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Assentadas baianas falam de trabalho e luta no Dia Internacional da Mulher
A agricultora Olga Santos, na lida com o cacau em área no sul da Bahia. Foto: Acervo pessoal
A beneficiária da reforma agrária, Olga de Jesus Santos, é destaque no assentamento João Amazonas, situado no município de Ilhéus, no Litoral Sul da Bahia. No Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, ela assegura que as trabalhadoras do campo nunca devem desistir de seus sonhos, mesmo com obstáculos ao longo do caminho.
“Há 20 anos sonhei com uma terra. Agora estou aqui com novos planos e desafios”, destaca. Olga é uma representante das mulheres assentadas que dão o seu suor e se dedicam ao trabalho em áreas de reforma agrária baianas, independente da geografia da região.
Implementado pelo Incra em 2004, o João Amazonas possui 833,2 hectares e capacidade para 75 famílias. Está inserido em área de vegetação de Mata Atlântica, em lavouras cacaueiras cultivadas no sistema Cabruca, ou seja, no sistema agroflorestal próprio da região.
Além de cuidar de suas roças de cacau, Olga é presidente da associação do assentamento. A sua jornada inclui o combate à vassoura de bruxa que ainda resiste em parte dos cacaueiros.
Outra agenda é a educação. “Uma organização não-governamental está finalizando a construção de uma escola. Quatro salas já foram inauguradas e são voltadas para a educação infantil e o ensino fundamental”, conta ela, que é mãe de filhos gêmeos.
A agroecologia começa a adentrar na área. “As salas são com banheiro e, o mais importante, é que na construção é utilizado o adobo de barro, ao invés de bloco. Com isso, temos 68 % a menos de impacto ao meio ambiente”, ressalta.
Valorização
No outro extremo do estado, na região sisaleira, no sertão baiano, vive a assentada Teresinha Santos Silva, casada, mãe de cinco filhos, seguindo desde pequena a peleja do sisal. Ela vai para a lida às 7h e muitas vezes só retorna após as 22h. “É preciso resiliência, mas me acostumei cedo. Cresci acompanhando meu pai no trabalho no motor desfibrilador da fibra”, conta.
Teresinha reside no assentamento Nova Palmares, situado no município de Conceição do Coité (BA). A área foi implantada pelo Incra em 1999, com 2,2 mil hectares e 104 lotes. Segundo a agricultora, seu maior desafio não são o sol e a estiagem, nem as palmas rígidas com espinhos grossos nas pontas que precisa cortar para levar para o motor, mas sim o baixo custo do serviço. “De um pé de palma, apenas 4% se torna fibra. É preciso produzir muito para tirar algum dinheiro, até porque o preço é muito barato (um quilo por R$ 3)”, explica.
O trabalho é hercúleo. “Após a coleta das palmas verdes, elas são desfibriladas no motor e depois estendidas para secar. Na etapa seguinte vai para a batedeira e, nessa parte, são separadas as fibras”, explana. O sisal é utilizado na fabricação de tapetes, artesanatos, cordas ou fios biodegradáveis.
No alto de seus 66 anos, como mulher calejada do trabalho duro, Terezinha tem sonhos bem objetivos. “Gostaria que o preço da fibra subisse. E também que tivéssemos tecnologia para aproveitar as sobras do sisal”, acrescenta.