Versão para profissionais de saúde
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Prevenção e Fatores de Risco
O excesso de gordura corporal (sobrepeso e a obesidade) têm sido associados ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, dentre eles o de endométrio. O excesso de gordura corporal promove aumento nos níveis de estrogênio biodisponíveis que, quando não contrabalançados pela progesterona, aumentam a atividade mitótica do tecido endometrial e, portanto, promovem a carcinogênese. Além disso, níveis elevados de insulina associados ao excesso de gordura corporal aumentam o crescimento do tumor endometrial, seja diretamente pela ligação à insulina ou aos receptores do IGF-I, ou indiretamente, pela inibição da síntese da globulina de ligação a hormônios sexuais, aumentando assim a biodisponibilidade do estrogênio. Outra alteração importante promovida pelo excesso de gordura é o estado crônico de inflamação ao qual o organismo é submetido. Tal condição também tem sido especificamente ligada ao desenvolvimento do câncer endometrial.
Consumo frequente de alimentos com alta carga glicêmica aumenta as chances de desenvolver câncer de endométrio. Os principais mecanismos que podem explicar essa associação estão relacionados aos níveis elevados de glicose e insulina pós-prandial promovidos pelo consumo desses alimentos, e que promovem o desenvolvimento de resistência à insulina, diabetes e obesidade. Todas essas alterações são fatores que estão associados ao desenvolvimento de câncer endometrial.
Por outro lado, a atividade física reduz as chances de desenvolver câncer de endométrio. Ser fisicamente ativo ajuda a manter o peso corporal adequado, com consequente redução dos níveis de estrogênio circulante, melhora da resistência à insulina e redução da inflamação. Todas essas alterações são associadas ao desenvolvimento do câncer de endométrio.
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Detecção precoce
As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de pré-cancer e câncer e, a partir daí encaminhamento dos pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento) (INCA, 2021).
Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico no qual o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade e da incidência, nos casos de existência de lesões precursoras. . Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) (INCA, 2021).
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer do corpo do útero traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado (NCI, 2025).
Diagnóstico Precoce
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de ter a população e os profissionais aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como o acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde.
O diagnóstico precoce do câncer do corpo do útero deve ser buscado com a investigação dos seguintes sinais e sintomas mais comuns (NICE, 2025; NCI, 2025):
- Sangramento vaginal em mulheres que já entraram na menopausa
- Dor pélvica
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Cadernos de Atenção Primária, n. 29. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_atencao_primaria_29_rastreamento.pdf
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Detecção precoce do câncer. – Rio de Janeiro : INCA, 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document/deteccao-precoce-do-cancer_0.pdf . Acesso em: 30 jun. 2025.
NATIONAL HEALTH SERVICE (NCI). Uterine Cancer—Health Professional Version. Last updated: 10 april 2025 Disponível em: https://www.cancer.gov/types/uterine/hp. Acesso em: 30 jun 2025.
NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE. NICE Guideline Suspected cancer: recognition and referral. Published: 23 June 2015. Last updated: May 2025 Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/ng12. Acesso em: 17 Jul 2023.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254500. Acesso em: 30 jun 2025.
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Sinais e sintomas
O principal sintoma do câncer de endométrio é o sangramento vaginal anormal:
- Sangramento intermenstrual;
- Menorragia;
- Sangramento pós-menopausa.
Outros sintomas incluem leucorreia anormal, dor no hipogástrio, aumento do volume abdominal e emagrecimento, geralmente presentes em estágios avançados.
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Diagnóstico
Os seguintes exames são utilizados para a detecção e diagnóstico:
- Anamnese e exame físico;
- Ultrassonografia transvaginal;
- Histeroscopia;
- Biópsia endometrial (realizada por curetagem ou videohisteroscopia).
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Classificação e estadiamento
O tipo mais comum de câncer de endométrio é o carcinoma endometrióide, originado de hiperplasia endometrial atípica. Há variantes mais agressivas, como carcinoma seroso e de células claras.
