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Investimento
Assentados no Ceará realizam obra com recursos do manejo florestal
O sangradouro, com o açude ao fundo, vai beneficiar os moradores da área de reforma agrária. Foto: Ana Lima (associação)
Famílias beneficiárias do assentamento Carnaúba/Casinhas, localizado em Sobral, na região Norte do Ceará, a 235 quilômetros de Fortaleza, comemoram a construção do sangradouro de um açude pertencente à área de reforma agrária. A obra foi realizada utilizando recursos oriundos do plano de manejo florestal desenvolvido pelos assentados.
Com 3,4 mil hectares, o Carnaúba/Casinhas conta com 60 famílias assentadas e um percentual de 20% da área destinada à reserva legal, ou seja, 696 hectares. Nos 2,7 mil hectares restantes, os agricultores residem e desenvolvem suas atividades produtivas e o plano de manejo sustentável.
Resultado da área manejada, os beneficiários comercializam a lenha e estacas de sabiá (espécie florestal nativa). A Associação dos Pequenos Produtores e Produtoras Rurais do Assentamento Casinhas é a responsável por gerir as verbas provenientes do plano.
“A cada metro de madeira retirado da área, um percentual é deixado para a associação (cerca de R$ 3 reais por metro). Já com a venda das estacas, o valor é rateado meio a meio com as famílias e o grupo. Dessa forma, conseguimos arrecadar um fundo de caixa razoável para depois investirmos em melhorias para a comunidade”, explicou o assentado e membro da associação, Francisco Luís Teixeira Rodrigues.
A obra de construção do sangradouro era esperada há muito tempo pelos moradores. No local existem outros três açudes. A utilização da renda advinda do manejo para execução da obra foi aprovada pelas famílias após reunião. “A ausência do sangradouro já estava gerando dificuldade de acesso dos carros que fazem transporte para os serviços de educação e saúde no assentamento”, frisou Rodrigues.
Execução
A mão de obra foi fornecida pela comunidade, que também contratou alguns pedreiros. A maior parte do material – areia, pedras e cimento – foi comprada pela associação, como os 80 dos 120 sacos de cimento utilizados. Já a prefeitura do município ajudou com os outros 40 sacos e o empréstimo do maquinário. No total, a associação investiu R$ 9,5 mil do fundo de manejo na implantação do sangradouro do açude.
“Essa obra significa muito para o assentamento e é motivo de orgulho para nós. Primeiro porque vai melhorar o acesso dos transportes e, segundo, porque fizemos com recursos do nosso trabalho e serve para mostrar que, quando há organização da comunidade, o plano de manejo sustentável é uma excelente atividade com retorno para os assentados”, destacou Rodrigues.
Proteção
Para o engenheiro agrônomo do Serviço de Meio Ambiente da Divisão de Desenvolvimento e Consolidação de Assentamentos do Incra/CE, Odilo Neto Luna Coelho, os planos de manejo são uma forma de geração de renda, substituição de atividades impactantes sobre o meio ambiente e manutenção dos trabalhadores rurais nas áreas.
“Aqui no Ceará não criamos plano de manejo dentro de áreas de reserva legal. Nosso interesse é aumentar a área protegida do assentamento, usando-os em outros locais onde também não é permitido desmatar e usar queimadas e, assim, aumentamos o grau de proteção do solo”, explicou Coelho.
Dos 415 assentamento federais existentes no estado, atualmente o Incra/CE tem 66 áreas de reforma agrária com plano de manejo florestal – o equivalente a 16% do total. São cerca de 37,4 mil hectares de caatinga manejados.
Conselho Estadual
Em 17 de janeiro (quarta-feira), a autarquia participou da 114ª reunião ordinária do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural (CEDR), ocorrida na sede da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) do Ceará. Na ocasião, fez uma apresentação com o tema “Ações Socioambientais do Incra/CE com a participação dos assentados”, cujo foco foi o manejo florestal comunitário com fins agrosilvipastoris nos assentamentos com recursos florestais aptos.
O superintendente adjunto do Incra/CE, Marcos Aurélio Cândido da Silva, mostrou a experiência da regional com os planos de manejo. O objetivo é pleitear, junto à SDA, a criação da cadeia produtiva dos produtos florestais, assim como já existe para outros cultivos (cadeia do leite, da apicultura, silvicultura, entre outras).
“Tivemos uma boa receptividade da proposta por parte das instituições e entidades integrantes do CEDR. Também foi muito importante nossa participação, por publicizarmos o trabalho desenvolvido pelo Incra nos assentamentos do Ceará e que pode, perfeitamente, ser inserido dentro da cadeia produtiva de outras atividades”, ressaltou o superintendente adjunto.