Estudo coordenado pelo INCA investiga por que há mais casos de câncer de mama agressivo na população negra
Definir o perfil completo das mulheres que são mais acometidas pelo câncer de mama triplo negativo (TNBC) no País, a partir de fatores sociais, comportamentais, ambientais e biológicos, é o objetivo do estudo Mantus - Mulheres Negras e Câncer de Mama Triplo Negativo: Desafios e Soluções para o SUS. Esse subtipo mais agressivo da doença tem maior número de ocorrências na população negra, tanto no Brasil como em outros países, assim como o prognóstico costuma ser pior quando comparado ao de mulheres brancas com TNBC.
“Uma análise molecular mostrou alterações que parecem ser específicas de mulheres negras, e é esse achado que estamos explorando no momento”, revela a pesquisadora do Instituto Nacional de Câncer (INCA) Sheila Coelho Soares Lima, responsável pela coordenação do trabalho, que teve início em 2022. Na fase piloto, já concluída, foi feita uma avaliação retrospectiva de mil pacientes do Instituto, o que confirmou a relação do câncer de mama mais agressivo com a cor da pele preta ou parda.
A primeira hipótese para explicar a maior ocorrência do subtipo mais agressivo (TNBC) em mulheres negras é a influência da ancestralidade e de mecanismos moleculares. Mas fatores comportamentais e ambientais, como o menor acesso aos serviços de saúde, também são levados em conta como possíveis causas. “Pretendemos explorar tudo em conjunto, pois não existe nenhum estudo que englobe esses diversos aspectos, muito menos no Brasil”, esclarece Sheila.
Segundo a pesquisadora, além da avaliação conjunta de fatores diferentes, o trabalho inova ao fazer uma análise específica da população brasileira do ponto de vista genético. Até então, o dado considerado era a cor da pele autodeclarada pelas pacientes. “Em um país miscigenado como o Brasil, é preciso avaliar a ancestralidade, pois pode haver variantes constitutivas dessas mulheres que nos ajudem a entender quem são aquelas que, de fato, têm maior risco de desenvolver a forma mais agressiva da doença”, explica Sheila.
O principal propósito do estudo é produzir dados científicos para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e diagnóstico precoce, assim como a formulação de novas terapias para o controle do câncer de mama agressivo. “Considerando que 76% da população que usa o Sistema Único de Saúde é negra, os resultados que buscamos vão reduzir custos e melhorar o tratamento na rede de saúde do Brasil”, destaca a pesquisadora.
O trabalho ampliou sua abrangência com a inclusão de centros parceiros em diferentes regiões do Brasil, principalmente no Nordeste, onde a população negra é maior. “Reunimos uma equipe de epidemiologistas, geneticistas, oncologistas clínicos, mastologistas, para todo mundo dar sua contribuição. Estamos na fase de levantamento de dados e de inclusão de pacientes”, detalha a pesquisadora.