Tabagismo e saúde da mulher
Historicamente, a mulher começou a fumar depois do homem. Mas, a partir principalmente da segunda metade do século XX, houve um incremento no número de mulheres fumantes. Essa tendência de crescimento do tabagismo feminino trouxe uma nova preocupação para a saúde pública, considerando os prejuízos à saúde da mulher e o aumento das doenças relacionadas ao tabaco.
No Brasil, a proporção de fumantes entre os homens e mulheres vêm diminuindo ao longo dos anos. No entanto, dados recentes, preocupantes, oriundos de pesquisas nacionais conduzidas junto aos adolescentes brasileiros, levantaram um sinal de alerta sobre o aumento da iniciação ao tabagismo, principalmente entre as meninas.
Segundo a OMS, o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas todos os anos e em 2020, 22,3% da população mundial era consumidora do tabaco e seus derivados, e destes, 7,8% eram mulheres (WHO, 2023). Elas, junto com os jovens, também são alvos das estratégias de marketing da indústria do tabaco. Esse “recrutamento” é necessário para substituir os atuais fumantes-consumidores que têm um risco aumentado de adoecer e morrer prematuramente devido às doenças causadas pelo uso do tabaco quando comparados aos não fumantes (Eriksen et al., 2018).
Somam-se a essa nova ameaça imposta pela indústria da nicotina, de uma falsa sensação de segurança dos efeitos na saúde das exposições ativa e passiva dos dispositivos eletrônicos para fumar, com adição de sabores e aromas suaves, principalmente para agradar às mulheres e jovens, e assim diminuir o gosto amargo e passar a impressão de que causa menos mal do que os cigarros convencionais (Seiler-Ramadas et al., 2021).
Além disso, com base em pesquisas realizadas em países de baixa e média renda, as mulheres têm maior probabilidade de serem afetadas pelo fardo de cuidar de membros da família com doenças relacionadas ao tabagismo, e o gasto com produtos de tabaco, interferem diretamente no poder de compra para itens da alimentação, saúde e educação, o que afeta negativamente a qualidade de vida (Petersen et al., 2016).
O tabagismo é um grave perigo para a saúde pois pode trazer sérios riscos e ocasionar inúmeras doenças como as cardiovasculares, respiratórias, e também, aumentar a incidência de diversos tipos de câncer como laringe e pulmão (Baron et al., 2022). Para as mulheres, além desses riscos, outros problemas podem surgir, especialmente para aquelas em idade fértil, já que o tabagismo pode prejudicar sua saúde reprodutiva e ocasionar complicações em sua reserva ovariana podendo causar infertilidade (Hajek et al., 2022).
Para as mulheres gestantes, o consumo do tabaco causa diversos malefícios, tanto para ela quanto para o bebê, e pode ter sérias consequências como: parto prematuro, nascer com baixo peso, malformações congênitas e síndrome da morte súbita ao nascer (Virk et al., 2024).
As visitas pré-natais proporcionam oportunidades para que sejam dispensados alguns minutos sobre o tema tabagismo e suas consequências, e assim realizar intervenções para interrupção do comportamento de fumar. Uma gestante que não para de fumar e/ou na amamentação, provavelmente o recém-nascido irá crescer em um ambiente de maior aceitação social do comportamento de fumar, e, uma maior probabilidade de iniciação ao tabagismo na adolescência.
Nesse sentido, devido aos sérios problemas e doenças que o tabagismo pode causar, uma vasta gama de medidas e políticas foram aprovadas e implementadas no Brasil e no mundo para reduzir as taxas de tabagismo, e assim, foram implantados espaços públicos livres de fumo, aumento dos impostos sobre os produtos derivados do tabaco, restrições dos pontos de vendas, dentre outras.
São muitos os aspectos que envolvem o uso do tabaco por mulheres que se configuram como desafios para a saúde pública, exigindo medidas diversas que passam necessariamente por uma construção social compartilhada de conhecimentos, atuação intersetorial, integrada e habilidades para o enfrentamento do problema.
Referências
BARON, J. A. et al. Cigarette smoking and estrogen-related cancer. In Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention, v. 30, n. 8, p. 1462–1471, 2022. https://doi.org/10.1158/1055-9965.EPI-20-1803.
ERIKSEN, M.; MACKAY, J.; ROSS, H. The Tobacco Atlas. Available: < http://www.tobaccoatlas.org> Access in: 12 jul. 2018.
HAJEK, P. et al. Electronic cigarettes versus nicotine patches for smoking cessation in pregnancy: a randomized controlled trial. Nature Medicine, v. 28, n. 5, p.958–964, 2022. https://doi.org/10.1038/s41591-022-01808-0.
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PETERSEN, A. B. et al. Factors associated with secondhand tobacco smoke in the home: An exploratory cross-sectional study among women in Aleta Wondo, Ethiopia. BMC Public Health, v. 16, n. 1, 2016. https://doi.org/10.1186/s12889-016-3588-6.
SEILER-RAMADAS, R. et al. Health effects of electronic cigarette (ecigarette) use on organ systems and its implications for public health. In Wiener Klinische Wochenschrift, v. 133, n. 19–20, p. 1020–1027, 2021. https://doi.org/10.1007/s00508-020-01711-z.
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