Doenças relacionadas ao tabagismo
O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco, estando por isso inserido na Classificação Internacional de Doenças (CID10) da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nos mercados nacional e internacional há uma variedade de itens derivados de tabaco que podem ser usados de diversas formas: fumado, inalado, aspirado, mascado ou absorvido pela mucosa oral. Todos contêm nicotina, causam dependência e aumentam o risco do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DNCT). No Brasil, a forma predominante do uso do tabaco é o fumado.
O tabagismo ativo e a exposição passiva à fumaça do tabaco estão relacionados ao desenvolvimento de aproximadamente 50 enfermidades, dentre as quais vários tipos de câncer, doenças do aparelho respiratório (enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, infecções respiratórias) e doenças cardiovasculares (angina, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial, aneurismas, acidente vascular cerebral, tromboses). Há ainda outras doenças relacionadas ao tabagismo: úlcera do aparelho digestivo; osteoporose; catarata; patologias buco-dentais; impotência sexual no homem; infertilidade na mulher; menopausa precoce e complicações na gravidez.
Comparados aos não fumantes, estima-se que o tabagismo aumenta o risco de [1]:
- desenvolver doença coronariana em 2 a 4 vezes [2];
- desenvolver acidente vascular cerebral em 2 a 4 vezes;
- homem desenvolver câncer de pulmão em 23 vezes;
- mulher desenvolver câncer de pulmão em 13 vezes; e
- morrer de doenças pulmonares obstrutivas crônicas (como bronquite crônica e enfisema) em 12 a 13 vezes.
Os seguintes tipos de câncer estão associados ao tabagismo [3]:
- Leucemia mieloide aguda
- Câncer de bexiga
- Câncer de pâncreas
- Câncer de fígado
- Câncer do colo do útero
- Câncer de esôfago
- Câncer nos rins
- Câncer de laringe (cordas vocais)
- Câncer de pulmão
- Câncer na cavidade oral (boca)
- Câncer de faringe (pescoço)
- Câncer de estômago
No Brasil:
O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são responsáveis por 428 mortes diárias no Brasil e aproximadamente 156 mil óbitos anuais. Em 2015, as doenças cardiovasculares e o câncer, que têm o tabagismo como importante fator de risco, foram a primeira e segunda causas de óbitos atribuíveis ao tabaco no país. A mortalidade por câncer correspondeu a 32,27% do total de óbitos atribuídos ao tabagismo. [4]
Para o Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer (450 mil, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma). O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). [5]
Câncer de pulmão no Brasil:
O tabagismo ativo e passivo são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão.
Para o Brasil, estimam-se, para cada ano do triênio 2020-2022, 17.760 casos novos de câncer de pulmão em homens e 12.440 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 16,99 casos novos a cada 100 mil homens e 11,56 para cada 100 mil mulheres.
O padrão da ocorrência desse tipo de neoplasia, em geral, reflete o consumo de cigarros da sua região. Na maioria das populações, os casos de câncer de pulmão tabaco-relacionados representam mais de 80% dos casos.
Câncer da cavidade oral:
O número de casos novos de câncer da cavidade oral esperados para o Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, será de 11.180 casos em homens e de 4.010 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 10,69 casos novos a cada 100 mil homens, ocupando a quinta posição. Para as mulheres, corresponde a 3,71 para cada 100 mil mulheres, sendo a décima terceira mais frequente entre todos os cânceres.
Os fatores de risco mais conhecidos incluem o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, sendo que o risco é 30 vezes maior para os indivíduos que fumam e bebem do que para aquelas pessoas que não o fazem [6]. Entre outros fatores de risco, encontra-se a exposição ao sol sem proteção (importante risco para o câncer de lábio), o excesso de gordura corporal, a infecção pelo HPV (relacionada ao câncer de orofaringe) e fatores relacionados à exposição ocupacional.
Câncer de bexiga:
O número de casos novos de câncer de bexiga estimados para o Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, será de 7.590 casos em homens e de 3.050 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 7,23 casos novos a cada 100 mil homens e 2,80 para cada 100 mil mulheres.
O principal fator de risco para o câncer de bexiga é o tabagismo e está associado à doença em 50% a 70% dos casos [7]. Assim, o risco de desenvolver essa doença entre os fumantes foi duas a seis vezes maior em comparação aos não fumantes [8].
Câncer de laringe:
O número de casos novos de câncer de laringe esperados para o Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, será de 6.470 em homens e de 1.180 em mulheres. O risco estimado será de 6,20 casos novos a cada 100 mil homens e de 1,06 casos novos a cada 100 mil mulheres.
Os principais fatores de risco, já estabelecidos pela literatura, são tabaco (cigarros, charutos, cachimbos, narguilés e produtos feitos por rolos) e bebidas alcoólicas, potencializando o desenvolvimento dessa doença na sua combinação [9] [10] [11]. Outros fatores com possível associação para o aumento do risco são: o excesso de gordura corporal e a exposição ocupacional de alguns elementos como pó de madeira, produtos químicos utilizados na metalurgia, petróleo, plásticos, indústrias têxteis e o amianto.
Referências:
1. U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Smoking: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2004.
2. U.S. Department of Health and Human Services. Reducing the Health Consequences of Smoking: 25 Years of Progress. A Report of the Surgeon General. Rockville (MD): U.S. Department of Health and Human Services, Public Health Service, Centers for Disease Control, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 1989.
3. Centers for Disease Control and Prevention - Health Effects of Cigarette Smoking.
4. Pinto M, Bardach A, Palacios A, Biz AN, Alcaraz A, Rodríguez B, Augustovski F, Pichon-Riviere A. Carga de doença atribuível ao uso do tabaco no Brasil e potencial impacto do aumento de preços por meio de impostos. Documento técnico IECS N° 21. Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria, Buenos Aires, Argentina. Maio de 2017. Disponível em: https://tabaco.iecs.org.ar/documentos-brasil/
5. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva – Rio de Janeiro: INCA, 2020.
6. AMERICAN CANCER SOCIETY. Cancer facts & figures 2019. Atlanta: American Cancer Society, 2019ª.
7. THUN, M. J. et al. (ed.). Cancer epidemiology and prevention. 4th ed. New York: Oxford University Press, 2017.
8. STEWART, B. W.; WILD, C. P. (ed.). World cancer report 2014. Lyon: IARC Press, 2014. 1010 p.
9. BAKER, F. et al. Health risks associated with cigar smoking. JAMA, Chicago, v. 284, n. 6, p. 735-740, Aug. 2000.
10. BALLESTEROS, O. F. M.; HEROS, F. A. Epidemiologia del cáncer de laringe en la provincia de Guadalajara. ORL-DIPS, Barcelona, v. 29, n. 4, p. 172-179, 2002.
11. SHAPIRO, J. A.; JACOBS, E. J.; THUN, M. J. Cigar smoking in men and risk of death from tobacco-related cancers. Journal of the National Cancer Institute, Bethesda, v. 92, n. 4, p. 333-337, Feb. 2000.
Para obter mais informações sobre o tema sugere-se a leitura dos dados de estudo anterior que pode ser encontrado no link a seguir: