Custos atribuíveis ao tabagismo
O tabagismo é o único fator de risco totalmente evitável e responsável por mortes, doenças e alto custo ao sistema de saúde, assim como afeta indiretamente a qualidade de vida do cidadão e da sociedade.
No Brasil, ainda não há estimativas robustas que mensurem em termos absolutos a magnitude da carga econômica do tabagismo. Em termos relativos, um estudo demonstrou que este fator de risco foi responsável por 7,7% dos custos de todas as internações e procedimentos de quimioterapia pagos pelo SUS em 2005 para as doenças analisadas (Pinto & Ugá, 2010). Entretanto, essa participação estimada pode ser considerada apenas uma parte do real impacto econômico do tabagismo para o Brasil.
Um estudo realizado pela pesquisadora da Fiocruz Márcia Pinto com base nos valores monetários de 2011, intitulado “Carga das Doenças Tabaco Relacionadas para o Brasil", estimou o custo atribuível ao tabagismo em 21 bilhões de Reais por ano para o sistema de saúde. O estudo analisou um total de 2.442.038 casos de doenças e destes, 34% foram atribuíveis ao tabagismo (Pinto & Pichon-Riviere, 2011).
Em 2015, a mesma pesquisadora publicou o artigo "Estimativa da Carga do Tabagismo no Brasil: mortalidade, morbidade e custos" onde avaliou os Anos de Vida Perdidos (AVP) atribuíveis ao tabagismo a nível populacional, sendo estimados dois componentes: Anos Potenciais de Vida Perdidos por morte prematura (APVP) e AVP por viver com Qualidade de Vida (AVP-QV). Com a inclusão destas variáveis, o custo total para o sistema de saúde atribuível ao tabagismo passou a 23,3 bilhões de Reais por ano (Pinto et al, 2015).
Os dados da pesquisa de 2011 foram atualizados e seus resultados apontaram que no ano de 2015, o tabagismo gerou custos para assistência médica associados ao tabagismo no Brasil em quase 40 bilhões de reais, o que equivale a 8,04% de todo o gasto em saúde, e os custos indiretos atingiram mais de 17 bilhões de reais, devido à produtividade perdida por morte prematura e incapacidade.
Os resultados totais apontam uma perda anual de 57 bilhões de reais, equivalente a 0,96% do PIB nacional. Em contrapartida a arrecadação fiscal total pela venda de produtos de tabaco e derivados alcançou em 2015, o valor aproximado a 13 bilhões de reais, um montante que cobre somente 33% dos custos diretos causados pelo tabagismo ao sistema de saúde e que representa apenas 23% do gasto total atribuível ao tabagismo (Pinto et al, 2017). Estes dados foram lançados no Dia Mundial sem Tabaco 2017
Nova publicação do Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária (IECS) em 2020 estimou que no Brasil as doenças causadas pelo tabagismo custam R$ 125.148 bilhões ao ano (Pinto et al, 2020), ou seja, o equivalente a 23% do que o país gastou em 2020 para enfrentar a pandemia da Covid-19 (R$ 524 bilhões) (Tesouro Nacional Transparente, 2020). Esses custos são ainda maiores pois não incluem os gastos com ações de prevenção e tratamento para cessação do tabagismo, nem de prevenção e mitigação dos danos sanitários, sociais e ambientais decorrentes da produção de tabaco e do mercado ilegal de tabaco.
No Dia Mundial sem Tabaco 2024, o Ministério da Saúde lançou o mais recente estudo em parceria com o Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária (IECS), que incluiu doenças relacionados ao tabagismo, representando custos médicos diretos ao ano de R$ 67,2 bilhões, o equivalente a 7% de todo o gasto com saúde, e R$ 45 bilhões em custos indiretos decorrentes da perda de produtividade devida à morte prematura e incapacidade e acrescentou os custos relacionados ao cuidador informal, que somam R$ 41,2 bilhões. Isto representa para o Brasil perdas anuais de R$ 153,5 bilhões, ou seja, 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB) (Pinto et al, 2024).(Figura 1)
Figura 1 - Custos diretos e indiretos do tabagismo
Fonte: IECS,2024
Dados de 2009 já indicavam que os custos atribuíveis ao tabagismo seriam responsáveis por perdas de US$ 500 bilhões ao ano devido à redução da produtividade, adoecimento e mortes prematuras no mundo (Shafey et al, 2009).
