Versão para profissionais de saúde
-
-
Descrição
Os tumores gonadais e extragonadais de células germinativas (TCGs) são raros na infância, correspondem a aproximadamente 3% dos tumores malignos diagnosticados em crianças e adolescentes com menos de 15 anos. A incidência dos sítios extragonadais excede a dos gonadais em pacientes menores de 15 anos de idade. Porém, na população entre 15 a 19 anos, os tumores ovarianos e testiculares são mais frequentemente encontrados e representam 14% dos tumores malignos nessa faixa etária.
Os tumores gonadais estão localizados nos ovários e nos testículos e os extragonadais, em geral, são sacrococcígeos, retroperitoneais, mediastinais, de sistema nervoso central e outras localizações mais raras.
Os TCG se originam das células germinativas primordiais que são pluripotentes e dão origem aos tecidos embrionários e extraembrionários. Quando os precursores permanecem indiferenciados, assemelhando-se a células germinativas primitivas, são conhecidos como seminomas (testículo), disgerminomas (ovário) e germinomas (SNC). Os TCGs que exibem diferenciação para tecidos somáticos das linhagens endodérmicas, mesodérmicas e / ou ectodérmicas são conhecidos como teratomas.Finalmente, as células precursoras do TCG podem se diferenciar para se assemelhar a estruturas extraembrionárias, como o saco vitelino (tumor do seio endodérmico) ou placenta (coriocarcinoma). Como é um grupo heterogêneo de tumores, é difícil generalizar o comportamento. Os casos devem ser avaliados individualmente, levando-se em consideração a idade do paciente ao diagnóstico, a localização do tumor, sua histologia e os níveis séricos dos marcadores biológicos.
Os principais marcadores biológicos dos TCG são a alfa-fetoproteína (AFP), a fração beta da gonadotrofina coriônica (BHCG) e a desidrogenase lática (DHL). Os tumores com elementos do saco vitelínico produzem AFP e os derivados do tecido trofoblástico a BHCG. Os teratomas maduros e os germinomas não secretam AFP ou BHCG. Esses marcadores são os mais sensíveis parâmetros para controle da atividade tumoral.
-
Prevenção e Fatores de Risco
As causas dos TCGs são desconhecidas. Apresenta como fator de risco para TCG de testículo a criptorquidia que deve ser vigiada com ultrassom, pois a incidência de câncer é 20 a 40 vezes maior nesses casos. O diagnóstico precoce é fundamental.
-
Detecção precoce
As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de pré-cancer e câncer e, a partir daí encaminhamento dos pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento) (WHO, 2007).
Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico no qual o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade e da incidência, nos casos de existência de lesões precursoras. Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) (INCA, 2021).
Não há evidência científica de que o rastreamento dos cânceres infantojuvenis traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado (WHO, 2025).
Diagnóstico Precoce
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de ter a população e os profissionais aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como o acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde.
O diagnóstico precoce dos tumores de células germinativas deve ser buscado por meio da investigação dos seguintes sinais e sintomas mais comuns (OPAS, 2025):
Ovários
• Massa abdominal palpável com sintomas de abdome agudo ou anúria e poliúria (suspeita de torção ovariana) ou sem sintomas abdômen agudo
• Dor abdominal inexplicável
• Constipação persistente
• Corrimento vaginal com sangue
Testículos
• Aumento testicular progressivo ou presença de massa testicular consistência dura, sem sinais inflamatórios
• Dor escrotal
Referências
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Detecção precoce do câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2021. Disponível em: https://antigo.inca.gov.br/publicacoes/livros/deteccao-precoce-do-cancer. Acesso em: 29 maio. 2025.
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Diagnóstico precoz del cáncer en niños, niñas y adolescentes: Guía interactiva de referencia rápida. 2025. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/64343/9789275329597_spa.pdf?sequence=1&isAllowed=y
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254500
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Cancer in children. 2025. Disponível em:
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer-in-children
-
Diagnóstico
A sintomatologia de apresentação vai variar de acordo com o sítio primário: Tumores sacrococcígeos se apresentam no nascimento, com volumosas massas exofíticas; TCGs testiculares, com tumefação indolor em um dos testículos; TCG ovariano, com dor, distensão, desconforto abdominal e massa pélvica; TCG de mediastino, com sintomas de obstrução de vias aéreas. O diagnóstico de tumor germinativo deve ser considerado na presença de qualquer tumor de linha média. Em 20% dos pacientes são evidenciadas metástases a distância do local de diagnóstico, geralmente para o pulmão.
O diagnóstico se baseia no quadro clínico, na presença de marcadores tumorais (AFP e BHCG) e em exames de imagem. Os exames radiológicos são direcionados pela localização do tumor primário e avaliação de doença metastática.
Os marcadores tumorais séricos auxiliam no diagnóstico dos TCGs, e também na detecção de doença residual ou de progressão. A taxa de declínio foi demonstrada como um marcador precoce sensível de resposta à terapia.
A ultrassonografia é utilizada para a avaliação inicial de pacientes com massas abdominais ou pélvicas, diferencia as massas císticas das sólidas. A presença de massa ovariana sólida levanta a suspeita de malignidade. A tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RNM) do abdome e da pelve é útil para identificar o local de origem, a extensão do tumor, a presença de calcificações ou gordura e a doença metastática.
O estudo da extensão do tumor é importante, pois a terapia e o prognóstico vão depender dessa avaliação. O estadiamento também deve incluir uma TC de tórax. As metástases no osso, medula óssea ou cérebro são incomuns, e a investigação desses locais é recomendada apenas em pacientes com indicações clínicas.
-
Tratamento
É necessário um plano de tratamento individualizado, com abordagem multimodal e multidisciplinar e que incorpore o local de origem, idade, tipo histológico, ressecabilidade e estadiamento.
A cirurgia é a base do tratamento e pode ser a única forma de tratar tumores benignos ou malignos em fases iniciais. Em alguns casos, a quimioterapia neoadjuvante torna-se uma abordagem inicial preferida em tumores volumosos, pois pode reduzir a morbidade cirúrgica. A quimioterapia também pode ser utilizada como complementação do tratamento cirúrgico.
Como a maioria das crianças e adolescentes com TCG será curada de sua doença — em decorrência dos avanços no diagnóstico, tratamento e melhora nas terapias de suporte —, precisamos estar atentos às toxicidades agudas e aos efeitos tardios das intervenções terapêuticas.
-
Estudos clínicos abertos
Confira os estudos clínicos abertos para inclusão de pacientes no INCA.
-
Descrição