas na escola Joceli Corrêa, uma das instituições organizadoras. Quinze famílias e um grupo escolar expuseram mudas, hortaliças, ervas medicinais, entre outros gêneros. O público também assistiu palestra e depoimentos sobre sustentabilidade na agricultura familiar.
O assentado Roque Calonego apresentou a experiência que vem desenvolvendo há dois anos em suas lavouras de grãos. No encontro de 2019, conheceu técnicas de cultivo com insumos biológicos. Desde então, realiza parte da adubação do solo e do controle de insetos com esse tipo de material. Segundo conta, inicialmente pensava em aplicar na horta e no pomar. “Eu não me contentei e passei a usar também no plantio de soja, milho e trigo para economizar nos custos, e por questões de saúde.”
Atualmente, Calonego e outras cinco famílias mantêm 60 hectares de trigo com tratamento natural e contam com acompanhamento técnico de uma cooperativa. “Aprendemos a fazer os produtos à base de enxofre, cal, pó de rocha e diversos para reduzir o uso de veneno, e a experiência vem dando certo”, comemora.
“Remédio” no horto
Veteranos no evento, Francisco Roque e Maria de Almeida reafirmam a necessidade da conservação da natureza. Na visão deles, e encontro é importante a fim de manter vivas as práticas preservacionistas. “Tudo é vida e toda espécie é remédio”, diz ele. O casal é conhecido na região pelo horto com mais de 100 variedades de plantas comestíveis ou medicinais.
O lote de 21,65 hectares no assentamento Rondinha - referência em preservação ambiental - se tornou unidade demonstrativa e, antes das restrições sanitárias, atraía visitantes e pesquisadores.
A cada oportunidade, exibem o catálogo diversificado de plantas terapêuticas, aromáticas e condimentares cultivados com dedicação. Levam, ainda, ramas de mandioca e sementes de abóbora, melancia, moranga, porongo, pepino, vassoura. Além disso, diferentes qualidades crioulas de pipoca (preta, roxa e branca) e de milho (roxo, branco, cateto e doce).
De geração para geração
A permuta é tradição entre Danilo Borges dos Santos e os oito irmãos. “O amendoim miúdo veio lá dos meus pais, nem lembro há quantos anos”, diz. E completa: “tenho tipos de alface que planto há 20 anos e quando a gente se visita, sempre troca uma variedade ou outra”.
Os parentes o ajudam a recuperar espécies. Conforme explica, nos últimos dois anos, por causa da estiagem, perdeu todas as de milho. “Agora estou recomeçando com as sementes que consegui com meu cunhado lá de onde eu vim, Erval Grande (município a cerca de 300 quilômetros)”, comenta Santos.
Mas as 28 qualidades diferentes de feijão estão mantidas e na última safra renderam 800 quilos. É comercializado em programas institucionais - parte foi entregue no primeiro semestre e o restante abastecerá a alimentação escolar até o fim do ano.
Resistente ao uso de agroquímicos, ele contabiliza “de 25 e 30 itens” plantados no lote onde vive com a esposa e o filho caçula, no assentamento Rondinha.
O cultivo agrícola é feito em dez hectares. Em outros cinco hectares, Santos se orgulha de ter recuperado uma área degradada e de preservar a mata ciliar existente no rio que faz divisa à terra. O ambiente serve de berçário para animais como aves e o ratão do banhado.
“Quando faz isso, você sente amor e cultiva o vínculo com suas raízes, mesmo nos momentos que não tem lucro”, afirma o assentado. “Se você quer uma geração consciente, tem de ensinar dentro de casa”, declara, ao manifestar a vontade de deixar a parcela para o filho seguir os mesmos passos.
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