O estadiamento é cirúrgico e segue o sistema da FIGO atualizado:
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) atualizou em 2023 o sistema de estadiamento do câncer de endométrio, incorporando avanços significativos na biologia molecular da doença. Essa revisão reflete uma compreensão mais profunda dos diversos comportamentos biológicos dos carcinomas endometriais e suas implicações prognósticas.
Principais Atualizações do Estadiamento FIGO 2023:
Classificação Molecular:
- POLEmut: Carcinomas com mutações no gene POLE, associados a um prognóstico favorável.
- MMRd: Tumores com deficiência nos mecanismos de reparo de incompatibilidades, apresentando prognóstico intermediário.
- p53abn: Carcinomas com anomalias no gene p53, relacionados a um prognóstico desfavorável.
- NSMP: Perfil molecular não específico, com prognóstico intermediário.
Integração de Fatores Histopatológicos e Moleculares:
- O novo sistema considera não apenas a extensão anatômica do tumor, mas também características histológicas, como tipo histológico, grau tumoral, invasão do miométrio e invasão linfovascular, além dos perfis moleculares mencionados.
Subdivisões Específicas nos Estágios:
Estágio I:
- IA1: Tumor não agressivo limitado a um pólipo ou confinado ao endométrio.
- IA2: Tumor não agressivo com invasão de menos de 50% do miométrio, sem ou com invasão linfovascular focal.
- IA3: Carcinoma endometrioide de baixo grau limitado ao útero com envolvimento simultâneo de ovário de baixo grau.
- IB: Tumor não agressivo com invasão de 50% ou mais do miométrio, sem invasão linfovascular ou com invasão focal.
- IC: Tumores agressivos (seroso, células claras, carcinosarcomas, entre outros) sem invasão miometrial.
Estágio II:
- IIA: Tumor não agressivo com invasão do estroma cervical.
- IIB: Tumor não agressivo com invasão linfovascular substancial.
- IIC: Tumores agressivos com qualquer invasão miometrial.
Estágio III:
- IIIA: Invasão da serosa uterina e/ou anexos.
- IIIB: Invasão da vagina, paramétrios ou metástases peritoneais pélvicas.
- IIIC: Metástases linfonodais pélvicas (IIIC1) e/ou para-aórticas (IIIC2), com distinção entre micrometástases (≤2 mm) e macrometástases (>2 mm).
Estágio IV:
- IVA: Invasão da mucosa da bexiga e/ou intestino.
- IVB: Metástases peritoneais abdominais além da pelve.
- IVC: Metástases à distância.
Notação Molecular no Estadiamento:
Quando a classificação molecular é conhecida, é recomendada sua inclusão no estadiamento, utilizando a notação "m" seguida do respectivo perfil molecular. Por exemplo:
- IAmPOLEmut para tumores POLEmut no estágio IA.
- IICmp53abn para tumores p53abn no estágio IIC.
Essas atualizações visam proporcionar uma classificação mais precisa, refletindo melhor o comportamento biológico dos tumores e auxiliando na definição de estratégias terapêuticas personalizadas.
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Tratamento
- Cirurgia: Histerectomia total, salpingooforectomia bilateral e avaliação linfonodal (linfonodo sentinela ou linfadenectomia sistemática).
- Radioterapia: Braquiterapia ou teleterapia para casos de risco intermediário/alto.
- Quimioterapia: Indicada para doença avançada ou histologias agressivas.
- Hormonioterapia: Opcionais em tumores indolentes.
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Acompanhamento pós-tratamento
A vigilância envolve consultas a cada 3-6 meses nos primeiros 2-3 anos e, posteriormente, a cada 6-12 meses, conforme risco de recorrência.
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Estudos clínicos abertos
Confira os estudos clínicos abertos para inclusão de pacientes no INCA.
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Prevenção e Fatores de Risco