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Cícero Guedes
Ato em assentamento criado na Usina Cambahyba (RJ) lembra crimes da ditadura
O assentamento Cícero Guedes, em Campos dos Goytacazes (RJ), criado por meio de portaria publicada em 23 de agosto deste ano, foi palco de um ato público a favor da criação do Memorial Cambahyba Ditadura Nunca Mais, por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Reforma Agrária. A área, pertencente à antiga Usina Cambahyba, era utilizada pela ditadura militar para incineração de presos políticos. A manifestação realizada na quarta-feira (6), reuniu movimentos sociais e representantes do Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC).
Para a superintendente do Incra no Rio de Janeiro, a criação do assentamento Cícero Guedes é uma grande conquista para os trabalhadores sem terra. “Além disso, esse assentamento é um símbolo da luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil. O resgate da memória dos presos políticos da ditadura militar é o nosso compromisso de que eles não morreram em vão”, disse
Familiares de presos políticos torturados e mortos nas prisões da ditadura militar entre 1964 e 1985, entre eles 12, cujos corpos foram incinerados nos fornos da extinta Usina Cambahyba, participaram do ato público.
José Carlos dos Santos, 21 anos, estudante do 7º período de Jornalismo, é morador do assentamento Dandara dos Palmares, localizado em Campos dos Goytacazes, desde os três anos de idade. Membro da Direção Estadual do MST, Zé, como é conhecido, foi um dos coordenadores do ato no assentamento Cícero Guedes. “Fiquei muito emocionado, ainda mais quando me pediram para ler a carta de um dos familiares. A mensagem que a carta trouxe me marcou bastante, foi realmente impactante estar ali naquele momento”, revelou o jovem assentado.
Brasil sem ódio
O chefe da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do MDHC, Nilmário Miranda, destacou que o momento rememora um fato extremamente vergonhoso para o Brasil, por isso a importância de lembrar para que as coisas nunca mais se repitam. “Esse dia também simboliza a renovação da esperança de construir um Brasil livre do ódio, do preconceito e da discriminação por orientação religiosa”, afirmou.
Já o coordenador-geral de Memória e Verdade e Apoio à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, o também poeta Hamilton Pereira, que passou a usar o pseudônimo Pedro Tierra para conseguir enviar seus poemas para fora do presídio na ditadura, visivelmente emocionado, doou três livros de sua autoria à coordenação do assentamento Cícero Guedes.
“O ato foi histórico e importante para dar visibilidade e fortalecer a luta por justiça das famílias dos militantes que tiveram seus corpos incinerados nos fornos da Cambahyba. E também a reforma agrária, já que várias famílias do acampamento Cícero Guedes são de trabalhadores rurais que sofreram condições de escravidão na Usina, que agora poderão plantar e colher em uma terra onde foram explorados e que agora será deles”, declarou Ana Paula Saraiva, militante do MST e coordenadora do acampamento Cícero Guedes.
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