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Pesquisa avalia sobrevida com câncer de pele melanoma acral em estágios iniciais
Estudo realizado pelo INCA, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD), do Mato Grosso do Sul, avaliou a sobrevida livre de recorrência de câncer (período de tempo após o tratamento no qual o paciente não apresenta nenhum sinal de doença) de pacientes do INCA com câncer de pele melanoma acral em estágios iniciais (I-II). Os pesquisadores avaliaram o impacto das características clínicas (idade, cor da pele, sexo) e do tumor (como as células e os tecidos estão afetadas pela doença) na sobrevida livre de recorrência de câncer nesses pacientes ao longo de cinco anos. Os resultados demonstraram que apesar do prognóstico favorável do melanoma acral em estágios iniciais, em comparação com os avançados, outras características do tumor podem afetar as chances de cura do paciente.
O artigo O impacto das características clínicas e histopatológicas na sobrevida livre de doença em pacientes com melanoma acral em estágios I-II foi publicado no International Journal of Dermatology. O trabalho é fruto de um convênio entre o INCA e a UFMG, que prevê a produção de pesquisas e de projetos direcionados à troca e ao compartilhamento de conhecimentos.
O melanoma acral é um subtipo de câncer de pele melanoma com características próprias, que ocorre principalmente nas plantas dos pés, nas palmas das mãos e embaixo das unhas. “Esse tipo de melanoma é raro em descendentes europeus, porém um dos mais prevalentes em negros, ameríndios e asiáticos, e está associado a um pior prognóstico, em comparação com o melanoma cutâneo em outras localidades. Apesar disso, poucos estudos têm focado no seu prognóstico, principalmente em pacientes em estágios iniciais da doença, o que motivou nosso trabaho”, explica Patrícia Possik, do Programa de Imunologia e Biologia Tumoral do INCA, que coordena a pesquisa, junto a Sara Bernardes, do Departamento de Patologia Geral, da UFMG. Além delas, também participam do trabalho, Aretha Nobre e Luiz Fernando Nunes, do INCA, Raquel Primo e Ricardo Fernandes, da UFGD e Bruna Santos, da UFMG.
O melanoma acral é considerado um dos tipos de câncer de pele mais agressivos. Um dos motivos para isso é a sua alta probabilidade de se espalhar para tecidos e órgãos vizinhos. Ao contrário de outros tipos de câncer de pele, não tem apenas a exposição solar e a cor da pele como fatores de risco, sendo alguns deles ainda desconhecidos. Assim, quanto mais cedo for o diagnóstico, maiores são as chances de cura. Na maioria das vezes, o tratamento é cirúrgico, com a retirada do tumor e da área afetada. Em casos mais avançados da doença, recorre-se também à terapia sistêmica.
No estudo, os pesquisadores analisaram 154 casos de pacientes com melanoma acral em estágios I-II, todos submetidos à revisão dos parâmetros tumorais e clínicos pela médica patologista Aretha Nobre e pelo cirurgião oncológico Luiz Fernando Nunes, ambos do INCA. Os pacientes foram divididos em grupos, com base na presença ou ausência de recorrência do câncer em cinco anos. Os pesquisadores observaram, nesse período, que 27,9 % dos pacientes apresentaram recorrência da doença, com 90% ocorrendo durante os primeiros três anos.
Em linhas gerais, os resultados constatam um melhor prognóstico para o melanoma acral em estágios iniciais e indicam que a observação de características tumorais pode orientar melhor o acompanhamento do paciente pelo médico. “O melanoma acral costuma apresentar prognóstico ruim, em grande parte devido ao diagnóstico tardio e, até mesmo por isso, observamos condições bastante favoráveis quando o tratamento se inicia nos estágios iniciais”, explicam Aretha Nobre e Luiz Fernando Nunes. No entanto, a pesquisa identificou características tumorais significativas: o quanto o tumor invade a pele; se ele está ou não ulcerado; e se há uma maior quantidade de células se dividindo no tecido, presença de células inflamatórias e/ou invasão nos nervos presentes no tumor. “Esse acompanhamento é fundamental para que se possa otimizar o tratamento dos pacientes e aumentar as chances de cura”, concluíram os autores.
Dentre os desafios do diagnóstico e do tratamento do melanoma acral está o fato de que, muitas vezes, seus sinais e sintomas podem ser confundidos com machucados, micoses ou demais condições benignas, além do fato de não se desenvolverem em locais tão comuns. Assim, a população deve ficar atenta às manchas ou pintas irregulares e às possíveis alterações no tamanho, aparência e cor das pintas presentes nas mãos, pés e embaixo das unhas. No entanto, não é preciso alarmar-se e, sim, apenas procurar um(a) médico(a) que irá avaliar os sinais e sintomas, por meio de um exame clínico (e, se for o caso, indicar uma biópsia). “Essa é uma das missões mais importantes da pesquisa em câncer no Brasil e no mundo: contribuir com informações que possam ser úteis para aprimorar-se as práticas terapêuticas e o controle do câncer. A ideia é chamarmos a atenção dos médicos e pacientes para os aspectos de prevenção e detecção precoce, mas também para a possibilidade de melhores taxas de sobrevida livre de recorrência”, defende Patrícia Possik e Sara Santos Bernardes, autoras do artigo.