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Células CAR-T
INCA desenvolve protocolo para acelerar e baratear terapias com células CAR-T
Pesquisadores do INCA estão elaborando protocolo para acelerar e baratear os custos de produção das células CAR-T no Brasil, com objetivo de permitir a implantação dessa terapia no Instituto e, futuramente, em todo o SUS. A pesquisa obteve bons resultados na primeira etapa (fase pré-clínica). Agora, a equipe se prepara para enviar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o Dossiê de Desenvolvimento Clínico do Medicamento (DDCM), com expectativa de receber a aprovação para iniciar os estudos clínicos no INCA no início de 2025. “Estamos trabalhando em uma pesquisa que pode assegurar acesso a uma tecnologia extremamente inovadora no tratamento do câncer”, relata Martín Bonamino, líder do Programa de Terapia Celular e Gênica do INCA.
O projeto é financiado pelo Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) do Ministério da Saúde e, inicialmente, planeja tratar oito pacientes, sendo três com leucemia linfoblástica aguda (LLA) e cinco com linfoma difuso de grandes células- B. “É fundamental passarmos por essa etapa clínica e avaliarmos os resultados com vistas a, futuramente, podermos implantar essa terapia no INCA, oferecendo-a ao SUS”, completa Bonamino.
A terapia CART-Cell já existe e está disponível em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, China e Japão, e tem apresentado ótimos resultados em casos de remissões em pacientes com leucemia e linfoma. A produção das células CAR-T e todo o processo da terapia ainda apresenta altos custos. “O maior desafio para democratizar o acesso a esse tipo de terapia se deve ao fato de ela ser personalizada e ainda muito cara. No entanto, há maneiras de preparar estas células nos centros de tratamento. É nisso que estamos trabalhando”, explica o pesquisador.
Basicamente, a terapia CAR-T-Cell consiste em modificar as células do sistema imunológico do próprio paciente para combater o tumor. O processo de geração das CAR-T é realizado em laboratório a partir de células importantes do sistema de defesa, conhecidas como linfócitos T. Essas células frequentemente protegem o organismo contra infecções e tumores, mas podem perder a capacidade de “reconhecer” o câncer. O processo de produção das CAR-T altera as células T para que possam readquirir a capacidade de “reconhecer” as do tumor e, então, atacá-las, como ocorre com as leucemias e os linfomas. Contudo, por ser uma terapia personalizada, cada paciente exige um processo de produção próprio - e que não são rápidos.
Hoje em dia, as células CAR-T requerem que se use um vírus como “cavalo de troia” para levar o gene que transforma a célula T em uma célula CAR-T. A produção deste tipo de vírus está associada a altos custos de produção e de controle de qualidade, impactando o custo final das terapias com CAR-T. Essa limitação foi o que motivou os pesquisadores do INCA a utilizarem um sistema não viral, que consiste em um pedaço de DNA que, uma vez colocado na célula, promove a produção do CAR. Com a estratégia, o grupo é capaz de gerar células CAR-T em 8 dias, acelerando o protocolo tradicional que, quando usa células CAR-T comerciais, pode levar mais de um mês. Assim, as fases pré-clínicas, alcançaram excelentes resultados e melhoraram as taxas de sobrevida global em animais enxertados com células leucêmicas humanas. Além disso, os resultados foram persistentes, o que sugere potencial de controle da doença a longo prazo.
“Juntos, esses resultados demonstram a eficácia do nosso protocolo e abrem caminho para uma aplicação mais ampla da terapia com células CAR-T”, defende Martín Bonamino.
O pesquisador destaca ainda o caráter multidisciplinar do projeto. No INCA, já há grupo de trabalho mobilizado, que é composto por pesquisadores (da pesquisa básica e da clínica), médicos, enfermeiros e diferentes profissionais da pediatria, hemoterapia, oncologia, hematologia e do serviço de transplante de medula óssea, além de membros da equipe do Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário do INCA.