Nos países desenvolvidos, estima-se que o custo anual da assistência médica às doenças tabaco-relacionadas alcance de 6% a 15% do custo total do setor saúde (World Bank, 1999). No entanto, não é possível extrapolar essas proporções para os países em desenvolvimento devido às especificidades dos sistemas de saúde e ao estágio da epidemia do tabagismo. O quadro 1 apresenta alguns estudos realizados em países desenvolvidos e em desenvolvimento, indicando a magnitude dessa epidemia, sendo que alguns estimam custos associados à assistência médica e outros incorporam custos indiretos associado à perda de produtividade.
Quadro 1 - Custos associados ao tabagismo
Fonte / Ano publicação | País | Ano de referência | Custos |
---|---|---|---|
Centers for Disease Control and Prevention, 2014; Xu et al, 2014 | EUA | 2014 | USD 170 bilhões (diretos) + USD 156 bilhões (indiretos) |
Yang et al, 2011 | China | 2008 | USD 28,9 bilhões |
John et al, 2009 | Índia | 2004 | USD 1,7 bilhões |
Neubauer et al, 2006 | Alemanha | 2003 | Euros 21 bilhões |
Bolin & Lindgren, 2007 | Suécia | 2001 | USD 804 milhões |
McGhee et al, 2006 | Hong Kong | 1998 | USD 688 milhões |
Ruff et al, 2000 | Alemanha | 1996 | Euros 16,6 bilhões |
Fonte: vide Referências Bibliográficas
De acordo com a publicação Tobacco Atlas em sua quinta edição (Ericksen et al, 2015), nos países de baixa renda os gastos públicos com políticas de controle do tabaco estão em torno de 68 milhões de dólares para combater um total de 4,3 milhões de mortes, enquanto os gastos públicos com outras enfermidades transmissíveis, como tuberculose, malária e AIDS, são muito mais elevados para enfrentar uma mortalidade significativamente menor. Estima também que a cada USD 6.36 (preço médio) gastos em uma embalagem com 20 cigarros, equivale a USD 35 gastos com doenças tabaco relacionadas.
A 6ª Sessão da Conferência dos Estados Partes da Convenção-Quadro da OMS (COP6), realizada em outubro de 2014, reconheceu que os recursos financeiros governamentais destinados às políticas de controle do tabaco ainda são insuficientes para deter os danos sociais, econômicos e ambientais causados pelo consumo de produtos de tabaco. O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) declarou que o consumo de produtos de tabaco custa anualmente de 1 a 2% do Produto Interno Bruto em todo mundo.
A American Cancer Society estima também que a cada USD 6.36 (preço médio) gastos em uma embalagem com 20 cigarros, equivale a USD 35 gastos com doenças tabaco relacionadas.
Referências Bibliográicas
Bolin K & Lindgren,B. 2007. Smoking, healthcare cost, and loss of productivity in Sweden 2001. Scandinavian Journal of Public Health.2007, 35(2):187-96
Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion. 2014. U.S. Department of Health and Human Services. Office on Smoking and Health.The Health Consequences of Smoking—50 Years of Progress: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. https://www.hhs.gov/sites/default/files/consequences-smoking-exec-summary.pdf
Ericksen,M., Mackay,J., Schluger,N., Gomeshtapeh, F. & Drope, J. 2015. The Tobacco Atlas. 5th Edition. American Cancer Society. World Lung Foundation, Page 76.
John, R.M, Sung H-U, Max W. 2009. Economic cost of tobacco use in India, 2004. Tobacco Control 2009, 18: 138-43
Mcghee, S.M, Ho, L.M, Lapsley H.M, Chau J, Cheung W.L, Ho SY, Pow M. & Lam TM. 2006. Cost of tobacco-related diseases including passive. in Hong Kong. Tobacco Control. 15; 125-130
Neubauer S, Welte R, Beiche A, Koenig H-H, Buesch K, Leidl R. 2006. Mortality, morbidity and costs attributable to smoking in Germany: update and a 10-year comparison. Tobacco Control. 15:464-471.
Pinto M, Pichon-Riviere A. 2011. Custo do Tabagismo para o Brasil, ACTbr. Disponível em: http://www.actbr.org.br/uploads/conteudo/721_Relatorio_Carga_do_tabagismo_Brasil.pdf
Pinto M, Bardach A, Palacios A, Biz AN, Alcaraz A, Rodríguez B, Augustovski F & Pichon-Riviere A. 2017. Carga de doença atribuível ao uso do tabaco no Brasil e potencial impacto do aumento de preços por meio de impostos. Documento técnico IECS N° 21. Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria, Buenos Aires, Argentina. Maio de 2017. Disponível em: www.iecs.org.ar/tabaco
Pinto M, Pichon-Riviere A & Bardach A. 2015. Estimativa da Carga do Tabagismo no Brasil: mortalidade, morbidade e custos. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(6): 1286-1297, jun, 2015. Disponível em: Estimativa da Carga do Tabagismo no Brasil 2015
Pinto M, Barros L, Bardach A, Casarini A, Rodríguez Cairoli F, Espinola N, Balan D, Perelli L, Comolli M, Augustovski F, Alcaraz A & Pichon-Riviere A. Dez. 2020. Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária. A importância de aumentar os impostos do tabaco na Brasil. Palacios A, Buenos Aires, Argentina. Disponível em: www.iecs.org.ar/tabaco
Pinto M, da Costa MG, Simões e Senna, KM, Barros, LB, Moraes, AC, Bardach, A, Rodríguez Cairoli F, Casarini, A, Augustovski F, Alcaraz A, Palacios A & Pichon-Riviere A. Maio 2024. Carga da doença e econômica atribuível ao tabagismo no Brasil e potencial impacto do aumento de preços por meio de impostos.
Pinto M, Ugá M.A.D. 2010. Os custos de doenças tabaco-relacionadas para o Sistema Único de Saúde. Cad. Saúde Pública [online]. 2010, 2 (6): 1234-1245. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2010000600016
Ruff L.K, Volmer T, Nowak D. & Meyer A. 2000. The economic impact of smoking in Germany. European Respiratory Journal. 2000, 16 (3): 377-8
Shafey O, Ericksen M, Ross H & Mackay J. 2009. Tobacco Atlas. Third Edition. American Cancer Society; World Lung Foundation; 2009 https://www.afro.who.int/sites/default/files/2017-09/Chapter%2011.%20Costs%20to%20the%20economy.pdf
Tesouro Nacional Transparente. 2020. Monitoramento dos Gastos da União com Combate à COVID-19. Consultado em 08 de março de 2021. https://www.tesourotransparente.gov.br/visualizacao/painel-de-monitoramentos-dos-gastos-com-covid-19
World Bank. 1999. Curbing the Epidemic: Governments and the Economics of Tobacco Control. The World Bank; 1999
Xu X, Bishop EE, Kennedy SM, Simpson SA, Pechacek TF. 2014. Annual Healthcare Spending Attributable to Cigarette Smoking: An Update[PDF–157 KB]. American Journal of Preventive Medicine 2014;48(3):326–33
Yang L, Sung H-Y, Mao S. Hu T, Rao K. 2011. Economic costs attributable to smoking in China: update and an 8-year comparison, 2000-2008. Tobacco Control. doi:10.1136/tc.2010.042028