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Agroindústria é alternativa de renda em assentamentos capixabas
Luciana Pedroza administra com a mãe uma agroindústria de conservas, criada por elas em 2015 no assentamento Santa Rita. Foto: Incra/ES
Quem percorre áreas da reforma agrária no Espírito Santo percebe a transformação ocorrida nos últimos anos resultado da implementação de novos processos produtivos ou do desenvolvimento de projetos empreendedores em alguns assentamentos. Ações realizadas com o objetivo de consolidar a viabilidade econômica local começam a transformar as condições de vida das famílias.
As agroindústrias têm se revelado uma iniciativa econômica capaz de reforçar o orçamento anual derivado basicamente do cultivo do café – principal vocação agrícola dos produtores em terras capixabas – e diminuir também a dependência dessa cultura.
O assentamento Santa Rita, no município de Bom Jesus do Norte, abriga 50 famílias de agricultores assentados. Nessa área uma agroindústria de propriedade das assentadas Luciana da Silveira Alves Pedroza e Marina da Silveira Alves, mãe e filha, produzem conservas de palmito. A Conservas Apiacá utiliza o palmito de forma artesanal, para conservas em embalagens de 300 gramas e de 1.800 gramas. Na pequena fábrica familiar os produtos in natura passam pelas fases de cozimento, envasamento e reserva por cerca de 15 dias antes de estarem prontos à comercialização, com média mensal de processamento de uma tonelada.
Segundo Luciana, nos lotes da família há uma plantação conjunta de cerca de sete mil pés de palmito pupunha, além de contarem com a entrega regular de matéria-prima dos pequenos produtores da região e dos agricultores de assentamentos vizinhos. “Somente com o apoio da minha mãe Marina, sócia e parceira de todas as horas, e do meu marido, José Batista Pedroza, foi possível nos estabelecermos".
Com um faturamento anual que em 2021 ultrapassou os R$ 120 mil, a agroindústria atualmente fornece seus produtos a estabelecimentos em Guaçuí que integra a rede de uma empresa atacadista nacional, bem como para supermercados dos municípios de Apiacá, Bom Jesus do Norte e São José do Calçado.
Rancho Alegre
Localizado no município de Mimoso do Sul, o assentamento Rancho Alegre, criado em 1998, abriga uma agroindústria de processamento de frutas. O empreendimento de propriedade da família de Girlene Teixeira Curitiba Ferreira e de Elenilton de Melo Ferreira, começou com a produção para consumo da família de polpas de acerola, goiaba e maracujá. Em 2021, a fábrica chegou a 600 quilos de produção anual de polpa nos sabores abacaxi, acerola, cupuaçu, goiaba, graviola e maracujá. A renda mensal com o empreendimento fica entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, sem contar a água de coco envasada, que rende R$ 450 por mês à família.
Segundo Elenilton, o empreendimento ainda carece da estruturação. O casal está construindo um pequeno prédio, destinado ao futuro espaço de produção com as especificações técnicas de funcionamento, e com equipamentos (máquinas de envasar e selar) mais modernos. O objetivo é profissionalizar a agroindústria e melhorar a embalagem dos produtos.
Mesmo sem muita tecnologia, ao comprar matéria-prima de outros produtores – em 2021 foram quatro toneladas e mais de uma tonelada de frutas produzidas no lote – para atender sua demanda de produção, a agroindústria gera renda indireta e aquece a economia local. “Estamos encaminhando o processo de formalização da empresa, visando participar de processos de licitação e efetivar novos contratos para elevar o faturamento” afirma o casal.
Florestan Fernandes
O protagonismo de um grupo de mulheres do assentamento Florestan Fernandes, criado em 2003 e localizado no município de Guaçuí, no Sul capixaba, a cerca de 230 quilômetros de Vitória, rendeu projeção estadual. Em 2020 as assentadas conquistaram o prêmio estadual na 2ª edição do HorizontES em Extensão como uma das experiências de sucesso, em virtude do empreendedorismo e do cooperativismo demonstrado pelas integrantes da agroindústria de polpas instalada na área que abriga 34 famílias de agricultores.
Em 2009, a partir da participação de algumas assentadas no curso de plantas medicinais ministrado por professores de uma instituição federal de ensino, surgiram os primeiros esboços do projeto que mais tarde passaria a ser chamado de agroindústria de polpa de frutas.
Passada mais de uma década, a agroindústria se desenvolveu e hoje conta com caminhão e trator utilizados no local. A cooperativa também investiu na construção das instalações da agroindústria e da primeira câmara frigorífica, na aquisição dos equipamentos de produção e de um veículo utilitário para realizar as entregas. Além da câmara frigorífica, com capacidade de armazenagem de quatro toneladas, uma outra foi construída mais recentemente (2020) com recursos próprios e o triplo dessa capacidade.
Cerca de dez mulheres atualmente estão envolvidas nos processos e atividades operacionais da agroindústria. O trabalho vai da recepção das caixas com frutas, que são lavadas, esterilizadas e congeladas; descongelamento e despolpa; envasamento e novo congelamento; e entrega aos clientes. No local também são comercializados geleias, biscoitos e licores fabricados pelo mesmo grupo de mulheres.
Zumbi dos Palmares
No Norte capixaba, o município de São Mateus – distante pouco mais de 210 quilômetros da capital Vitória – abriga no Distrito de Nestor Gomes o assentamento Zumbi dos Palmares. Criado em 1999, com 151 famílias instaladas em uma área de 1.386 hectares, esse assentamento passou a contar, em 2008, com a Associação de Pequenos Agricultores do Assentamento Zumbi dos Palmares (Apap).
Da participação das famílias assentadas nas reuniões da entidade e diante do desafio em buscar novas fontes de renda, um grupo de mulheres resolveu se unir em torno desse objetivo comum. Surgiu daí a ideia de estabelecer sua própria agroindústria de panificação, a partir de experiências na produção individual – sonho concretizado em 2017, com a construção do prédio e a aquisição dos equipamentos para início do projeto.
Nos últimos três anos, com recursos próprios, foram adquiridos por essa agroindústria um forno industrial a lenha no valor de R$ 12 mil e diversos equipamentos, como mesa de granito, armário, mesa de preparo, ar-condicionado e máquina de moer, com investimento de R$ 5,6 mil. Somente na ampliação das instalações foram investidos R$ 15 mil. Dos mais de 80 filiados à associação, cerca de 25 integram a agroindústria. A comercialização dos produtos ocorre mediante a participação em feiras da agricultura familiar da região ou pelo fornecimento de biscoitos e bolos em contratos com o município de São Mateus, pelo programa de compra direta de alimentos (CDA).
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