Cobertura do rastreamento em inquéritos nacionais
A cobertura do rastreamento no Brasil, ou seja, o quanto essa ação alcança todas as mulheres na faixa etária e periodicidade recomendadas, pode ser estimada por pesquisas nacionais, como a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), baseada em amostra representativa de todo o país, e o Vigitel Brasil, inquérito telefônico anual restrito às capitais e ao Distrito Federal. Ambas contemplam a população feminina brasileira e não apenas as usuárias do SUS. A cobertura dos exames realizados no SUS poderá ser mais bem conhecida quando o Sistema de Informação do Câncer (SISCAN) estiver plenamente implantado em todo o território nacional.
De acordo com o Vigitel, a cobertura do exame citopatológico do colo do útero nas capitais é alta e vem se mantendo perto de 80% na última década. Em 2020 e 2021, observa-se uma queda, provavelmente como repercussão dos anos anteriores atípicos em função da pandemia de Covid-19 (Figura 1). O acesso a serviços de saúde nas capitais tende a ser melhor, porém há que se considerar a possível superestimação desse dado em função de vieses inerentes a esse tipo de pesquisa relacionados à autodeclaração. As respostas autorreferidas podem estar sujeitas a viés de memória e podem variar de acordo com a compreensão da pergunta.
Figura 1. Proporção de mulheres de 25 a 64 anos que informaram a realização de exame citopatológico do colo do útero nos últimos três anos, nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. Vigitel, 2010 a 2021
Fonte: Ministério da Saúde. Vigitel Brasil [Anos 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 2 e 2021].
Os dados da PNS (IBGE, 2021) expressam uma maior diversidade regional, por abranger todos os estados e não apenas as capitais, além de não ser restrita a quem tem acesso a uma linha telefônica fixa. Conforme a edição de 2019, estima-se 81,3% de cobertura do exame citopatológico do colo do útero no Brasil, porém com diferenças regionais (Figura 2). De acordo com a PNS 2019, 81,3% das mulheres da faixa etária alvo realizaram o exame preventivo há menos de três anos da data da entrevista, porcentagem maior que o da PNS 2013, 78,7%. As regiões Sul (84,8%) e Sudeste (84,1%) apresentaram percentuais acima da média nacional, enquanto as regiões Norte (79,0%), Centro-Oeste (78,8%) e Nordeste (76,4%) situaram-se abaixo dessa média (IBGE, 2021).
Figura 2. Proporção de mulheres de 25 a 64 anos que fizeram o exame citopatológico do colo do útero nos últimos três anos, Brasil e Regiões. PNS, 2019
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
Na figura 3 é possível observar a proporção de mulheres que realizaram o exame citopatológico do colo do útero por unidades da federação, de acordo com a PNS 2019.
Figura 3. Proporção de mulheres de 25 a 64 anos que informaram ter realizado o exame citopatológico do colo do útero nos últimos três anos, Brasil e Unidades da Federação. PNS, 2019
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
Segundo a PNS 2019, 6,1% das mulheres de 25 a 64 anos de idade nunca fizeram o exame preventivo (IBGE, 2021). Na figura 4 é possível observar a proporção de mulheres que nunca realizaram o exame preventivo por unidade da federação.
Figura 4 - Proporção de mulheres de 25 a 64 anos que informaram nunca ter realizado o exame citopatológico do colo do útero, Brasil e Unidades da Federação. PNS, 2019
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
Segundo a PNS 2019, 6,1% das mulheres de 25 a 64 anos de idade nunca fizeram o exame preventivo (IBGE, 2021). A proporção de mulheres que não fazem o exame preventivo por não acharem necessário, 45,1%, é mais expressiva dentre os motivos de nunca terem feito o exame (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição das mulheres de 25 a 64 anos de idade, segundo o principal motivo de nunca ter feito exame preventivo no Brasil. PNS, 2019
Principal motivo de nunca ter feito exame preventivo | % |
---|---|
Não acha necessário | 45,10 |
Não foi orientada para fazer o exame | 14,80 |
Tem vergonha | 13,10 |
Nunca teve relações sexuais | 8,80 |
O serviço de saúde era distante, demorado ou com horário de funcionamento incompatível com o da mulher | 7,30 |
Outro | 5,20 |
Fez cirurgia de retirada do útero/histerectomia | 2,30 |
Tem dificuldades financeiras | 2,10 |
Está marcado, mas ainda não realizou | 1,40 |
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
O acesso a exames de rastreamento é ainda muito desigual quando analisado segundo nível de escolaridade. Também há diferenças nas análises por raça/cor, em especial para mulheres classificadas como pardas. De acordo com os dados da PNS 2019, a cobertura variou de 72% entre as mulheres sem instrução e com escolaridade fundamental incompleta a 90% entre aquelas com nível superior completo (Figura 5).
Figura 5. Proporção de mulheres de 25 a 64 anos de idade que realizaram o exame preventivo para câncer de colo de útero nos últimos 3 anos anteriores à pesquisa, por nível de instrução, Brasil e Regiões, 2019
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
Quanto à variável raça ou cor destaca-se o maior acesso entre a população branca ao exame em todo o país (Figura 6).
Figura 6. Proporção de mulheres de 25 a 64 anos de idade que realizaram o exame preventivo para câncer de colo de útero nos últimos 3 anos anteriores à pesquisa, por cor ou raça, Brasil – 2019
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
As desigualdades sociais são vistas igualmente na forma de gradiente quando se analisa a proporção de exame preventivo por faixa de rendimento (Figura 7).
Figura 7. Proporção de mulheres de 25 a 64 anos de idade que realizaram o exame preventivo para câncer de colo de útero nos últimos 3 anos anteriores à pesquisa, segundo o rendimento domiciliar per capita, Brasil - 2019
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
Referências
IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: ciclos de vida: Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2021. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101846 (abre em nova janela) Acesso em: 21 set 2021.
MIGOWSKI, A.; CORRÊA, F. Recomendações para detecção precoce de câncer durante a pandemia de covid-19 em 2021. Revista de APS, Juiz de Fora, v. 23, n.1, p.235-240, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/article/view/33510/22826 (abre em nova janela). Acesso em: 06 agosto 2021.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigitel Brasil. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. [Anos 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019].